(FOLHAPRESS) – A nova onda de horror nunca existiu do ponto de vista que importa, o da qualidade cinematográfica. Nem a propagada grande fase, ou coisa que o valha. O horror é um dos gêneros mais prolíficos desde os anos 1960. Não há significativa melhoria nos últimos dez ou 15 anos para se falar em tendências, a não ser em variações tipo “body horror” ou “pós-horror”, mas nada que signifique aumento de qualidade.

O número de grandes filmes é bem pequeno, menor que nos anos 1960 ou 1970. É certo que há bons filmes de horror no cinema contemporâneo, mas a maior parte do que é lançado em nosso circuito ou nos festivais varia do medíocre ao razoável.

Um dos que estão acima da média é “Fale Comigo”, de 2022, que revelou os gêmeos australianos Danny Philippou e Michael Philippou. Eles são conhecidos como RackaRacka, e considerados novas promessas do horror internacional.

“Faça Ela Voltar” é o segundo longa dos irmãos, novamente com título imperativo. Desta vez, as referências parecem ser, entre muitas outras, “Re-Animator”, clássico de 1985 dirigido por Stuart Gordon, e “Cemitério Maldito”, 1989, de Mary Lambert, com uma porção maior de feitiçaria.

Os irmãos Andy e Piper vivem com o pai, até que este morre misteriosamente durante o banho. Eles são adotados por Laura, personagem um tanto estranha, brilhantemente interpretada por Sally Hawkins.

Andy, vivido pelo inglês Billy Barratt, está prestes a fazer 18 anos e garantir sua independência e com isso a possibilidade de cuidar de Piper, uma pré-adolescente com deficiência visual, papel de Sora Wong.

Laura tem então poucos meses para colocar em prática seu plano diabólico para ressuscitar Cathy, sua filha, também deficiente visual, morta quando tinha mais ou menos a idade de Piper, na piscina de sua casa.

Oliver é o estranhíssimo filho adotivo de Laura. O que terá acontecido com ele? Logo mais descobriremos que era um menino desaparecido que foi vítima dos feitiços de Laura, e agora funciona como uma espécie de veículo para a ressurreição de Cathy na mesma piscina em que ela se afogou.

Na trama, há ainda uma espécie de transe causado por círculos de diversos tamanhos, a questão do mau comportamento que faz com que Andy seja sempre vítima de certa desconfiança, e o uso da água como um líquido amniótico que protege os bebês dentro do útero, ou seja, a tentativa de reprodução de um útero numa piscina.

O detalhe é que a piscina precisa estar cheia de água da chuva, e a chuva rima com a água do chuveiro, motivo de trauma para o perturbado Andy, que era frequentemente surrado pelo pai. São símbolos que os diretores inserem como truques para ludibriar o espectador.

A questão da maternidade é o cerne do enredo, como também a ideia de substituição do corpo para manter o espírito vivo, o que leva o filme naturalmente para o campo do horror, que vai se insinuando até dominar a trama, mais do que a superação do luto.

Tão importante quanto a ideia de maternidade é uma ideia a ela subordinada, a de cuidar, aqui expandida para o cuidado com as pessoas amadas, como uma mãe cuida de seus filhos ou um irmão mais velho cuida do mais novo.

Os irmãos Philippou seguem uma linha semelhante à do recente “A Hora do Mal”: uma certa estética retrô, presente nas fitas de videocassete que convivem numa boa com os smartphones, além de um monte de pistas para embaralhar o espectador, algumas delas não levam a lugar algum.

Bom exemplo disso está na fala de Laura de que teria matado o pai de Andy e Piper enquanto ele estava no chuveiro, fala que ela alterou na pronta repetição e que não teve mais consequências na trama, mas sugere uma armação para que ela fique com Piper e coloque seu plano em operação.

Existem outras pistas: o canibalismo, o bullying, a gravidez infantil, os cabelos cortados. Nada disso é devidamente explicado para além de um entendimento bem básico da trama.

Ainda bem. Uma das coisas mais irritantes no horror contemporâneo é que as explicações costumam afundar os filmes, que por sua vez resistem bem enquanto tudo é mistério para o espectador.

Ao pedir para que o público preencha algumas lacunas, “Faça Ela Voltar”, mais que “A Hora do Mal”, confia na capacidade de cada um de nós nessa missão e ao mesmo tempo não nos atola com psicologia e sociologia simplórias. O mistério é sempre mais interessante que a interpretação.

FAÇA ELA VOLTAR

Avaliação Bom

Quando Estreia nesta qui. (21) nos cinemas

Classificação 18 anos

Elenco Sally Hawkins, Billy Barratt, Sora Wong

Produção Austrália, 2025

Direção Danny Philippou e Michael Philippou