Da redação

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, na última segunda-feira (11), o uso do vorasidenibe — nome comercial Voranigo —, primeiro medicamento oral de uso diário indicado para tratar certos tipos de câncer no cérebro. A novidade representa um marco no tratamento de gliomas de baixo grau, tumores que afetam o cérebro ou a medula espinhal.

Até agora, o cuidado desses pacientes se limitava a métodos tradicionais como cirurgia, radioterapia e quimioterapia, sem grandes inovações nas últimas duas décadas. O novo remédio pode adiar procedimentos invasivos e preservar a qualidade de vida dos pacientes por mais tempo.

Quem pode se beneficiar

O Voranigo é destinado a pessoas a partir de 12 anos diagnosticadas com astrocitoma ou oligodendroglioma de grau 2, com mutações nas enzimas IDH1 ou IDH2, que já tenham passado por cirurgia, mas ainda não precisem de radioterapia ou quimioterapia.

A ação do medicamento se baseia em bloquear as enzimas alteradas, impedindo a produção de substâncias que alimentam o crescimento tumoral. Estudos apontam que ele reduz em 61% o risco de progressão da doença e diminui o tamanho do tumor. Segundo a farmacêutica Servier, responsável pelo produto, isso amplia o intervalo até que novas intervenções sejam necessárias.

O oncologista Gustavo Matos, do Hospital Sírio-Libanês, destaca que o tratamento apresenta efeitos colaterais mais leves em comparação às terapias convencionais. “O vorasidenibe desacelera o crescimento do tumor, permitindo que o paciente adie radioterapia, quimioterapia ou novas cirurgias”, afirma.

Acesso e próximos passos

A aprovação pela Anvisa não significa que o medicamento estará disponível de imediato. Ainda é preciso definir o preço e incluir o produto no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para que seja coberto por planos de saúde.

No Sistema Único de Saúde (SUS), o caminho é mais longo: a incorporação depende da análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), que avalia segurança, eficácia e custo. O oncologista Gustavo Schvartsman, do Hospital Israelita Albert Einstein, alerta que o processo pode demorar e que, sem a inclusão oficial, pacientes poderão ter de recorrer à Justiça para ter acesso ao tratamento.