SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Três destróieres americanos da classe Arleigh Burke, armados com sistemas antimíssil Aegis e mísseis de ataque, devem se aproximar da costa da Venezuela nesta semana como parte de um esforço para combater os cartéis de drogas da América Latina, segundo autoridades dos Estados Unidos mencionadas pela agência de notícias Reuters.
Em paralelo à movimentação, a porta-voz do governo americano, Karoline Leavitt, afirmou nesta terça-feira (19) que o país usará “toda a força” contra o regime do ditador venezuelano, Nicolás Maduro.
“O presidente [Donald Trump] está preparado para usar toda a força americana com o objetivo de impedir que as drogas inundem nosso país, além de levar os responsáveis à Justiça. O regime de Maduro não é o governo legítimo é um cartel narcoterrorista”, afirmou ela.
No fim da última semana, a imprensa americana já havia informado que os EUA deslocariam mais de 4.000 fuzileiros navais e marinheiros para águas próximas à América Latina e ao Caribe.
Uma autoridade ouvida pela Reuters sob a condição de anonimato confirmou o número e detalhou que se trata de um processo que deve se desdobrar por vários meses. Segundo o funcionário, o plano é que os militares atuem tanto em espaços aéreos quanto em águas internacionais.
Logo no começo de seu mandato, em fevereiro, Trump classificou o cartel de Sinaloa, do México, e o grupo Tren de Aragua, da Venezuela, de organizações terroristas estrangeiras. O governo ainda prometeu intensificar a fiscalização migratória contra supostos integrantes das gangues.
A designação é tradicionalmente reservada a organizações que usam a violência para fins políticos, caso da Al-Qaeda e do Estado Islâmico. O governo Trump argumenta, no entanto, que as operações internacionais dos grupos da América Latina incluindo tráfico de drogas, contrabando de migrantes e campanhas violentas para expandir territórios justificam o rótulo.
No início deste mês, apoiado também nessa classificação, Trump assinou de forma sigilosa uma diretriz que autoriza o Pentágono a empregar militares em ações contra cartéis de drogas latino-americanos, segundo autoridades próximas às discussões ouvidas pelo jornal The New York Times.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou em resposta que militares americanos não entrarão em território mexicano e que não há risco de intervenção dos EUA em seu país.
As ações desta semana aumentaram as tensões na relação entre a Venezuela e os EUA. Ainda nesta terça, o regime venezuelano anunciou a suspensão e proibição de atividades relacionadas a aeronaves pilotadas e não pilotadas para “salvaguardar a segurança” do país.
A medida deve valer por 30 dias prorrogáveis posteriormente, e inclui o uso de drones. Maduro teve um discurso interrompido em 2018 após drones explodirem próximo ao local do evento. À época, acusou os EUA e a Colômbia, sem provas, de serem mandantes do que classificou de atentado.
Além disso, na segunda (18), Maduro anunciou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos em resposta ao que chamou de ameaças dos americanos contra o seu país.
“Vou ativar nesta semana um plano especial para garantir a cobertura, com mais de 4,5 milhões de milicianos, de todo o território nacional. Milícias preparadas, ativadas e armadas”, anunciou em ato transmitido pela TV ao ordenar tarefas diante da “renovação das ameaças” dos EUA. Ele não deu detalhes de como faria a mobilização.
No início do mês, o governo de Donald Trump também anunciou que dobrou de US$ 25 milhões para US$ 50 milhões (R$ 273,1 milhões) a recompensa por informações que levem à prisão de Maduro. Washington acusa o líder chavista de atuar como um dos principais narcotraficantes do mundo e de representar uma ameaça à segurança dos EUA.
Ainda nesta terça, em mais uma rusga na relação bilateral, o regime venezuelano afirmou que 66 crianças continuam sequestradas nos EUA após serem separadas de seus pais antes dos processos de deportação.
Caracas exige que o governo Trump entregue os menores às autoridades venezuelanas para que retornem ao país com suas famílias. “Temos 66 crianças sequestradas nos EUA. É um número que aumenta a cada dia. É muito preocupante”, disse Camila Fabri, presidente do plano governamental “Retorno à Pátria”, lançado em 2018 por Maduro e que incentiva o retorno voluntário de migrantes.
“É uma política cruel e desumana”, acrescentou Fabri, esposa de Alex Saab, empresário colombiano aliado de Maduro que foi libertado pelos EUA em 2023 como resultado de uma troca de prisioneiros entre Caracas e Washington.
“Vamos trazer de volta todas as 66 crianças”, prometeu ela, acompanhada de um grupo de mães que leram uma carta dedicada à primeira-dama americana, Melania Trump, pedindo-lhe que interceda pelos menores colocados em lares adotivos.