BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O famoso Caminho de Santiago de Compostela, que atrai centenas de milhares de peregrinos todos os anos para o noroeste da Espanha, foi fechado parcialmente nesta segunda-feira (18) devido à onda de incêndios florestais que assola o país. Parte do chamado caminho francês, a rota mais popular, que sai do País Basco e segue até a Galícia, foi interrompida pelas autoridades na região de Picos da Europa.
A vegetação próxima a cadeia montanhosa faz parte dos mais de 100 mil hectares que ardem no território espanhol desde a semana passada. “Esta é uma situação de incêndio que não vivíamos há 20 anos”, declarou a ministra da Defesa, Margarita Robles, em entrevista à Cadena Ser.
Cerca de um quarto das estações meteorológicas do país mostra os termômetros a mais de 40 graus. No domingo (17), em Cádiz, a temperatura chegou a 45,8°C, segundo a Aemet, o serviço meteorológico espanhol. “Estes incêndios têm características especiais como resultado da mudança climática e desta enorme onda de calor”, afirmou Robles, lembrando que a atual canícula já alcança 16 dias de duração.
A previsão é a de que o calor dê uma trégua nesta semana, mas a extensão e os estragos do incêndio devem repercutir por muito tempo, assim como a disputa política. O primeiro-ministro, Pedro Sánchez, pediu um pacto nacional contra a mudança climática. A oposição, por sua vez, chama o governo de omisso e pede uma maior mobilização de militares.
Sánchez visitou Ourense, região da Galícia, um dos pontos mais afetados pelas queimadas, a cerca de 100 quilômetros da cidade de Santiago de Compostela, ponto final da peregrinação católica. “Precisamos de uma estratégia que antecipe uma resposta melhor, mais segura e mais justa para nossos cidadãos diante do agravamento e da aceleração dos efeitos da emergência climática em nosso país”, disse Sánchez durante a visita.
Segundo o socialista, isso demanda que o país deixe de lado a disputa partidária e a polarização e se concentre nas evidências científicas para combater o problema. O discurso foi rechaçado pelos conservadores do Partido Popular. Especialistas afirmam que a Espanha, assim como outros países europeus, precisam de uma prevenção proativa dos incêndios, com restauração de florestas e áreas úmidas, manejo de espécies e treinamento das comunidades.
O aquecimento global, provocado sobretudo pela queima de combustíveis fósseis, mostram estudos de atribuição, é fator preponderante na intensidade dos incêndios no sul europeu.
Mais de 530 mil hectares queimaram já neste ano na área da União Europeia, segundo estatísticas do EFFIS, o departamento do serviço Copernicus dedicado a incêndios florestais. Apenas na semana passada, foram 155 mil hectares, marca superior à máxima já registrada nesta época do ano (128.530 hectares); é também cinco vezes a média da séria histórica, iniciada em 2006.
Quatro mortes foram registradas desde a semana passada na Espanha, a última devido a um acidente com um caminhão de bombeiros que tombou em meio à fumaça; Portugal contabiliza duas vítimas. Ao menos 30 mil pessoas foram evacuadas. Pelo lado da responsabilização, 27 foram presos e mais de 90 são investigados por iniciar incêndios.