SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve alta nesta terça-feira (19) com os investidores seguindo de olho nas incertezas geopolíticas e no impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos, com a perspectiva para a política monetária do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) também no radar.
Às 9h05, a moeda norte-americana subia 0,11%, cotada a R$ 5,441. Na segunda-feira (18), o dólar fechou em alta de 0,63%, cotado a R$ 5,433, com os investidores repercutindo a reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o da Ucrânia, Volodimir Zelenski.
O movimento da moeda acompanhou o cenário internacional. O índice DXY, que compara a moeda em relação a uma cesta de seis divisas fortes, apresentou alta de 0,25%, a 98.111 pontos durante o dia.
A Bolsa também teve forte alta de 0,71%, a 137.321 pontos. O desempenho do Ibovespa seguiu a valorização da Raízen após notícia de que a Petrobras cogita investir na empresa.
Nesta segunda, Trump recebeu o presidente ucraniano para uma nova visita à Casa Branca, que contou com a presença de seis líderes europeus Friedrich Merz (Alemanha), Emmanuel Macron (França), Giorgia Meloni (Itália), entre eles.
“Nós vamos parar essa guerra. A guerra vai acabar, esse senhor [Zelenski] quer, Vladimir Putin quer”, afirmou o republicano na abertura do encontro.
Trump e Zelenski não entraram, em público, nas questões complexas à frente. O ucraniano só disse que precisava acabar com a guerra ao ser questionado sobre o fatiamento de seu país, proposto por Putin e já abraçado por Trump.
Havia um temor de que o encontro terminasse como a conversa de fevereiro, quando Trump e o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, deram uma bronca pública a Zelenski.
Na ocasião, o republicano acusou o presidente ucraniano de ter causado a invasão russa de 2022 e de não querer acabar com a guerra.
O encontro aconteceu na esteira de uma reunião entre Trump e Putin na última sexta-feira (15), cujo objetivo também foi firmar uma trégua na Guerra da Ucrânia. Foi a primeira cúpula entre o russo e um presidente americano desde 2021.
A cúpula acabou após 2 horas e 40 minutos de conversa, sem que um cessar-fogo fosse definido. “Não há um acordo até haver um acordo. Grande progresso hoje, mas não chegamos lá ainda”, disse Trump a repórteres.
“Eu vou fazer algumas ligações. Vou ligar para os aliados da Otan, para [o presidente ucraniano Volodimir] Zelenski, para ver se ele concorda”, completou, cobrindo Putin de elogios por sua “relação fantástica” ao longo de anos difíceis. “Nós concordamos em vários pontos, faltam alguns. Talvez o mais importante”, disse.
No cenário doméstico, os investidores repercutiram dados do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) de junho, considerado um sinalizador do PIB (Produto Interno Bruto).
O índice recuou 0,1% em junho na comparação com o mês anterior, mas terminou o segundo trimestre com crescimento de 0,3%. A leitura do mês frustrou a expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,05%, depois de o IBC-Br ter recuado 0,7% em maio.
Segundo Leonel Mattos, analista de inteligência da StoneX, os dados reforçam a moderação no crescimento da economia brasileira. “Essa desaceleração resulta em apostas de que o Copom corte a Selic, o que tende a dificultar a atração de investimentos estrangeiros e elevar a taxa de câmbio”.
Os investidores continuam atentos ao conflito comercial e jurídico envolvendo Brasil e EUA. O governo do presidente Lula (PT) deve responder nesta segunda à investigação comercial movida pelo USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA).
Na resposta, o governo deve argumentar que o Pix não discrimina serviços de pagamento operados por empresas estrangeiras, sejam eles de qualquer tipo.
Também nesta segunda-feira, o ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros precisam ser homologadas no Brasil para ter eficácia.
A decisão busca blindar o ministro Alexandre de Moraes do impacto da Lei Magnitsky sanção financeira imposta ao magistrado pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos
Na cena internacional, o mercado continua acompanhando os movimentos do Fed. O simpósio de Jackson Hole, que será realizado a partir de quinta-feira (21) e terá um aguardado discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, promete sinalizar as próximas ações do banco central americano.
Operadores dizem ser provável um corte na próxima reunião da instituição em setembro, com boa parte das apostas apontando para uma redução de 0,25 ponto percentual e uma pequena porcentagem para 0,5 ponto.
A perspectiva de cortes de juros pelo Fed tem favorecido o real em sessões recentes devido à percepção de que, com a taxa Selic em patamar alto por tempo prolongado, o diferencial de juros entre Brasil e EUA permanecerá favorável para o lado brasileiro.