SOROCABA, SP (FOLHAPRESS) – Pressionado pela revelação de um esquema de propinas na Secretaria da Fazenda de São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) prometeu punição “com mão pesada” aos envolvidos e, em meio ao desgaste, voltou a atacar o presidente Lula (PT) ao cobrar negociações sobre o tarifaço imposto por Donald Trump.

“Tem fraudes que ocorrem há muitos anos, tem fraudes que vinham desde 2015. Essa, especificamente, começa em 2021”, disse.

“Então, agora, é redesenhar processos, investir em tecnologia, partir para punição rigorosa dos agentes em todas as esferas, na esfera administrativa, na esfera cível, na esfera penal, partir para cima dos bens daqueles que lesionaram o estado de São Paulo, para que isso não passe impune. Então, eles vão sentir a mão pesada no Estado para servir de exemplo.”

A investigação do Ministério Público de São Paulo aponta que servidores da Fazenda movimentaram R$ 1 bilhão em propinas cobradas para acelerar a emissão de créditos tributários para grandes empresas, como a Ultrafarma, e para calcular créditos para essas companhias em valores maiores do que os devidos. Quatro pessoas foram presas temporariamente nesta semana, incluindo dois servidores da Fazenda e o empresário Sidney Oliveira, da Ultrafarma.

Tarcísio afirmou que seu governo reestruturou a Controladoria-Geral do Estado (CGE) e que vinha investindo na digitalização de processos para evitar desvios.

A declaração ocorreu durante a inauguração provisória de um novo batalhão da Polícia Militar em Sorocaba, no interior paulista.

No evento, o governador foi questionado mais uma vez sobre o tarifaço imposto a produtos brasileiros por Donald Trump, cuja eleição comemorou, e respondeu defendendo que era preciso abrir negociações.

“Acho que está muito cômodo [para o governo federal]. Você vê que, hoje, o Trump está conversando com o [presidente da Rússia Vladimir] Putin. O Trump, envolvido indiretamente na guerra da Ucrânia; o Putin, diretamente. E os dois estão sentados para conversar. Não é vergonha, não é humilhação para nenhum chefe de Estado sentar com outro para chegar a um acordo”, disse.

A fala foi um ataque indireto a Lula. O presidente disse, na semana passada, que não telefonaria para Trump para negociar o tarifaço porque o norte-americano não queria negociação e que não iria se humilhar.

“Acho que precisa se fazer força para chegar a um acordo. A gente precisa mostrar, de fato, argumentos. Temos muitos. Existem empresas que estão sendo prejudicadas pelo tarifaço, que importam muito eletrônico, importam motores e que têm, no fim das contas, balanço negativo com os Estados Unidos”, disse Tarcísio.

A falta de negociações entre Brasil e EUA foi atribuída, pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), a uma ação direta do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos desde março. Haddad teve uma reunião cancelada com o secretário do Tesouro do governo Trump na última quarta-feira.

O ataque de Tarcísio ao governo petista foi o segundo nesta semana. Na quarta-feira, em em evento para empresários do setor agrícola, ele disse que o país já não aguentava mais Lula e o PT.

A abertura do novo batalhão da PM em Sorocaba era uma promessa de campanha do secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), que se elegeu deputado federal em 2022 e está licenciado.

O batalhão funciona, provisoriamente, em um imóvel no bairro Vila Trujillo, até que a sede definitiva seja construída.

Derrite é pré-candidato ao Senado e planejava concorrer fazendo dobradinha com Eduardo Bolsonaro. No evento, ele defendeu as articulações do aliado no exterior.

“Acho que ele fez um papel importante no sentido de alertar as autoridades internacionais sobre o que está acontecendo aqui no país.” O secretário, contudo, evitou falar mais sobre o tema, dizendo que não tinha tempo para fazer análises políticas.