SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Policial militar há 20 anos, a sargento Jessica Cormick, vice-prefeita de São Bernardo do Campo (SP), assume a gestão municipal com o afastamento do prefeito Marcelo Lima (Podemos) nesta quinta-feira.
Lima foi alvo de uma ação da Polícia Federal para apurar corrupção e lavagem de dinheiro na prefeitura da cidade na Grande São Paulo.
Este é o primeiro cargo público fora da PM assumido por Jessica (Avante), 39, que não havia se manifestado sobre o afastamento do prefeito até a publicação deste texto.
Casada com um também sargento da PM, Eder, que conheceu no 6º BPM/M, ela dizia não ter ambições políticas quando recebeu o convite do então candidato Marcelo Lima para compor sua chapa nas eleições do ano passado, conforme informação de seu perfil no site da Prefeitura de São Bernardo. Ela é mãe de uma adolescente de 12 anos.
Na sua carreira, foi promovida a cabo em 2016 e depois ingressou no Curso de Formação de Sargentos, que possibilitou atingir sua patente atual.
Ainda na PM, da qual se afastou com as eleições, especializou-se em polícia ostensiva e preservação da ordem pública, além de realizar cursos voltados para a gestão pública e os direitos humanos. Atualmente, ela cursa MBA em governança pública.
Conforme registros na Justiça Eleitoral, para sua candidatura, Cormick declarou como bem apenas um veículo, avaliado em R$ 34 mil.
Na eleição passada, tanto ela quanto Lima foram multados em mais de R$ 5.000 cada por causa de uma visita ao gabinete do então prefeito Orlando Morando (na época no PSDB). Segundo a Justiça Eleitoral, a divulgação das imagens do encontro favoreceu a campanha.
Suas últimas publicações em redes sociais foram sobre segurança pública. Numa delas, está ao lado do prefeito em uma solenidade para entrega de 25 carabinas para a Guarda Civil Municipal, além de câmeras de monitoramento.
“Estamos falando de muito mais do que equipamentos: estamos iniciando uma nova fase para a nossa GCM mais estruturada, mais preparada e com ainda mais tecnologia para proteger quem vive aqui!”, escreveu na publicação.
Em outra, participa das comemorações de 26 anos da GCM de São Bernardo do Campo. “Quando eu trabalhava na rua, na Polícia Militar, muitos guardas estiveram ao meu lado, me apoiaram e me estenderam a mão em momentos importantes. E isso nunca será esquecido.”
A OPERAÇÃO
A Justiça determinou o afastamento de Marcelo Lima em uma operação desencadeada pela Polícia Federal, nesta quinta-feira, para apurar para apurar corrupção e lavagem de dinheiro na prefeitura. Duas pessoas foram presas.
A PF chegou a pedir a prisão do prefeito, mas a Justiça negou. Entretanto determinou que Lima passe a usar tornozeleira eletrônica.
A 4ª Câmara de Direito Criminal do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), que autorizou a ação, determinou, além do afastamento dos cargos, a quebra de sigilo bancário e fiscal dos alvos, que incluem dois vereadores, um secretário municipal e um servidor público da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo).
Segundo o Ministério Público, a investigação apontou “uma complexa rede criminosa, com uma estrutura definida e um modus operandi peculiar, voltada para a captação e movimentação de valores ilícitos no âmbito da Prefeitura de São Bernardo do Campo.” Ao todo, 34 pessoas tiveram a suspensão de sigilo bancário e fiscal.
Entre os alvos de prisão estão o dono de uma construtora que tem contrato com a prefeitura, identificado como Edmilson Carvalho, sócio da Terraplanagem Alzira Franco. Os agentes localizaram R$ 400 mil na casa dele. Segundo a defesa, o dinheiro “é fruto de seu trabalho e não de nenhum esquema de corrupção.” O empresário passou a manhã na sede da PF na Lapa, na zona oeste de São Paulo. Ele dará depoimento na tarde desta quarta.
Outro preso é o servidor municipal Antonio Rene da Silva, diretor Secretaria de Coordenação Governamental de São Bernardo. A Folha tenta localizar a defesa dele.
A investigação começou em julho de 2025, a partir da apreensão de R$ 14 milhões em espécie (entre reais e dólares), encontrados com um servidor público vinculado aos investigados. Com a análise de materiais apreendidos, foi desvendado um esquema estruturado entre a alta administração municipal, segundo a investigação.