SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Coreia do Sul, Lee Jae-myung, prometeu respeitar o sistema político do vizinho do norte nesta sexta-feira (15), dia em que a península comemora 80 anos da libertação do domínio colonial japonês —o único feriado celebrado simultaneamente pelas duas Coreias.

“Todos sabem que a hostilidade prolongada não beneficia as pessoas de nenhuma das duas Coreias”, disse o líder durante seu discurso em Seul. O político progressista foi eleito em junho deste ano, dois meses após a conclusão do processo de impeachment de seu antecessor, Yoon Suk Yeol, que tentou aplicar um autogolpe sob a justificativa de que a oposição apoiaria Pyongyang.

Desde então, Lee promete buscar o diálogo com a Coreia do Norte sem pré-condições, uma mudança radical em relação à postura belicosa de seu antecessor em relação à ditadura.

“Afirmamos nosso respeito pelo sistema atual do Norte, afirmamos que não buscaremos nenhuma forma de unificação por absorção e afirmamos que não temos intenção de nos envolver em atos hostis”, disse Lee durante uma cerimônia realizada em um complexo artístico no centro da capital.

Nesta sexta, o presidente prometeu restaurar gradativamente o chamado Acordo Militar Abrangente de 19 de setembro, que interrompeu algumas atividades militares na fronteira entre as duas Coreias. Assinado em uma histórica cúpula intercoreana em 2018, o pacto foi rompido com o aumento das tensões nos últimos anos.

Em junho de 2024, após a Coreia do Norte enviar centenas de balões cheios de lixo através da fronteira em resposta a infláveis de ativistas sul-coreanos, Yoon anunciou a suspensão completa do pacto militar, que Pyongyang havia abandonado em novembro de 2023.

O acordo incluía medidas como o fim dos exercícios militares perto da fronteira por ambos os lados e a proibição de exercícios com fogo real em certas áreas, a imposição de zonas de exclusão aérea.

“Em particular, para evitar confrontos acidentais entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte e para construir confiança militar, tomaremos medidas proativas e graduais para restaurar o Acordo Militar de 19 de setembro”, disse Lee, sem especificar um prazo.

Trata-se do mais recente esforço de seu governo para melhorar os laços entre as duas Coreias, tecnicamente em guerra após um armistício em 1953 consolidar a divisão da península e suspender os combates que se estendiam desde 1950.

Lee citou os esforços de seu governo para reduzir as tensões, incluindo a interrupção do lançamento de balões lançados por ativistas com panfletos anti-Coreia do Norte e o desmantelamento de transmissões de propaganda em alto-falantes através da fronteira. Agora, diz, vai tomar “medidas consistentes para reduzir substancialmente as tensões e restaurar a confiança” com Pyongyang.

“Espero que a Coreia do Norte retribua nossos esforços para restaurar a confiança e reavivar o diálogo”, disse. Ele também negou relatos de que a Coreia do Norte estaria retirando os alto-falantes que instalou ao longo da fronteira para transmitir propaganda dirigida ao Sul.

O discurso ocorre um dia após Pyongyang afirmar não ter interesse em melhorar as relações com Seul. Nesta quinta (14), Kim Yo-jong, a influente irmã do líder norte-coreano, Kim Jong-un, afirmou que o Norte “não tem vontade de melhorar as relações” com seu vizinho.

No início deste mês, a Coreia do Sul e os EUA já haviam adiado partes de seus exercícios militares conjuntos anuais, que têm sido uma fonte de tensão com a Coreia do Norte.

Mas segundo Yeom Don-jay, ex-funcionário do Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul, para conseguir que o líder norte-coreano dialogue, Lee precisa de uma oferta mais ousada, como persuadir o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a reconsiderar as sanções contra a ditadura.

O líder sul-coreano também abordou os laços da Coreia do Sul com o Japão, afirmando que o relacionamento entre os dois países deve ser “voltado para o futuro”, baseado em uma diplomacia pragmática e com foco no interesse nacional de Seul.

A declaração destoa das críticas que ele fez no passado em relação aos esforços dos governos de Seul para melhorar os laços com Tóquio. Após disputas históricas decorrentes do domínio colonial japonês sobre a Península Coreana, de 1910 a 1945, os laços entre os dois aliados dos EUA são tensos.

Lee visitará o Japão no dia 23 de agosto para uma cúpula com o primeiro-ministro Shigeru Ishiba em um momento em que ambos os países lidam com as implicações das tarifas americanas impostas por Trump..