SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nesta edição, uma pauta dominou as redes sociais e o Congresso nessa semana. Quando isso acontece, interesses conflitantes vêm à tona.
Também aqui: Raízen continua enfrentando maus bocados, Meituan quer chegar no Brasil com os dois pés na porta e outros destaques do mercado nesta sexta-feira (15).
**A PAUTA DAS REDES SOCIAIS**
Se você é brasileiro e tem uma conexão Wifi e acesso às redes sociais, deve ter visto a repercussão do vídeo publicado pelo influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca.
Na publicação viral, que superou menções ao vídeo do deputado Nikolas Ferreira sobre o Pix e gerou reações de políticos na Câmara dos Deputados e no Senado, ele denuncia redes de pornografia infantil dentro das plataformas de mídia social e a adultização de crianças.
PANELA DE PRESSÃO
A repercussão das denúncias está pressionando uma discussão que se arrasta no Congresso: a regulação da atuação das grandes empresas de tecnologia.
De um lado, o governo Lula quer usar a repercussão do vídeo de Felca para impulsionar a aprovação de leis que regulamentem as big techs, tema que ganhou força após as sanções de Trump ao Brasil.
Do outro, parlamentares do centrão e da oposição dizem que a comoção causada pelo post viral não deverá impulsionar o debate sobre a regulação das redes.
Fato é que as gigantes do Vale do Silício não estão animadas para ter a sua atuação limitada pela legislação do país. Há a ameaça velada de que uma regulação mais rígida das redes sociais pode aumentar a repressão comercial do governo dos EUA sobre o Brasil.
“Ele [Donald Trump] disse que não vai aceitar a gente regular as big techs dele, mas a gente vai regular, porque para estar no Brasil tem que ser regulada”, disse Lula.
MAIS DENÚNCIAS
Muita gente está prestando atenção no que os algoritmos das redes estão impulsionando, ou, pelo menos, deixando passar sem moderação.
A Reuters analisou relatórios internos da Meta, onde encontrou políticas sobre os comportamentos de chatbots.
Um documento permitiu que as criações de inteligência artificial da empresa “envolvessem uma criança em conversas românticas ou sensuais”, gerassem informações médicas falsas e ajudassem usuários a dizer que negros são “mais burros do que os brancos”.
**TEMPOS DE AMARGURA**
Quem vive cercado de cana-de-açúcar deve ter uma vida doce, não? Os representantes da Raízen discordam. A produtora de combustíveis de segunda geração passa por maus bocados, uma percepção reforçada pelos resultados do primeiro trimestre da safra 25/26.
🛑 Pit stop: antes de começar a história, é importante lembrar de algumas coisas.
↳ A Raízen é uma joint venture entre a Cosan e a Shell. Joint venture é uma junção de duas empresas para um fim específico neste caso, a produção de etanol de segunda geração e outros biocombustíveis.
↳ O etanol de segunda geração, ou E2G, é um biocombustível avançado produzido a partir de resíduos da produção de etanol de primeira geração, como o bagaço e a palha da cana-de-açúcar.
🟢 Agora sim. A Raízen registrou prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão no primeiro trimestre da safra 2025/26, após obter lucro de R$ 1,1 bilhão no mesmo período da safra anterior (2024/25), com impacto de deterioração no desempenho operacional do período.
O problema é a alavancagem, que encerrou junho em um patamar de 4,5 vezes, contra 2,3 vezes um ano antes. Isso significa que a dívida total da empresa é 4,5 vezes maior do que o Ebitda, que é o ganho da companhia sem descontar encargos.
↳ Um levantamento da Elos Ayta Consultoria feito a pedido da Folha mostra que seria preciso que o patrimônio da empresa fosse três vezes maior para o pagamento da sua dívida.
O desastre é resultado de uma combinação de dois fatores principais: a companhia contraiu muitas dívidas para expandir as operações pouco antes da taxa de juros aumentar. Agora, está muito mais difícil quitar as obrigações com os credores.
Nem o fechamento de usina ajudou a companhia na estratégia de melhorar seu desempenho financeiro e conter a alta do endividamento.
SALVAÇÃO (?)
