BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O banqueiro Daniel Vorcaro, do Master, negocia uma segunda linha com o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) em um valor entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões para dar cobertura a vencimentos de CDBs (Certificado de Depósito Bancário) após a conclusão da análise e aprovação pelo Banco Central da operação de venda ao BRB (Banco de Brasília).
O fundo, que recebe aporte das instituições financeiras e garante aplicações de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em caso de intervenção ou falência, já liberou em maio uma linha de liquidez para garantir o fluxo de pagamento de até R$ 4 bilhões pelo banco durante a fase de apreciação do negócio pelo BC.
O Master tinha como estratégia vender CDBs com alta remuneração, usando a cobertura do FGC como atrativo.
As discussões em andamento passam por uma reorganização societária, o que inclui a cisão do banco Voiter, que hoje faz parte do conglomerado Master. Na divisão, Augusto Lima, hoje CEO do Master, ficará com o Voiter.
A divisão já passou pela análise da diretoria do BC na semana passada. Procurado, o BC não respondeu à reportagem.
Vorcaro também está fechando a venda da seguradora Kovr. A negociação deverá ser feita com os atuais gestores da corretora com a participação de fundos ligados ao PicPay, controlado pela J&F, holding dos irmãos Batista. O PicPay já é parceiro da Kovr.
O Banco Master de Investimento, que também integra o conglomerado Master, ficará com os ativos que não serão adquiridos pelo BRB, calculados hoje em cerca de R$ 46 bilhões. Segundo uma pessoa que participa das negociações, ele será o “vetor” a receber os ativos remanescentes.
Esses ativos serão vendidos depois para fazer frente aos vencimentos dos CDBs. O BTG Pactual é um dos interessados em fazer a liquidação privada desses ativos, como já ocorreu em outras operações desse tipo no passado.
Para pessoas próximas, Vorcaro não descarta fazer a venda para gerar R$ 80 bilhões, já que considera que os valores dos ativos estão subestimados.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, se reuniu nesta sexta-feira (15) com André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual, em São Paulo. Também estava previsto na agenda uma reunião à tarde com Joesley Mendonça Batista, acionista da J&F Investimentos S.A.
Na quinta-feira (14), os diretores de Fiscalização, Ailton de Aquino Santos, e de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Dias de Brito Gomes, se reuniram com Vorcaro e Augusto Lima.
Com o dinheiro da venda da seguradora e de outros ativos, como precatórios (títulos de ações judiciais), pré-precatórios e ações de empresas, Vorcaro fará um aporte na parcela do Master que ficará com o BRB. A expectativa é que o montante fique em torno de R$ 1 bilhão para dar liquidez ao banco, que está com suas captações paradas após o anúncio da venda ao Banco de Brasília.
A venda da seguradora já estava na estratégia do negócio com o BRB, porque o banco do governo do Distrito Federal já tem uma seguradora própria e haveria conflito de interesses, segundo uma pessoa que participa da negociação.
A análise pelo BC se arrasta desde o final do março, quando a aquisição foi comunicada ao mercado e os primeiros documentos entregues ao BC. De lá para cá, Galípolo e os diretores do BC tiveram uma bateria de reuniões, inclusive aos sábados e feriados. O diretor Renato Gomes é o mais resistente à operação.
Em maio, Vorcaro fechou com o BTG Pactual a venda de ativos pessoais no valor de cerca de R$ 1,5 bilhão. O banco de Esteves afirmou em comunicado ao mercado que o negócio incluiu ações de empresas como Light (15,17% do capital social) e Méliuz (8,12% do capital social), por meio da cessão de cotas de fundos de investimento. A negociação também envolveu precatórios e imóveis como o prédio do Hotel Fasano, em São Paulo.
A operação provocou discussões entre o BC e os principais bancos do país e despertou preocupação entre parlamentares do Distrito Federal.
A falta de decisão até agora é vista pelos envolvidos no negócio do Master e BRB como um risco para o banco e o mercado. Na avaliação desses interlocutores, a demora tem feito o banco “sangrar”.
Vorcaro ficará fora do controle do Master-BRB, se a operação for aprovada.
Procurado, o FGC não respondeu ao pedido de informações da reportagem. O fundo não comenta casos específicos.