BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vai começar, nos próximos dias, negociações com empresas interessadas em contratar financiamentos para projetos de minerais críticos no Brasil. A partir de uma lista de 124 interessados em um edital lançado em janeiro, economistas do banco enviaram, nas últimas semanas, ofertas a 56 deles, que juntos somam R$ 46 bilhões em planos de investimentos.
Dentre os selecionados, a maior parte (R$ 20 bilhões) se refere a projetos de lítio e terras raras minerais cruciais para a fabricação de baterias e ímãs, respectivamente. Outros R$ 5 bilhões são de projetos de grafite e mais R$ 5 bilhões de silício. O restante está diversificado em outros minerais, como níquel, cobre, silício e titânio.
Minerais críticos têm esse nome porque são essenciais para o desenvolvimento de tecnologias de defesa e descarbonização e estão concentrados, geralmente, em poucos países, além de apresentarem dificuldades no refino. O Brasil possui um dos maiores depósitos desse minerais, muitos ainda sem valor econômico.
O Brasil, no entanto, tem dificuldades de avançar na cadeia desses minerais, principalmente no refino hoje, bastante concentrado na China. Por isso, o governo federal delegou ao BNDES a função de fomentar esse setor no país.
Para ter acesso ao financiamento, por exemplo, o banco cobra que a empresa esteja interessada em transformar o mineral extraído, ao contrário do que hoje as mineradoras em operação no país tendem a fazer. A Sigma Lithium e a Serra Verde, por exemplo, maiores produtoras de lítio e terras raras do Brasil, respectivamente, param na etapa de concentração do mineral, um processo que aumenta o teor da rocha extraída.
De acordo com José Luis Gordon, diretor do BNDES responsável pelo edital, entre as opções oferecidas às empresas estão créditos, reembolsáveis ou não, e equities quando o banco se torna acionista da companhia. Os empréstimos, segundo ele, podem estar ligados a instrumentos já existentes do banco, como o Fundo Clima, ou a fundos ligados à Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).
Inicialmente, ainda em janeiro, o BNDES e a Finep anunciaram que os financiamentos chegariam a R$ 5 bilhões ao todo, mas à Folha Gordon disse que o valor pode ser maior. “Em algumas empresas a gente vai entrar com mais e em outras com menos, mas a nossa ideia é apoiar o máximo possível projetos ligados à transformação mineral”, afirmou.
A possibilidade de aumentar o valor investido é importante, porque projetos de transformação mineral tendem a ser caríssimos.
A reportagem apurou com executivos de empresas interessadas em iniciar projetos de terras raras no país que uma refinaria capaz de separar esses minerais custa entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões para ser construída. Já uma planta de carbonato e hidróxido de lítio matéria-prima para as baterias de carros elétricos custaria mais de US$ 1 bilhão, por exemplo.
Até por isso, mesmo se o banco aumentar o valor financiado, é provável que o BNDES tenha que descartar alguns dos 56 projetos ao longo do caminho para conseguir focar poucos.
Hoje, a instituição tem limites internos de financiamento por empresa a partir de alguns fundos. O Fundo Clima, por exemplo, restringe o crédito a R$ 500 milhões anuais por grupo econômico. Já o fundo de inovação do banco é limitado a R$ 300 milhões.
“Às vezes a empresa pode dividir o projeto em vários anos”, diz Gordon. “Uma refinaria de R$ 1 bilhão, por exemplo, pode fazer uma parte do financiamento esse ano e outra no ano que vem”. Segundo ele, o banco também sugeriu às empresas a mistura de financiamentos.
Ainda assim, algumas empresas interessadas terão dificuldade. Isso porque, dos R$ 46 bilhões em projetos, R$ 31 bilhões são de mineradoras conhecidas no setor como junior companies essas empresas, geralmente, têm apenas projetos e direitos minerários, sem atividades em operação. Sem receitas, portanto, essas companhias têm dificuldades de conseguir cartas fianças com bancos privados, o que pode travar os empréstimos com o BNDES, que exige garantias de que terá retorno.
Além disso, um executivo de uma dessas pequenas mineradoras disse à Folha que a proposta que sua empresa recebeu do BNDES é vaga, sem detalhamento do tamanho dos recursos que o banco está disposto a oferecer. Para essas empresas, aponta, é mais provável que os recursos venham de um fundo do BNDES criado com a Vale no ano passado.
Gordon, do BNDES, afirma que os primeiros financiamentos do novo edital devem ser aprovados para empresas de médio a grande porte. “Essas são empresas que têm garantia e estrutura financeira, já as demais são ações de maior risco”, afirma. “Por isso nós também podemos juntar essas empresas que têm projetos parecidos para trabalhar em conjunto.” Ele estima que o primeiro financiamento será aprovado no início do ano que vem.
À reportagem, no entanto, o executivo de uma empresa de grande porte que participou do edital disse ter ficado decepcionado com as ofertas do BNDES. Segundo ele, a proposta do banco apenas reúne financiamentos já existentes da instituição, sendo todos reembolsáveis. Para esse executivo, BNDES e Finep precisarão fazer mais para atrair ao menos uma fatia da cadeia de transformação mineral para o país.