BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer mapear as delegações de países que afirmam ainda ter dificuldades com questões logísticas da COP30 (conferência de mudanças climáticas da ONU), sobretudo de hospedagem, para buscar resolver caso a caso.
O evento ocorre em novembro em Belém, no Pará. Desde que a conferência foi anunciada na capital paraense, o preço dos hotéis explodiu e a organização busca alternativas para dar conta tanto do preço da hospedagem quanto do déficit de leitos para acomodar as cerca de 50 mil pessoas que devem comparecer.
Nas últimas semanas, o governo brasileiro tem sido cobrado por delegações de outros países. Como mostrou a Folha de S.Paulo, dezenas de representantes de países assinaram uma carta pressionando pela mudança da sede de pelo menos parte do evento da capital paraense para outra cidade a organização da cúpula tem reafirmado que não há chances de alterações.
A ideia é que o governo brasileiro faça uma espécie de meio de campo com as delegações, atuando para resolver o problema de cada uma delas individualmente. Isso seria coordenado por um grupo formado por assessores dos ministérios do Turismo e do Meio Ambiente, além de representantes da organização do megaevento.
O grupo passaria a assessorar cada delegação que entrar em contato com o governo brasileiro alegando dificuldades logísticas. Caberia ao grupo, por exemplo, indicar sugestões de acomodações na capital paraense que ainda estão disponíveis.
O tema foi discutido em reunião na quinta-feira (14) entre os ministros Marina Silva (Meio Ambiente) e Celso Sabino (Turismo), além do presidente da COP30, André Corrêa do Lago, e Valter Correia da Silva, secretário extraordinário para a COP30.
“Pela primeira vez, o mundo vai debater sustentabilidade na porta de entrada da amazônia, e Belém está se preparando para fazer história!”, escreveu Sabino nas redes sociais, em publicação que também mencionou a reunião.
Até aqui, o governo vem tentando contornar a crise dos preços de hotéis com duas frentes: processos administrativos via Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), do Ministério da Justiça, e no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Como mostrou a Folha, porém, as empresas se recusam a apresentar ao Executivo explicações sobre os preços altos praticados para o evento.
Também foi iniciada a negociação para tentar construir um TAC (Termo de Ajuste de Conduta), mas não houve, até aqui, acordo entre o setor e o governo.
Enquanto isso, o Brasil é pressionado pelos países que, no final de julho, realizaram uma reunião extraordinária da UNFCCC (o braço de clima da ONU) para cobrar dos organizadores da COP30 explicações sobre a situação.
Após o encontro, a UNFCCC compilou as reclamações e formulou 48 questionamentos para os quais o Brasil precisa apresentar esclarecimentos.
Na última segunda (11), o país enviou uma carta com as respostas para o órgão da ONU, que a compartilha com as outras nações. Uma nova reunião deve acontecer nos próximos dias depois de dois adiamentos.
Segundo pessoas que acompanham o tema, o plano do governo brasileiro é argumentar que as medidas tomadas até o momento como mobilização de navios cruzeiros, habitações do Minha Casa Minha Vida, incentivo ao aluguel pelo Airbnb e a criação do site de hospedagem vão começar a surtir efeito a partir de agora e resolverão o problema.
Além disso, eles afirmam que o governo tem atuado continuamente para sanar esses problemas, em contato permanente, por meio de várias instâncias, com os grupos estrangeiros.
Segundo as contas da organização da COP30, a cidade de Belém já dispõe de 53 mil leitos, mais do que os 50 mil calculados como necessários para acomodar todos os que devem comparecer.
Em nota, a presidência e a secretaria extraordinária para a COP dizem reafirmar o compromisso de realizar uma “conferência ampla, inclusiva e acessível, assegurando que todas as delegações tenham condições adequadas de participação”.
O texto também afirma que, para combater “preços abusivos”, a Senacon já abriu processo administrativo para “apurar práticas abusivas nas relações de consumo e eventuais indícios de crimes contra a economia popular”.
Os organizadores da conferência também afirmam que o plano de acomodação foi elaborado em conjunto com a ONU e está em “implementação por fases”, já tendo mapeado 53 mil leitos. Houve ainda, ressalta a COP30, o lançamento da plataforma eletrônica cop30.bnetwork.com, que concentra mais 2.700 quartos para o público.