RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, defendeu nesta segunda-feira (18) que é preciso “construir convergências” entre o esforço para reduzir emissões e a garantia de segurança energética que, segundo ela, dependeria do petróleo.
“A segurança energética e Plano Clima precisam conversar”, afirmou, em referência ao plano que apresentará as medidas para que o país cumpra sua meta de redução de emissões. “É possível, sim, construir convergências.”
A Petrobras é alvo de críticas de organizações ambientalistas pela pressão para a abertura de uma nova fronteira para exploração de petróleo na margem equatorial brasileira, apesar de alertas pela necessidade de reduzir as queimas de combustíveis fósseis.
Na semana que vem, estatal e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) devem realizar simulado da perfuração do primeiro poço em águas profundas na bacia da Foz do Amazonas, principal aposta da companhia na região.
O simulado é o teste final antes da decisão pela licença ambiental do poço, localizado a cerca de 150 quilômetros da costa do Amapá. Estatal e o governo defendem que o país não pode abrir mão dos recursos do petróleo, hoje importantes para os cofres públicos.
“É possível dizer para a população local que eles não têm direito ao desenvolvimento?”, questionou Magda nesta segunda, em entrevista à agência especializada em energia Eixos.
A primeira versão do Plano Clima, que esteve em consulta pública, foi questionada por não prever grande afastamento do setor de petróleo e gás, que continua sendo visto como relevante para a garantia do suprimento de energia até 2035.
Não prevê, por exemplo, redução das emissões de setor: no melhor cenário elas crescem 1% até 2035; no pior, 44%. O plano considera que o risco hidrelétrico cresce com as mudanças climáticas e que a principal alternativa são térmicas a gás.
Na entrevista, Magda usou ainda argumentos econômicos para defender o petróleo: diz que países com alto IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) têm elevada produção de energia per capita. O Brasil, afirmou, tem hoje IDH próximo ao do Vietnã.
“A gente gostaria de se comparar com França, Inglaterra, Alemanha. Mas para isso, a gente precisa duplicar a geração de energia per capita”, argumentou. “Não podemos dissociar o Plano Clima e o planejamento estratégico do Brasil do bem estar da população.”
A presidente da Petrobras destacou que, apesar do otimismo, não é certo que o primeiro poço na bacia da Foz do Amazonas encontre petróleo. “Quando a gente vai buscar uma nova fronteira, não é obrigado a achar no primeiro poço”, afirmou.
Ela lembrou que a descoberta da bacia de Campos, região cujas reservas levaram o país à autossuficiência em petróleo, se deu no nono poço. E, mesmo após a primeira descoberta, são necessários poços adicionais para avaliação.
O plano estratégico da Petrobras prevê 15 poços na margem equatorial até 2029, com um investimento de cerca de US$ 3 bilhões.