RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Mulher da Casa Abandonada, série documental baseada no podcast da Folha, criado pelo jornalista Chico Felitti, em 2022, estreou nesta sexta-feira (15) no Prime Video. Pela primeira vez, após mais de duas décadas do julgamento, Hilda dos Santos, vítima dos abusos, dá seu depoimento à produção, que traz de volta a história de Margarida Bonetti, moradora de um imóvel em ruínas em Higienópolis, São Paulo.

Foragida dos Estados Unidos, ela e o marido Rene Bonetti eram investigada por submeter uma empregada doméstica a condições análogas à escravidão. O casal, que levou Hilda para os Estados Unidos em 1980, se recusou participar do documentário, assim como o filho Artur. “A gente entrou em contato com a família inteira. As duas irmãs, os primos, os tios… Tem uma família muito grande aqui em São Paulo, mas todos escolheram o silêncio. Respeitamos o pedido deles, mas deixamos a porta aberta até o final”, explicou Kátia Lund, diretora da série.

Em três episódios, a série mostra que Margarida Bonetti permanece vivendo no imóvel em Higienópolis. Desde seu retorno ao Brasil, não foi julgada pelo crime de trabalho análogo à escravidão, e o processo prescreveu. A vizinhança observa sua rotina com curiosidade, tanto pelo estado do casarão quanto pela aparência, frequentemente notada com uma espessa camada de pomada branca no rosto.

Após voltar do exterior, Margarida viveu escondida no interior de São Paulo, adotando o nome Maria, antes de retornar ao antigo endereço. Rene Bonetti, por sua vez, manteve carreira como engenheiro, trabalhando em pesquisas de satélites para a NASA durante o período em que Hilda esteve sob seu emprego nos Estados Unidos. Ele foi julgado e cumpriu pena nos Estados Unidos, após renunciar à cidadania brasileira.

Condenado a seis anos e meio de prisão e ao pagamento de US$ 110 mil, aproximadamente R$ 600 mil na cotação atual, em indenização, Rene reconstruiu sua vida nos EUA mantendo discrição.

O documentário do Prime Video revisita o caso histórico, oferecendo à vítima a oportunidade de compartilhar sua experiência e permitindo ao público compreender a dimensão do crime e seus desdobramentos legais.