SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As cidades de São Bernardo do Campo e de São Caetano do Sul não formam mais o principal polo da indústria automotiva no estado de São Paulo. Em volume, a macrorregião que engloba cidades como Sorocaba, Piracicaba e Itirapina se destaca, e com uma peculiaridade: o interior abriga as principais marcas asiáticas.

A mais recente a chegar é a chinesa GWM, que inaugura sua linha de produção em Iracemápolis nesta sexta-feira (15). A expectativa é de ganhar escala progressivamente para, até o fim desta década, montar 50 mil carros de passeio e picapes por ano.

Quando a meta for atingida, a capacidade instalada na região será de aproximadamente 650 mil carros/ano, além de motores e transmissões. A conta também leva em consideração as fábricas da sul-coreana Hyundai (Piracicaba) e das japonesas Honda (Sumaré e Itirapina) e Toyota (Indaiatuba, Sorocaba e Porto Feliz).

O número é superior à soma das plantas da General Motors em São Caetano do Sul e da Volkswagen em São Bernardo do Campo -que, juntas, são capazes de montar aproximadamente 600 mil veículos por ano.

Outro polo automotivo do interior está nas cidades de São José dos Campos e Taubaté, com fábricas da Volkswagen e da GM instaladas às margens da rodovia Presidente Dutra.

No passado, as cidades de diferentes regiões do interior do estado abrigavam apenas linhas de produção de componentes. A Goodyear, por exemplo, inaugurou a fábrica de pneus de Americana em 1973. Já as linhas de montagem de automóveis estavam concentradas no ABC. A exceção entre os carros foi o pequeno Romi-Isetta, produzido em Santa Bárbara d’Oeste entre 1956 e 1961.

A expansão da indústria nas cidades da Grande São Paulo teve início na década de 1950, quando foi criado o Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), no governo Juscelino Kubitschek (1956-1960). Até então, as empresas se limitavam a montar carros no país, não havia o conceito de indústria automotiva nacional.

A General Motors já estava em São Caetano desde 1930. A Willys-Overland chegou a São Bernardo no início da década de 1950 e, em 1967, foi adquirida pela Ford. Essa foi a primeira fábrica fechada pela montadora americana no Brasil, em 2019.

Mercedes-Benz, Scania, Toyota e Volkswagen também se estabeleceram no ABC nos anos 1950. Como a indústria automotiva tem uma cadeia extensa de fornecedores, criou-se um polo industrial.

A região ficou nacionalmente conhecida em 1978, quando eclodiu a primeira greve dos metalúrgicos, sob o comando de Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a expansão do mercado automotivo, outras regiões começaram a oferecer benefícios para atrair as montadoras. A Fiat já havia optado por Betim (MG) e começou a produzir em 1976, mas ainda era um caso isolado.

Além de isenções e concessões de terrenos em outras cidades, a mão de obra mais cara no ABC e o custo dos terrenos passaram a pesar na escolha de montadoras que planejavam produzir ou se expandir no Brasil.

Nos anos 1990, com a reabertura às importações e o receio de um recuo da indústria, há um novo ciclo de incentivos à produção local. Foi nesse período que o interior de São Paulo ganhou destaque e começou a receber as montadoras asiáticas.

Não houve, contudo, um interesse conjunto de japoneses e sul-coreanos pelas cidades vizinhas em que se instalaram. As condições oferecidas pelos municípios e o momento de mercado de cada uma das montadoras levaram às decisões de fazer automóveis no interior, que já contava com malha rodoviária adequada ao escoamento da produção.

A possibilidade de gerar postos de trabalho qualificados e de melhor remuneração foi uma das motivações das cidades. A GWM, por exemplo, anunciou em janeiro a abertura de 700 vagas. Já a Toyota terá 2.000 novos funcionários para atender à expansão da linha de montagem em Sorocaba.

O polo regional teve ainda a Mercedes-Benz, com modelos montados em Iracemápolis de 2016 a 2020. É essa fábrica que agora abriga a GWM.

A venda para a marca chinesa foi anunciada em 2021. Em seguida, os novos proprietários divulgaram um investimento de R$ 10 bilhões para produção local.

Ricardo Bastos, diretor de relações governamentais da GWM Brasil e presidente da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), confirma que etapas como pintura e soldagem já serão feitas no Brasil, o que caracteriza o sistema CKD, em que os carros vêm da China completamente desmontados.

É diferente do método SKD adotado pela BYD em sua primeira fase de operações em Camaçari (BA). Nessa modalidade, as carrocerias já chegam pintadas, e o veículo vem parcialmente montado, faltando encaixar alguns elementos.

Mas a própria BYD também está no polo industrial do interior. A empresa produz chassis para ônibus elétricos, kits solares e painéis fotovoltaicos em Campinas.