Segundo o jornal Valor Econômico, o negócio poderá ter um novo sócio. As fontes ouvidas afirmaram que o formato para a entrada dele não está definido, mas a Cosan seria eventualmente diluída nesse processo.
**QUE COMECEM OS JOGOS**
O 99Food começou a operar no estado de São Paulo nesta terça-feira (12) e já está causando discórdia no setor.
Até pouco tempo atrás, as entregas de comida eram dominadas pelo iFood, sem maiores ameaças. Então, surgiram duas rivais relevantes: a 99Food e a Keeta. O mercado esperava que a briga entre as três fosse demorar para começar, mas ela já está acontecendo.
LEVANTANDO OS ESCUDOS
A Keeta é a representante no Brasil da Meituan, empresa chinesa que opera o maior delivery de refeições do mundo. Ela nem bem começou a operar por aqui e já processou a 99Food por suposta concorrência desleal.
Na ação, que tramita na Justiça de São Paulo, a Keeta acusa a rival de ter oferecido às cem maiores cadeias de restaurantes do país elevados valores para assinar contratos que proíbem negócios com ela mas não com o iFood.
No total, informa a companhia à Justiça, a 99Food teria destinado R$ 900 milhões a essa campanha uma média de R$ 90 milhões para cada rede. Ela diz ter evidências de que ao menos metade dos restaurantes aceitou as condições.
“Essas cláusulas criam um duopólio. Na prática, elas foram inventadas especialmente para impedir a entrada da Keeta no Brasil”, escreve no processo.
Vale lembrar que a 99 foi fundada no Brasil, mas a companhia chinesa DiDi a adquiriu em 2018.
JOGANDO COM ESTRATÉGIA
A empresa preferiu começar a briga com a 99Food na Justiça, mas também deve ingressar com um processo junto ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) nos próximos dias.
TIMING PERFEITO
A Keeta acabou de começar o cadastramento de restaurantes na base do aplicativo. Em menos de duas semanas, ela já tem mais de mil estabelecimentos cadastrados em São Paulo, grande parte de pequeno e médio porte.
Para atrair os lojistas e entregadores, ela está oferecendo taxas melhores do que as praticadas pelos concorrentes.
**PARA LER**
Você já quis saber como era o cotidiano de uma das empresas símbolo da era da inteligência artificial antes da explosão dessa tecnologia? Se sim, sorte a sua. Karen Hao, jornalista americana, viveu isso e registrou a experiência em um livro.
A obra acompanha a OpenAI, fundação de Sam Altman para desenvolver IA, desde o início. Hao começou a seguir os passos da empresa em 2019, em reportagens para o jornal The New York Times.
Naquele momento, Altman e seus parceiros lhe pareciam os mocinhos da história. A ideia deles era salvaguardar a IA de interesses puramente mercantis. Com o tempo, a percepção da observadora mudou.
Ela percebeu que, para obter sucesso no negócio da IA, as empresas precisam de uma quantidade de recursos sem precedentes o que pode levar a um esgotamento ainda mais rápido do planeta.
Há várias reportagens que discorrem sobre o uso excessivo de água, energia e minerais por computadores que rodam os modelos de IA.
Mas Hao levanta um questionamento maior: qual será a extensão da devastação caso todas as empresas de tecnologia comecem a competir para criar sistemas cada vez mais potentes?
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Fuga do trânsito. O BNDES anunciou um investimento de R$ 405 milhões na empresa de carros voadores da Embraer, a Eve Air Mobility.
É o cara. Warren Buffett, da Berkshire Hathaway, anunciou a compra de uma fatia de US$ 1,6 bilhão na UnitedHealth e vendeu mais ações da Apple.
Saudades do cafezinho. Um deputado democrata americano afirmou que vai apresentar um projeto de lei para isentar o café brasileiro da tarifa de 50% na exportação para os EUA.
Agenda cheia. O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro também defende o auditor fiscal acusado no esquema bilionário de corrupção que envolve a Ultrafarma e a Fast Shop.
Quem não pode, se sacode. A farmacêutica americana aumentou o preço do Monjauro em até 170% no Reino Unido após Trump reclamar de aproveitadores estrangeiros.