SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) assumiu papel de principal porta-voz de Jair Bolsonaro (PL), desde que o pai foi preso e está com contato restrito com outras pessoas fora da família.

Flávio já era o integrante do clã com maior trânsito no mundo político e agora assume um papel com maior protagonismo. Eles já se falavam diariamente, e agora o senador passa na sua casa em um condomínio no Jardim Botânico quase todos os dias para conversar e coletar orientações do pai.

“Vou praticamente todos os dias, atualizo sobre as conversas no Congresso, sobre as eleições de 2026 e ele me orienta qual o melhor caminho. A palavra final é sempre dele”, disse à reportagem.

“[Bolsonaro] Apenas reforçou o que eu já venho dizendo, que o justo e correto a fazer é uma anistia ampla, geral e irrestrita. Essa é a única saída honrosa para todos e o início do resgate da normalidade”, completou.

A proposta está hoje na Câmara dos Deputados e, no formato defendido por bolsonaristas, que abrange inclusive o ex-presidente, encontra resistência entre parlamentares. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse não haver ambiente para aprová-la.

Na semana passada, durante o motim bolsonarista nas duas Casas, chegou aos parlamentares uma orientação para não criticarem tanto Motta. Segundo relatos, o recado teria vindo de Bolsonaro.

Aliados veem a escolha de Flávio como natural, pela proximidade familiar e pela atuação de bastidores que o senador já tinha. Mas dizem que não necessariamente isso significa que ele será o sucessor eleitoral de Bolsonaro em 2026, ainda que ele esteja considerado no páreo.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou, dois dias depois de decretar prisão domiciliar do ex-presidente, familiares a visitá-lo em casa, sem necessidade de comunicar a corte com antecedência. A liberação foi dada a filhos, cunhadas, netas e netos.

A decisão trouxe alívio a aliados do ex-presidente, que temiam um isolamento ainda maior do líder político. Até então, a ex-primeira-dama Michelle seria a principal interlocutora de Bolsonaro. Mas ele não gosta que ela participe de conversas com lideranças políticas, e ela tampouco transita nesse núcleo.

Assim, ainda que seu nome surja com destaque nas pesquisas eleitorais para 2026, aliados veem dificuldades em um cenário com Michelle como cabeça de chapa de uma candidatura à direita.

Bolsonaro fez carreira política não apenas para ele, mas para todos os seus filhos. Dos quatro que se elegeram com o mesmo sobrenome, Flávio é hoje o que ocupa esse papel de interlocutor.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) está nos Estados Unidos desde março, onde atua por sanções a autoridades brasileiras —o que rendeu-lhe investigação no Supremo, na qual o seu pai foi submetido a medidas cautelares, como a tornozeleira, e os dois foram proibidos de se falar.

Desde que o parlamentar foi para os Estados Unidos, eles já estavam tendo divergências e discussões, segundo relatos. O ex-presidente era contrário à sua permanência no país. Além disso, o deputado, que vinha sendo cotado a sucessor eleitoral do pai, foi se isolando politicamente.

Já o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) é uma figura presente no entorno do pai. Ele divide o seu tempo entre a capital fluminense e Brasília, onde tem casa. Mas sua atuação é mais restrita ao âmbito familiar, sem interlocução com o mundo político. Ele deve ser candidato ao Senado pelo PL em Santa Catarina, por determinação de Bolsonaro.

Mais novo dos filhos, Jair Renan é vereador pelo PL em Balneário Camboriú (SC). Ele esteve em Brasília na semana das medidas cautelares contra o pai.