MANAUS, AM (UOL/FOLHAPRESS) – Golpistas que entram em contato com vítimas por ligação, mensagem ou e-mail sabem, com antecedência, o perfil de quem estão tentando roubar. Pesquisa lançada nesta quinta-feira (14) em Manaus pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) com o Instituto Datafolha revela novos dados sobre violência e crimes patrimoniais no Brasil.

Os principais alvos de golpes por celular são das classes A e B, com alta escolaridade e média de idade entre 29 e 60 anos. A pesquisa indica que não há coincidência. Os criminosos escolhem para roubar pessoas que possam ter dinheiro o suficiente em bancos que estejam no celular, além de uma faixa etária acostumada a mexer em smartphones.

Existe uma mudança na configuração do crime patrimonial no Brasil. Há uma redução nos registros policiais de diversos roubos, mas um crescimento de estelionatos, com destaque para as modalidades digitais, como golpes por ligações e mensagens de texto no celular, por exemplo.

Os criminosos sabem o perfil das vítimas pagando por vazamento de dados. Entre 2018 e 2024, houve crescimento de 408% da taxa de estelionatos registrados pela polícia. Ou seja, golpes e fraudes nos quais o criminoso obtém vantagem ilícita com o prejuízo alheio. No mesmo período, houve uma redução de 50% nos registros de roubos.

“O criminoso que vai estourar um caixa eletrônico pode conseguir em cada caixa cerca de R$ 50 mil. Com três ou quatro celulares nas mãos, ele consegue esse dinheiro sem trocar tiro com a polícia”, disse Renato Sérgio de Lima, diretor presidente do FBSP.

Boa parte das relações pessoais, profissionais e bancárias estão nos smartphones da população. O crime organizado identificou nessa migração social uma janela de oportunidade para diversificar mercado, reduzir riscos de confrontos com as polícias e potencializar ganhos econômicos, segundo o estudo.

A pesquisa indica que fraudes digitais e vazamento de dados pessoais já superam roubos e demais crimes patrimoniais que exigem a interação física entre criminoso e cidadão. Um em cada três brasileiros sofreu golpe na internet que acarretou prejuízo financeiro direto, segundo o levantamento.

Os estelionatos e fraudes digitais são praticados tanto por criminosos individuais quanto por facções. PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho) já atuam de forma sistemática em fraudes bancárias e golpes digitais, com o uso do Pix, WhatsApp e cartões clonados.

O repórter viajou a convite do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.