SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Reitores de universidades públicas e privadas e de institutos federais localizados no cerrado vão lançar, no próximo dia 20, um comitê que pede a criação de uma entidade de pesquisas sobre o bioma vinculada ao MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação).
O evento acontecerá às 11h, na UnB (Universidade de Brasília), e tem a intenção de sensibilizar não apenas a academia, mas também políticos e outros setores da sociedade à importância de ter um centro voltado à produção de conhecimento científico sobre o segundo maior bioma do país.
Em janeiro, reitores de 24 instituições -entre elas, UnB, UFG (Universidade Federal de Goiás), UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), PUC-Goiás (Pontifícia Universidade Católica de Goiás) e IFB (Instituto Federal de Brasília)- enviaram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendendo a criação do Instituto Nacional do Cerrado como um instrumento de colaboração interinstitucional e de redução de assimetrias regionais e sociais.
“Além disso, [o instituto] fortalecerá iniciativas voltadas para o monitoramento da biodiversidade, das águas, do clima, da bioeconomia e das atividades de produção agrícola e pecuária, visando maior produtividade e segurança alimentar”, diz a carta.
O documento ressalta, ainda, que seria possível captar recursos extra orçamentários para a gestão do órgão, “evitando assim impactos significativos sobre as contas públicas”.
Em abril de 2024, a ministra Luciana Santos, que chefia o MCTI, esteve na UFG para a 5ª Conferência Regional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Na ocasião, se comprometeu a dar celeridade para implantar o Instituto Nacional do Cerrado “pela importância estratégica que esse bioma tem para o Brasil”.
Em nota, a pasta informa que recebeu a proposta de criação do instituto da UFG e que o assunto já foi analisado internamente por áreas técnicas.
“Os pareceres reconheceram o mérito da proposta, mas apontaram que, diante das severas restrições orçamentárias, o Ministério já enfrenta dificuldades para assegurar o pleno funcionamento e manutenção de suas unidades atuais. Nesse cenário, não é possível destinar novos recursos sem comprometer essas estruturas”, diz o MCTI.
A mobilização ao redor do tema teve início na instituição goiana em 2023, a partir da visão de que é necessário ter um órgão científico sobre a região na esfera federal.
“Outros biomas têm unidades de pesquisa similares no MCTI, que são importantes para organizar e articular as pesquisas. Mas, para nós, o principal é ter uma voz oficial do cerrado vinculada ao governo federal para tratar dos temas do ponto de vista do desenvolvimento socioeconômico sustentável e da preservação”, afirma a reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima.
A pasta tem 18 unidades de pesquisa, sendo quatro voltadas para biomas específicos: Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal, Instituto Nacional da Mata Atlântica e, focado na caatinga, o Instituto Nacional do Semiárido.
Além destes, a reitora também cita como modelo o Inpo (Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas), que, por ser uma organização social, tem um processo de criação mais simples, via edital.
“É um modelo mais enxuto, mais célere e menos oneroso, já que tem maior autonomia para buscar recursos em outras fontes”, explica a professora da UFG.
Os reitores também esperam que o fato de a COP30, cúpula climática das Nações Unidas, acontecer em Belém neste ano, vai atrair a atenção para a amazônia -mas que não se pode perder a oportunidade de tratar também do cerrado.
“O complexo [hidrográfico] Tocantins-Araguaia, que abastece a bacia amazônica, nasce no cerrado”, diz Lima. “O limite dos biomas não obedece à divisão geopolítica, eles são integrados. Precisamos também integrar esse debate.”