SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após a prisão temporária de diretores da Fast Shop e da Ultrafarma nesta semana, documentos do Ministério Público de São Paulo apontam outras empresas do varejo que teriam contratado os serviços tributários da Smart Tax, empresa de fachada supostamente usada para repasse de propinas ao auditor fiscal Artur Gomes da Silva Neto.

É o caso da Oxxo, que estava, de acordo com as investigações, em negociações para a contratação de serviços tributários da Smart Tax, e a Allmix Distribuidora, também apontada pelos promotores como beneficiária da mesma engenharia de pagamentos ao auditor em troca de favores e agilidade na restituição de créditos de ICMS.

“Da mesma forma, Artur também vem recebendo propina por parte de outras grandes empresas para beneficiá-las em questões tributárias, adotando o mesmo modus operandi ora relatado. A título de exemplo, vale citar a Ultrafarma Saúde Ltda, Allmix Distribuidora, Rede 28 Postos de Combustíveis, Oxxo, dentre outras”, afirmaram os procuradores no procedimento investigatório criminal que deu início à série de prisões e buscas e apreensão contra investigados na terça (12).

Em um documento produzido pelo Ministério Público, há um email datado de 13 de dezembro de 2024 que, segundo os promotores, se refere a tratativas de prestação de serviços tributários para o Grupo Nós, controlador da rede Oxxo.

No corpo da mensagem, a Smart Tax lista quais são os documentos exigidos para a contratação e nomeia uma gerente jurídica e tributária do Grupo Nós, que supostamente seria a destinatária original da mensagem. Em anexo consta um acordo de confidencialidade entre as empresas.

Até o momento, o Ministério Público não detalhou se houve continuidade nas negociações nem se foi fechado negócio.

Em nota, o Grupo Nós negou que tenha tido relação comercial com a Smart Tax. Disse que busca se atualizar e cumprir com a legislação tributária do país, e que avalia serviços e potenciais fornecedores dentro dos limites da lei.

“Averiguações internas preliminares constataram que o Grupo Nós não tem relações comerciais com a empresa Smart Tax. O Grupo Nós reitera que pauta sua atuação pelos mais altos padrões de ética, legalidade e transparência, com um robusto programa de integridade que inclui políticas claras de compliance, treinamentos periódicos, canais de denúncia independentes e mecanismos de controle interno”, diz a companhia.

Nenhum executivo da Oxxo foi incluído na operação que levou à prisão temporária de Mário Otávio Gomes, diretor da Fast Shop, Sidney Oliveira, dono da Ultrafarma, e do auditor fiscal Artur Gomes.

Sediada em Ribeirão Pires (SP), a Smart Tax é apontada pelo Gedec (Grupo de Atuação Especial de Repressão à Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de Ativos Financeiros) como uma empresa de fachada usada para receber propinas milionárias —as investigações indicam que, somente na operação Ícaro, mais de R$ 1 bilhão foram movimentados em propina.

A professora aposentada Kimio Mizukami da Silva, 73, mãe de Artur Gomes, é a sócia formal da empresa.

De acordo com o Ministério Público, Artur Gomes orientava de forma ilegal os departamentos financeiros das companhias sobre quais documentos deveriam ser juntados nos procedimentos fiscais, acelerava processos internos que demoram meses para serem realizados e autorizava a homologação de créditos tributários.

Em alguns casos, como no da Ultrafarma, os investigadores afirmam que ele tinha certificados digitais das companhias, o que possibilitava assinar documentos que tramitariam na Fazenda paulista.

A Allmix, citada na operação, é uma distribuidora de produtos para o lar que atua há mais de uma década no país e tem mais de 80 representantes comerciais e um centro de distribuição em Barueri (São Paulo).

No procedimento investigatório inicial não fica claro há quanto tempo a Allmix é cliente da Smart Tax, nem qual teria sido o valor supostamente pago em propina ao auditor fiscal. Esse detalhamento deve constar nos desdobramentos do caso.

O advogado da varejista, Fernando Dutra, disse que a companhia não teve acesso ao inquérito e só está sabendo do tema pela imprensa.

“Neste momento não temos muito o que falar senão ratificar a transparência nas ações todas da administração da Allmix e já deixar claro que a empresa colaborará com todos os próximos passos da investigação. Tão logo tenhamos acesso aos autos do inquérito, poderemos nos manifestar de forma mais assertiva sobre o caso”, afirmou.

A Kalunga é outra gigante do setor que teria mantido algum tipo de relação com a empresa de consultoria tributária, segundo promotores, mas o MP ainda não forneceu mais detalhes sobre essa operação nem cita a empresa em seu relatório.

Procurada, a companhia não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Segundo agentes que acompanham as investigações, o caso ainda está no início e novas frentes de apuração serão vitais para entender a extensão da rede de conexões que envolvem a Smart Tax e as empresas do varejo brasileiro.

O MP trabalha com a possibilidade da realização de delações premiadas para fechar o quebra-cabeça das operações fraudulentas

Em nota, a Fast Shop afirmou que está analisando o conteúdo da investigação e que segue colaborando com as autoridades competentes.

Os representantes da Rede 28 Postos de Combustíveis não foram localizados.

A Ultrafarma não se manifestou.