WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – No dia seguinte à decisão dos Estados Unidos de revogar o visto de dois brasileiros que atuaram na implementação do programa Mais Médicos, a embaixada do país no Brasil afirmou que o programa foi um “golpe diplomático” feito para explorar cubanos.

Disse ainda que continuará a responsabilizar “todos” ligados à iniciativa. Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm a expectativa de que a ex-presidente Dilma Rousseff e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, possam ter restrição no acesso aos EUA no futuro.

O Mais Médicos foi criado em 2013, na gestão Dilma, quando Padilha também era o ministro da pasta. À Folha, o Departamento de Estado informou que não antecipará detalhes sobre outras pessoas que sejam punidas.

A medida é mais uma de uma série de punições que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem aplicado ao Brasil e ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), como restrição de vistos e tarifas de 50% a produtos importados.

Nesta quinta-feira (14), a representação dos Estados Unidos no Brasil repostou no X (ex-twitter) um comentário do Escritório para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, órgão equivalente ao Ministério das Relações Exteriores, também publicado nas redes sociais.

“O programa Mais Médicos do Brasil foi um golpe diplomático que explorou médicos cubanos, enriqueceu o regime cubano corrupto e foi acobertado por autoridades brasileiras e ex-funcionários da OPAS. Não restam dúvidas: os EUA continuarão responsabilizando todos os indivíduos ligados a esse esquema coercitivo de exportação de mão de obra”, escreveu.

A embaixada também replicou a declaração feita pelo Departamento de Estado desta quarta-feira (13) em que anunciou as sanções.

“Os EUA permanecem firmes ao lado do povo cubano. Ontem, tomamos medidas para revogar vistos e impor restrições de visto a vários funcionários do governo brasileiro e ex-funcionários da OPAS envolvidos com o esquema coercitivo e explorador de exportação de mão de obra do regime cubano. O trabalho forçado e a exploração não têm lugar no mundo moderno. A responsabilização começa aqui”, escreveram.

Nesta quarta, a gestão Trump afirmou que revogou os vistos de Mozart Júlio Tabosa Sales e Alberto Kleiman. O Departamento de Estado justificou a medida porque ambos “trabalharam no Ministério da Saúde do Brasil durante o programa Mais Médicos e desempenharam um papel no planejamento e na implementação do programa”.

“Esses funcionários foram responsáveis pela cumplicidade com o esquema coercitivo de exportação de mão de obra do regime cubano ou se envolveram nisso, o que explora profissionais médicos cubanos por meio de trabalho forçado. Esse esquema enriquece o corrupto regime cubano e priva o povo cubano de cuidados médicos essenciais”, acusou o órgão americano.

Mozart é atualmente secretário de Atenção Especializada à Saúde e muito próximo do ministro Alexandre Padilha (Saúde). Já Kleiman é coordenador-geral para COP30 da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), organização intergovernamental da qual fazem parte os governos de países que têm floresta amazônica em seus territórios. A medida se estende aos familiares dos atingidos, segundo o Departamento de Estado.

O Mais Médicos foi implementado em 2013 com a intenção de levar médicos para atuarem em áreas remotas e cidades do interior com dificuldade de contratação de profissionais.

Para isso, o governo brasileiro fez um acordo Opas para garantir a contratação de médicos cubanos, que atuaram no programa até 2018.

Hoje, o programa segue em vigor, mas sem a participação dos cubanos.

À época, a contratação de cubanos foi criticada por parlamentares e uma ala de médicos pelo modelo em que esses profissionais eram pagos e atuavam.

Os EUA são contra a contratação de médicos cubanos e veem isso como uma exploração da mão de obra, como disseram nos comunicados.

Além de brasileiros, os EUA restringiram nesta quarta também o visto de autoridades de governos de países africanos, de Cuba e Granada em razão da contratação.

A medida foi uma decisão do próprio secretário do Departamento de Estado, Marco Rubio, que é filho de cubanos. Ele é favor das sanções que os EUA aplicam a Cuba e considera a gestão uma ditadura.