SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo decretou nesta sexta-feira (15) a prisão preventiva do policial militar Fabio Anderson Pereira de Almeida pela acusação de homicídio qualificado e tentativa de homicídio, pela ação que terminou na morte do marceneiro Guilherme Dias Santos Ferreira, 26, no dia 4 de julho na Estrada Ecoturística de Parelheiros, no extremo da zona sul de São Paulo.
No despacho, a juíza Paula Marie Konno ainda cita que a ação do PM, que estava de folga, também deixou outra pessoa ferida, a transeunte Millena Sousa Vieira, que estava no ponto de ônibus e recebeu um tiro no braço. “A gravidade concreta do crime e a periculosidade do agente, evidenciada pelo modus operandi, constituem fundamentação idônea para a decretação da custódia preventiva”, disse a magistrada.
No documento, Konno enfatizou a forma como o policial foi em direção a Guilherme para efetuar os disparos, o que, para ela, configura intenção de matar:
“Fabio Anderson Pereira de Almeida, agindo com intenção homicida, impelido por motivo torpe e se utilizando de recurso que dificultou a defesa do ofendido, matou Guilherme Dias Santos Ferreira mediante disparo de arma de fogo que produziram na vítima os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico.”
Depois, ela descreve a ação do policial quando Guilherme corria para pegar o ônibus.
“Fabio avistou a vítima Guilherme do lado oposto da via, correndo. Então, Fabio, supondo que poderia ser um dos roubadores, foi em sua direção e efetuou 3 disparos pelas costas de Guilherme, tendo um deles atingido a cabeça da vítima, que faleceu por traumatismo cranioencefálico. Guilherme corria do lado oposto da calçada, para pegar um ônibus, e não vinha em direção de Fabio. Fabio saiu de onde estava e foi atrás de Guilherme, para matá-lo.”
Desde o episódio, Almeida, que pertence à 2ª Companhia do 12° Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, com sede na Vila Mariana, ficou afastado das ruas.
No dia a ocorrência, Guilherme Ferreira, que trabalhava em uma empresa de fabricação de móveis, havia acabado de deixar e a fábrica por volta das 22h30 de sexta e seguia para um ponto de ônibus, quando foi baleado na cabeça por Almeida, que o teria confundido com um ladrão.
Almeida teria relatado para colegas de farda ainda no local a sua versão sobre o ocorrido. Um PM contou para policiais civis ter ouvido de Almeida que ele foi abordado por criminosos em diversas motocicletas ao parar em um semáforo.
Os bandidos estariam armados e teriam anunciado o roubo. Temendo por sua vida, pelo fato de ser policial militar, o cabo teria dito que conseguiu sacar sua arma e disparar, não sabendo se atingiu alguém.
Os criminosos teriam fugido e deixado para trás uma moto Honda CBX 250 Twister de cor azul. Ainda de acordo com a narrativa do policial militar que apresentou a ocorrência, Almeida contou que foi surpreendido com o retorno de indivíduos a pé, provavelmente no intuito de pegar a motocicleta que ali havia sido deixada.
Foi nesse momento que Almeida atirou e matou Ferreira, que nada tinha a ver com a tentativa de assalto.
Outras duas pessoas sem relação com o crime também foram vitimadas. Uma mulher foi baleada e socorrida por terceiros ao hospital. E um outro homem, colega de trabalho de Ferreira e que também caminhava até o ponto de ônibus, foi detido suspeito de ter participado do assalto. Na delegacia, diante da absoluta falta de provas, foi solto.
Em depoimento, uma testemunha disse ter sido vítima do mesmo grupo de ladrões. Ela teria conseguido escapar depois da intervenção do policial.
*
LINHA DO TEMPO DA MORTE DE GUILHERME
4.jul.25 22h28 Guilherme Dias Santos Ferreira, 26, registra saída no relógio-ponto da empresa Dream Box e caminha até o ponto de ônibus. Deillan Ezlan da Silva Oliveira, 21, também funcionário, bate o ponto em horário próximo;
22h35 O policial militar de folga Fábio Anderson Pereira de Almeida, 35, passava pela região em sua moto Triumph Scrambler 400x verde, quando cinco motociclistas armados o cercam e anunciam roubo;
Fábio reage a tiros, e o grupo foge abandonando na via uma Honda CBX 250;
Guilherme surge correndo rumo ao ponto de ônibus, segundo amigos, para não perder a condução. Fábio o vê e dispara, segundo boletim de ocorrência, acreditando se tratar de um dos envolvidos na tentativa de assalto que estaria voltando à cena do crime. Guilherme morre a cerca de 50 metros do ponto;
Uma mulher também é atingida pelos tiros e é socorrida por terceiros;
Deillan, que também caminhava em direção ao ponto de ônibus, é detido como suspeito de participar do roubo. Acabou liberado na delegacia;
5.jul.25 4h38 Perícia chega ao local do crime
Com Guilherme foram encontrados carteira, celular, chaves, livro, remédios, itens de higiene, uma bolsa térmica e uma marmita com talheres;
Um funcionário da Dream Box se apresenta e mostra vídeos e fotos de WhatsApp que apontam que Guilherme e Deillan tinham saído do trabalho às 22h28 e, portanto, não tinham ligação com o roubo;
14h52 Fábio é autuado em flagrante por homicídio culposo, paga fiança de R$ 6.500 e é liberado;
Fonte: Boletim de ocorrência