SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dezenas de legisladores democratas que haviam deixado o Texas para tentar barrar um agressivo plano de redistribuição dos distritos eleitorais puseram fim a uma paralisação de duas semanas nesta segunda-feira (18), abrindo caminho para que o estado adote um novo mapa eleitoral favorável aos republicanos de Donald Trump nos Estados Unidos.
Com o retorno, a Câmara de Representantes do Texas passa a ter quórum suficiente para aprovar um mapa que, na prática, cria cinco novas cadeiras no Congresso dos Estados Unidos em favor dos republicanos, antes das eleições legislativas de meio de mandato, em novembro de 2026.
“Por favor, aprovem este mapa o mais rápido possível”, escreveu Trump em sua rede Truth Social, em mensagem acompanhada da imagem da proposta. Ele afirmou que esta é “uma das iniciativas mais populares que já apoiei”.
Gene Wu, líder da minoria na Câmara de Representantes do Texas e presidente da bancada democrata estadual, disse em comunicado que retornaram porque haviam alcançado seus dois principais objetivos.
O primeiro foi impedir uma votação sobre os novos mapas eleitorais durante a primeira sessão legislativa extraordinária, que terminou na sexta-feira (15). O segundo era estimular a Califórnia e outros estados governados por democratas a considerar a possibilidade de redesenhar seus próprios mapas para compensar as cadeiras que os republicanos possam ganhar no Texas.
Diferentemente do Brasil, onde eleitores em cada estado votam sem divisão geográfica interna para eleger deputados federais, membros da Câmara dos EUA são escolhidos para representar distritos específicos. Os limites territoriais desses distritos são definidos pelo Legislativo de cada estado com o objetivo, em teoria, de dividir a unidade da Federação em blocos com o mesmo número de eleitores.
É nesse processo que ocorre o chamado gerrymandering prática de redesenhar os mapas distritais a fim de criar maiorias artificiais e ajudar a eleger deputados que, do contrário, não venceriam a disputa. Apesar de questões éticas, o gerrymandering é comum nos EUA e ocorre porque, no sistema bipartidário americano, eleitores raramente mudam de voto ao longo dos anos sendo possível ao partido no poder identificar onde moram seus apoiadores e, dessa forma, diluir os eleitores do rival enquanto concentra os seus.
Impulsionados por Trump, os republicanos texanos querem aplicar essa estratégia para ampliar em cinco cadeiras sua atual bancada de 25 representantes em Washington.
Desde o início de agosto, o Parlamento estadual foi palco de um confronto à distância entre republicanos e democratas. A maioria conservadora busca redesenhar os 38 distritos eleitorais do Texas o segundo estado mais populoso do país e sob controle republicano.
Mais de 50 democratas haviam paralisado os trabalhos legislativos ao deixar o estado, em um exílio que os levou por diferentes regiões do país e ocupou as manchetes nacionais, enquanto buscavam chamar a atenção para a medida legal, mas fora dos prazos tradicionais.
“Quando os republicanos tentaram silenciar os eleitores das minorias por meio de uma manipulação racista dos distritos, os democratas da Câmara do Texas atenderam ao chamado”, afirmou o Caucus Democrata da Câmara do Texas em comunicado sobre o retorno dos parlamentares.
“Depois de mobilizar os americanos para que se unissem a esta batalha existencial pela democracia, retornamos ao Texas em nossos próprios termos. (…) A luta continua”, declarou o grupo.
O movimento no Texas desencadeou uma disputa nacional pela redistribuição distrital, com governadores republicanos em vários outros estados explorando formas de aprovar novos mapas e proteger a estreita maioria do partido na Câmara dos Representantes.
O site Politico informou que os republicanos poderiam criar até dez novas cadeiras antes das eleições legislativas e estão de olho em Ohio, Missouri, New Hampshire, Indiana, Carolina do Sul e Flórida.
Os democratas prometeram retaliar com suas próprias propostas na Califórnia e, possivelmente, em Nova York.
Durante a ausência, os democratas do Texas acumularam multas diárias de US$ 500 cada e enfrentaram ações judiciais do governador Greg Abbott e do procurador-geral Ken Paxton, que tentaram removê-los de seus cargos.