MANAUS, AM (FOLHAPRESS) – Mais de 32 milhões de brasileiros, ou quase uma de cada cinco pessoas (19,1%) com 16 anos ou mais no país, foram ameaçados ou chantageados por criminosos que usaram dados deles ou de familiares para exigir dinheiro nos últimos 12 meses. A situação gerou um prejuízo estimado de R$ 24,2 bilhões.
Este é o tipo de delito mais comum relatado pela população e mostra uma diferença no perfil de crimes patrimoniais no país. Enquanto os roubos caem, os golpes crescem. As tentativas mostram 5.300 pessoas acionadas por hora no país. No total, 46,4 milhões de brasileiros relataram ter sofrido algum contato por mensagem ou ligação telefônica envolvendo falsas centrais de segurança no período analisado, de julho de 2024 a junho de 2025.
As informações são da segunda edição da Pesquisa de Vitimização e Percepção da Segurança Pública no Brasil, realizada pelo Datafolha e encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foram entrevistadas 2.007 pessoas com 16 anos ou mais de idade em 130 municípios, de 2 a 6 de junho deste ano. A margem de erro no recorte nacional é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.
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Pessoas que se declararam vítimas de crimes patrimoniais no Brasil
Em %, de jul.24 a jun.25
Sofreu um crime patrimonial tradicional, com interação física – 21,8
Vítima de fraude em meio digital com prejuízo financeiro direto – 33,4
Crimes virtuais de vazamento de dados/ identidade – 31,4
Sofreu uma tentativa de golpe virtual, que pode ou não ter implicado em prejuízo financeiro – 36,3
Desconfia que foi alvo de fraude ou golpe – 28,8
Fonte: Pesquisa Datafolha e Fórum Brasileiro de Segurança Pública com 2.007 entrevistados de 16 anos ou mais, realizada de 2 a 6 de junho, com margem de erro de 2 p.p.
População vítima de crime patrimonial presencial em 1 ano
Em %, de jul.24 a jun.25
Você foi roubado ou assaltado em casa, no transporte ou na escola ou trabalho – 11,1
Recebeu notas de dinheiro falso – 9,6
Teve o seu celular furtado ou roubado – 9,3
Você sofreu sequestro relâmpago – 0,8
Fonte: Pesquisa Datafolha e Fórum Brasileiro de Segurança Pública com 2.007 entrevistados de 16 anos ou mais, realizada de 2 a 6 de junho, com margem de erro de 2 p.p.
Com cada vez mais funções concentradas nos celulares, quem teve o aparelho roubado tem uma chance quase quatro vezes maior de sofrer golpes do que o restante da população.
Embora os roubos estejam em queda, criminosos têm voltado sua atenção para os ganhos com golpes e extorsões no meio digital. Além disso, a pesquisa mostra que a porcentagem de pessoas com renda mais alta alvo de golpes é maior do que entre a renda mais baixa.
O levantamento mostra que 11% da população relatou ter sido roubada. Desses, um de cada quatro (25,2%) foram vítimas do crime com uso de arma de fogo.
Além disso, 9,3% tiveram o celular roubado ou furtado. O prejuízo financeiro médio estimado é de R$ 1.700 por vítima, ou R$ 26,7 bilhões no total.
Embora dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública indiquem queda em roubos, a explosão nos estelionatos, com 2,16 milhões de casos no país em 2024, ou 247 por hora, mostra que o crime está migrando para o meio digital e para uma profusão nos tipos e na gravidade das fraudes.
Entre as pessoas que foram roubadas, 35% relataram ter sido vítimas de golpe do Pix ou de boleto falso.
Já 11,4% da população com 16 ou mais anos de idade cerca de 19,2 milhões de pessoas, segundo projeção da pesquisa foram vítimas de golpes nos quais o criminoso se passou pela pessoa. Outros 7% afirmaram que tiveram perfil ou identidade digital bloqueada em redes sociais e aplicativos de mensagem.
Entre as vítimas de golpes, há prevalência das classes A e B, com 27,6% dos respondentes relatando terem sido alvo desse tipo de crime, ante 16,4% entre as classes C, D e E. Segundo o diretor-presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima, isso mostra que os criminosos estão selecionando as vítimas pelo poder aquisitivo.
“Dado o vazamento de dados, que está geral, dado os celulares, o crime não é mais aleatório. Estão escolhendo quem atacar. Aquelas centrais telefônicas não são para todo mundo. O dado mostra maior prevalência entre alta escolaridade e até entre 29 e 60 anos e classe A e B.” E como fazer essa seleção? “Todo mundo tem isso vazado”, diz Lima. “Antes você ia à Santa Ifigênia e pegava um pendrive da Receita [Federal]. Hoje você aluga por bitcoin, acessa a vida de todo mundo. Aí baixam aquilo, faz um robô e vai ligando para os celulares.”
Com esse nível de informação e o uso de tecnologia, formam-se linhas de produção, segundo o especialista, que imputaram a facções como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho o alto risco de lavagem de dinheiro. A pesquisa projeta, a partir da amostra, que vazamentos de dados atingiram 12,3 milhões de pessoas, ou 7,3% da população.
Falta estrutura ao Estado para enfrentar esta nova realidade do crime, segundo Lima. “Está pouquíssimo aparelhado para lidar com isso. Inclusive em termos legais e de cooperação entre estados, União e municípios.”