SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A caminho de sua primeira cúpula com Vladimir Putin no atual mandato, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta sexta-feira (15) que caberá à Ucrânia decidir que território irá negociar para chegar a uma paz com a Rússia.

O comentário do republicano foi feito a bordo do Air Force One, o avião presidencial que o leva para Anchorage, no Alasca. Putin, por sua vez, chegará à cidade vindo de Magadan, uma cidade do Extremo Oriente russo a quatro horas de voo da sede do encontro.

Com a fala, Trump busca novamente tentar afastar de si a acusação de que irá definir o destino da Ucrânia a sós com Putin, sem a presença do presidente Volodimir Zelenski ou seus interessados aliados europeus, que temem que o apetite territorial do russo não se restrinja ao vizinho.

Assim, ele temperou sua retórica de que trocas territoriais serão necessárias para acabar com a guerra, algo visto como inevitável mas que não afeta em tese Putin, que deverá oferecer apenas áreas ocupadas no país vizinho que não estão na sua lista de demandas.

“Elas [as trocas] serão discutidas, mas eu tenho deixar a Ucrânia tomar a decisão. Mas eu não estou aqui para negociar pela Ucrânia, estou aqui para colocá-los [Putin e Zelenski] à mesa”, afirmou o americano, que quer uma reunião subsquente entre ele e os líderes rivais.

Zelenski também moderou suas críticas nesta sexta. Exasperado por ser excluído da cúpula, ele passou a semana advertindo Trump de que ele poderia ser enganado por Putin. Nesta sexta, disse a cúpula pode abrir “o caminho para uma paz justa” e as conversas tripartites.

“É hora de acabar a guerra, e os passos necessários têm de ser tomados pela Rússia. Estamos contando com os EUA”, escreveu no Telegram. O americano, por sua vez, voltou a ameaçar “consequências severas” se Putin não quiser a paz, presumivelmente sanções que afetem seus parceiros externos, como China, Índia e Brasil.

Trump também afirmou que a posição militar favorável de Putin no campo de batalha, onde trabalha uma nova ofensiva que pegou os ucranianos de surpresa em Donetsk (leste), faz o russo achar incorretamente que está com a vantagem para negociar.

“Eu acho que eles estão tentando negociar [com a ofensiva]. Ele está tentando montar o palco. Na sua mente, isso o ajuda a fazer um acordo melhor. Na verdade isso o prejudica, mas em sua cabeça ele conseguirá um acordo melhor se continuar a matança”, afirmou.

Ao mesmo tempo, voltou a elogiar o russo. “Ele é um cara esperto, que vem fazendo isso há muito tempo. Então nós nos damos, há um bom nível de respeito de ambos os lados, sabe, algo virá disso”, afirmou.

Desde que Trump anunciou a cúpula no Alasca, há uma semana, houve uma retração relativa nos ataques aéreos contra cidades ucranianas, apesar dos avanços em solo de Putin.

Nesta sexta, houve atividade maior por parte de Kiev, que atingiu diversas regiões russas, ferindo cerca de 20 pessoas com ataques de drones. Ao menos uma refinaria pegou fogo, no sul do país.

Já na Ucrânia, além da ofensiva em Donetsk, ataques com drones mataram ao menos sete pessoas em diversas regiões. Não houve, contudo, as temidas barragens de mísseis balísticos, motivo de diversos alarmes aéreos em Kiev e outras cidades grandes ao longo do dia.

A cúpula está marcada para as 11h30 (16h30) em uma base militar em Anchorage, cidade que teve sua rotina mudada pelo encontro de última hora. Trump e Putin falarão apenas com intérpretes primeiro, depois haverá uma reunião expandida com suas delegações, um café da manhã e uma entrevista coletiva —que pode ou não ser conjunta, segundo a Casa Branca.

Em 2018, na única cúpula dos seis encontros que ambos tiveram no primeiro mandato de Trump, a entrevista conjunta foi considerada desastrosa para o americano, que disse que Putin era mais confiável que seus serviços de inteligência porque havia negado interferência na eleição de 2016.

Do lado russo, estarão presentes os ministros Serguei Lavrov (Relações Exteriores), Andrei Belousov (Defesa) e Anton Siluanov (Finanças), além do czar de investimentos Kirill Dmitriev e do assessor internacional Iuri Uchakov.

Trump terá consigo os secretários Marco Rubio (Estado), Pete Hegseth (Defesa), Scott Bessent (Tesouro) e Howard Lutnick (Comécio), além do negociador Steve Witkoff e do diretor da CIA, John Ratcliff. Além deles ainda há outros assessores e parlamentares.

A presença de nomes da área econômica de ambos os lados enfatiza o desejo de Putin de negociar não só Ucrânia, mas também a retomada das relações com os EUA. Trump elogiou isso. Já Dmitriev brincou com o tamanho da comitiva americana: “Emboscada. Estamos em menor número”, escreveu no X, adicionando um emoji sorridente.