SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No coração de São Paulo, onde a agitação urbana se encontra com a efervescência cultural, surge um dos projetos mais ambiciosos da cena artística brasileira dos últimos anos. O Instituto Brasileiro de Teatro (iBT) está prestes a inaugurar seu centro cultural na avenida Brigadeiro Luís Antônio, na região da Bela Vista, em um edifício dos anos 1950 que renasce como polo cultural depois de um processo de revitalização que durou mais de dois anos.
Com 12 andares distribuídos em 7.500 metros quadrados, o espaço foi concebido como um ecossistema para as artes performáticas. “Não construímos apenas mais um teatro na cidade, mas sim um organismo vivo que pulsa em sintonia com o ritmo de São Paulo”, celebra Thiago Albanese, diretor executivo do iBT. “Desde a concepção do projeto, nosso objetivo foi criar um espaço que fosse ao mesmo tempo um templo artístico e uma praça pública, onde a arte possa ser vivida e experienciada de múltiplas formas”, completa.
A arquitetura do local foi planejada para estabelecer um diálogo com o espaço urbano que o rodeia. No térreo, o palco-praça se abre para a cidade como um convite democrático e acolhedor -sua estrutura foi projetada para que os transeuntes sintam-se naturalmente atraídos a adentrar. “O piso continua o mesmo da calçada, as portas são todas de vidro, tudo foi pensado para eliminar qualquer barreira física ou simbólica”, detalha Albanese.
Já nos andares superiores, o público encontrará desde modernas salas de ensaio até um espaçoso teatro no 10º andar, para receber diversos tipos de montagens.
A programação curatorial, assinada por Aline Mohamad, quer ir além das convenções teatrais. Durante o dia, por exemplo, o projeto Prato do Dia vai oferecer cenas curtas, de até 20 minutos de duração, no horário de almoço, especialmente pensadas para quem trabalha na região. “Vai ser incrível ver executivos de terno dividindo espaço com artistas de rua durante essas apresentações”, comenta Aline.
Já à noite, o mesmo espaço se transformará para receber desde batalhas de poesia no Palco Palavra a festivais de música brega no Karaokêra Kerida, projeto comandado pelo Coletivo Aquenda, de drag queens do Jardim Romano.
“Esta é a verdadeira essência do teatro contemporâneo”, reflete Aline. “Uma arte viva que se recusa a ficar confinada em categorias estanques, onde um espectador que vem inicialmente atraído por um ‘slam poetry’ pode acabar descobrindo sua paixão pela dramaturgia clássica, ou onde crianças que chegam para uma oficina de circo podem ter seu primeiro contato com o teatro físico.”
O compromisso com a acessibilidade e inclusão social se materializa em diversas frentes do projeto. Todas as oito salas de ensaio -distribuídas por diversos andares- estão disponíveis gratuitamente através de editais públicos, com prioridade para grupos periféricos e artistas independentes. O emblemático caso do espetáculo “Fracassadas BR”, totalmente produzido por uma comunidade trans da periferia (A Coletiva de Teatro) com um investimento de R$ 500 mil do iBT, exemplifica essa filosofia. “São vozes que precisam e merecem ecoar”, defende o diretor. “Quando você dá estrutura e oportunidade para esses grupos, o resultado é sempre surpreendente.”
O modelo financeiro do centro, que combinou um investimento total de R$ 45 milhões (R$ 20 milhões para aquisição do imóvel e R$ 25 milhões em reformas) provenientes da iniciativa privada -com o uso de leis de incentivo como a Rouanet-, foi planejado para garantir sustentabilidade a longo prazo, sem depender exclusivamente de verbas públicas. “Criamos uma engrenagem onde empresas que buscam relevância cultural podem se conectar diretamente com os artistas que precisam de apoio”, explica Thiago sobre o modelo que já angariou mais de R$ 12 milhões em investimentos desde 2022.
A inauguração oficial, marcada para 29 de agosto, deve marcar um novo capítulo na vida cultural paulistana. Nos dias seguintes, os visitantes poderão experimentar desde as criações do chef Rodrigo Oliveira (Mocotó e Balaio), no café -com o restaurante completo em fase final de implantação para 2025-, até intervenções artísticas que podem acontecer nas escadas do prédio.
“Este centro será um farol cultural não apenas pelo que apresenta, mas por como conecta pessoas, artistas consagrados e iniciantes, espectadores assíduos e curiosos, pessoas de todas as classes e origens. É essa mistura que vai fazer a magia acontecer.”
A ambição do instituto extrapola os limites geográficos da cidade de São Paulo. Enquanto o centro cultural se consolida na capital paulista, o iTB já expande seu raio de ação para outras regiões do país.
Em Manaus, prepara uma mostra inédita que levará teatro a locais como o Anfiteatro Ponta Negra, tradicional palco de shows que agora receberá seu primeiro espetáculo teatral. No Recife, assumiu a gestão cultural de quatro importantes parques públicos, incluindo um com teatro e galeria de arte inclusivos.
O espaço vai oferecer também residências artísticas, capacitação profissional, apoio à produção e, principalmente, um modelo sustentável de gestão que pode servir de inspiração para outras iniciativas pelo país.
“Mais que um centro cultural, estamos construindo um legado”, conta Aline. “Um espaço que não apenas reflete a rica diversidade brasileira em toda sua complexidade, mas que ativamente trabalha para amplificá-la, garantindo que o teatro continue sendo um lugar de transformação social em nosso país.”
INSTITUTO BRASILEIRO DE TEATRO
Centro Cultural – av. Brigadeiro Luís antônio, 277, Bela Vista
A partir do dia 29 de agosto