SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os depoimentos do auditor fiscal Artur Gomes da Silva Neto e de sua mãe, Kimio Mizukami da Silva, suspeitos de participação em esquema de manipulação de créditos de ICMS, não serão mais realizados na quarta-feira (20), como previa o MP-SP (Ministério Público de São Paulo).
Ainda não há uma previsão de quando os depoimentos serão colhidos pelos investigadores do MP paulista. Segundo envolvidos nas investigações, os advogados de defesa pediram o cancelamento da audiência para entenderem melhor o processo, algo considerado comum nessa fase das investigações.
Silva Neto está preso desde terça-feira (12), quando foi deflagrada a Operação Ícaro. Na sexta-feira (15), o empresário Sidney Oliveira, dono da Ultrafarma, e Mário Otávio Gomes, diretor estatutário da Fast Shop -foram liberados sob fiança de R$ 25 milhões e uso de tornozeleira eletrônica.
Os promotores aguardam o depoimento do diretor Fast Shop, marcado para acontecer no MP nesta terça-feira (19).
Sócia formal da consultoria tributária Smart Tax, Kimio Mizukami da Silva, 73, não foi presa na operação, mas seu aumento de patrimônio foi um dos fatores que chamaram a atenção dos investigadores. O valor saltou de R$ 411 mil em 2021 para R$ 2 bilhões em 2023, segundo suas declarações de Imposto de Renda.
A Smart Tax é elencada pelos investigadores como uma empresa de fachada supostamente utilizada para lavagem de dinheiro e recebimento de propina. Além da Smart Tax, a professora aposentada é sócia de outras empresas suspeitas de participação no esquema.
Consultado, o advogado de Silva Neto, Paulo Bueno, não se manifestou sobre o adiamento da audiência. A reportagem não encontrou a defesa de Kimio.
A Operação Ícaro investiga o ressarcimento ilegal de ICMS retido por substituição tributária a empresas do varejo. Silva Neto é apontado pelas investigações como o coringa do caso na Secretaria da Fazenda de São Paulo pois orientava os executivos, preparava documentos e acelerava análises internamente na pasta, além de ter autorizado a transferência de créditos para outras empresas.
LINHA DO TEMPO TRAÇADA PELA OPERAÇÃO ÍCARO SEGUNDO O MP-SP
2013
Artur funda, com a mãe, Kimio Mizukami da Silva, a empresa Smart Tax Consultoria e Auditoria Tributária Ltda
Pouco depois, ele sai formalmente do quadro societário, deixando a mãe como única proprietária –uma professora aposentada, sem atuação no setor tributário
2021
Smart Tax altera seu objeto social para incluir “consultoria e auditoria tributária”
Teriam início as comunicações informais entre Silva Neto e executivos da Fast Shop usando email pessoal e mensagens de celular, segundo a promotoria
O auditor começaria a orientar diretamente a empresa sobre ressarcimento de ICMS-ST (portaria CAT 42/2018)
Kimio declara patrimônio de R$ 411 mil
2022
Silva Neto passaria a elaborar e compilar documentos para a Fast Shop, revisar contratos de cessão de créditos e atuar dentro da Sefaz para acelerar deferimentos, aponta a auditoria
Primeiros pagamentos da Fast Shop para a Smart Tax, registrados como honorários
Contratos seriam assinados digitalmente pelo próprio Silva Neto, usando o certificado digital da Smart Tax
Kimio passaria a guardar valores expressivos em espécie, segundo a investigação
2023
Teria sido fechado acordo entre Fast Shop e Smart Tax, prevendo R$ 204,6 milhões a serem pagos em 11 parcelas, com média de R$ 65 milhões anuais
Artur orientaria empresas sobre códigos fiscais para notas e protocolos de pedidos de crédito
Segundo o MP, o mesmo esquema era negociado com Ultrafarma, Allmix, Rede 28 e Oxxo
Kimio declara patrimônio de R$ 2 bilhões, majoritariamente em criptomoedas adquiridas com lucros da Smart Tax
Início de 2024
Reuniões presenciais e virtuais entre Artur, diretores da Fast Shop e representantes da Smart Tax continuariam
Artur manteria o controle operacional da empresa de fachada e o acesso aos tokens das companhias clientes
Emails revelariam a preparação de pedidos e instruções detalhadas para evitar questionamentos da Sefaz-SP
Dezembro de 2024
Reunião de “alinhamento” entre Silva Neto, Mário Otávio Gomes (diretor da Fast Shop) e uma coordenadora fiscal da varejista, sem a presença de Kimio
Primeiro semestre de 2025
Ministério Público aprofunda investigação após quebra de sigilos fiscal, bancário e de emails e mensagens (telemático)
MP avalia que as práticas criminosas permanecem ativas
Provas incluiriam contratos, emails, planilhas de pagamentos e orientações tributárias de Silva Neto a empresas privadas
Julho de 2025
Com base no risco de os crimes continuarem e nas evidências de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o MP solicita a prisão temporária de Silva Neto, Sidney Oliveira (Ultrafarma) e Mário Otávio Gomes (Fast Shop)
Também é requerido o afastamento de funções públicas de Silva Neto e de outro auditor fiscal, Marcelo de Almeida Gouveia
Procuradas, as defesas de Mário Otávio Gomes e de Marcelo de Almeida Gouveia não responderam
Agosto de 2025
Dono da Ultrafarma e diretor da Fast Shop são presos temporariamente na Operação Ícaro, no dia 12
Na casa de Celso Éder Gonzaga de Araújo e de sua esposa, Tatiane, são apreendidos mais de R$ 1,2 milhão e dois sacos de pedras preciosas, incluindo esmeraldas, segundo o MP. O casal é acusado de colaborar na lavagem de dinheiro e também é preso. A defesa de Tatiane não foi localizada até a publicação desta reportagem
Sidney Oliveira e Mário Otávio Gomes são soltos no dia 15, após a Promotoria decidir não ampliar o período das prisões temporárias dos empresários, sob fiança de R$ 25 milhões e com uso de tornozeleira eletrônica
A Justiça decidiu manter as prisões temporárias dos dois fiscais