SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Lojas nas fachadas de prédios construídos na última década em três áreas de alta renda nas zonas oeste e sul de São Paulo passam a maior parte do tempo desocupadas. Nos poucos casos em que esses espaços são alugados, eles tendem a interessar especificamente as redes de varejo Oxxo, Minuto Pão de Açúcar, Carrefour e Multicoisas, além do banco Itaú, segundo pesquisa encomendada ao escritório de arquitetura Campagner pela Associação Comercial de São Paulo.
O levantamento observou índices de vacância desses espaços em duas importantes vias da cidade, as avenidas Rebouças (zona oeste) e Ibirapuera (zona sul) e nos principais corredores comerciais da Vila Mariana (zona sul), que são os três eixos com maior presença das chamadas fachadas ativas dentro do universo de 34 setores considerados pela pesquisa.
A fachada ativa é uma resposta do Plano Diretor paulistano aprovado em 2014 para frear a produção de condomínios residenciais dentro de muralhas cujo efeito para a cidade são ruas pouco convidativas a pedestres e, consequentemente, com maior sensação de insegurança.
Assim, a legislação responsável por regras o desenvolvimento da cidade passou a dar incentivos econômicos e até obrigar em alguns casos a construção de lojas na interface de novos edifícios com a rua.
Nos três eixos em que a pesquisa observou o efeito da regra, o índice de vacância variou de 63% (na Rebouças) a 80% (na Vila Mariana). No eixo da avenida Ibirapuera, 70% dos empreendimentos estavam com suas fachadas ativas vazias.
Os três eixos escolhidos para amostra com 391 empreendimentos analisados, sendo 91 com fachada ativa estão dentro do quadrante sudoeste da capital, área que concentra os moradores com renda média mensal mais elevada do município.
O relatório aponta para um total de 1.109 prédios residenciais produzidos até 2023 em diversas regiões da cidade no intervalo ou seja, em todos os eixos observados. Desse total, 218 (20%) possuíam fachada ativa.
Ainda há comparação entre o lançamento de prédios residenciais com fachada ativa de 2006 a 2015, quando 5,6% das unidades possuíam esse tipo de construção, e de 2016 a 2023, quando 94,3% dos empreendimentos do tipo foram lançados com esse equipamento.
A conclusão do escritório aponta que o melhor aproveitamento do instrumento pode estar em curso com mudanças que ocorreram na revisão do Plano Diretor, em 2023, e pelo surgimento de consultorias especializadas em ajudar incorporadores imobiliários a lidar com esses espaços comerciais em seus edifícios.
Em nota, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento da gestão Ricardo Nunes (MDB) destacou que não teve acesso à pesquisa. O órgão reforçou, porém, que a revisão do Plano Diretor restringiu usos e incentivos nos casos em que tais equipamentos não poderiam contribuir para o objetivo de melhorar a relação dos edifícios com a cidade.
A prefeitura ainda diz ter aprimorado o regramento por meio de decreto, publicado no ano passado, por meio do qual detalhou a aplicação da fachada ativa, destacando seu uso como galeria comercial, integração com o paisagismo e continuidade do piso da calçada.