SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Uma terceira espécie de raia-manta foi anunciada por pesquisadores no mês passado. Ela ganhou o nome científico de Mobula yarae, em homenagem à Iara, figura folclórica brasileira.
Discussão sobre a nova espécie levou mais de 15 anos. Foi o período de pesquisas até o veredito. A taxonomia do gênero Mobula pode confundir os especialistas, pois as três espécies de raia-manta são parecidas.
Antes de afirmar que é uma nova espécie, as pesquisas passam por etapas: localizar, examinar e descrever. A confirmação foi publicada em um artigo na revista científica “Environmental Biology of Fishes” (leia aqui o texto).
Análise genética permitiu a diferenciação. O trabalho comparou morfologia e coloração. A pesquisa foi feita com nomes nacionais e internacionais, sob a liderança da oceanógrafa brasileira Nayara Bucair.
“As três espécies de raia-manta são muito parecidas, e foi difícil fazer a distinção e o delineamento desta nova espécie [Mobula yarae] apenas com base em aspectos morfológicos. E todas as hipóteses ressaltavam a cor, mas não tinha como bater o martelo se era realmente uma nova ou um morfotipo diferente. E aí a gente decidiu entrar com a parte de genética”, disse Nayara Bucair, em entrevista ao Jornal da USP.
A nova raia-manta é caracterizada por manchas brancas em forma de V na região dorsal. Com até seis metros de largura de disco, ela tem coloração mais clara próxima aos olhos há manchas ventrais no abdômen, além de mandíbula inferior de nove a 13 dentes.
Ela pode ser encontrada em águas costeiras (tropicais e subtropicais) do oeste do Atlântico. A raia-manta também foi encontrada numa margem que se estende do leste dos EUA até o Brasil, com inclusão do Golfo do México e o mar do Caribe.
Os espécimes examinados foram encontrados em diferentes regiões do Brasil. Os locais são: Ilha Comprida (SP), Natal (RN) e Fernando de Noronha (PE).
Pesca direcionada é a maior ameaça das raia-mantas. A retirada de arcos branquiais costuma abastecer o mercado asiático, onde sua carne é vendida por conta de supostas propriedades anti-inflamatórias e desintoxicantes. A captura acidental por pescadores também está entre as preocupações.
As três raia-mantas identificadas são: Mobula yarae, Mobula birostris e Mobula alfredi. Atualmente, as espécies estão ameaçadas de extinção, segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
“Só o fato de a gente estar descrevendo essa espécie depois de 16 anos já é um grande avanço. Ter conseguido fazer isso com poucos recursos e em uma instituição brasileira é um outro destaque. Esse trabalho foi fruto de muitas colaborações, não teria conseguido realizar este feito sozinha”, disse Nayara Bucair.