FOLHAPRESS – Comecemos pelas coisas sérias: por que tantos filmes de super-herói se esforçam para criar vilões perfeitamente inexistentes, quando existem tantos vilões à mão? Coube ao novo “Corra que a Polícia Vem Aí” buscar um vilão capaz de ser reconhecido pelo espectador. Não chega a nomear explicitamente Elon Musk e outros trilionários das big techs, mas a cara é deles e o tipo de ideias, ainda que em versão caricatura, também.
Será que apenas à comédia é lícito nomear inimigos reais? Bem, isso está feito e não é uma virtude menor. No filme, o vilão se chama Richard Cane (Danny Huston) e quer dominar a humanidade pela tecnologia. Fácil de reconhecer.
O segundo ponto é mais estranho: Liam Neeson no escorregadio território do burlesco? E fazendo o tenente Frank Drebin Jr, filho de Frank Drebin, ou seja, de Leslie Nielsen, o detetive mais imbecil do que desastrado (e era bem desastrado) dos filmes originais (de 1988 e 1991).
Neeson, ator dramático e herdando o cargo de policial abilolado e comediante burlesco é surpreendente e temerário. E, no começo, algumas gags se perdem porque Neeson perde o “timing”, quer dizer, o tempo da comédia. Logo, porém, ele se adequa ao ritmo do diretor (ou o inverso, tanto faz) e as coisas vão se ajeitando.
O humor de “Corra que a Polícia” é puramente paródico e com as limitações próprias dessa categoria de comédias. O alcance é limitado: o prazer do espectador depende, em boa medida, de suas referências a outros filmes, seriados etc.
Fora isso, tudo depende das atitudes absurdas de Drebin Jr., que se inscreve na tradição dos policiais incompetentes que, apesar disso (ou justamente por isso) vencem na vida. Caso do clássico inspetor Clouseau (Peter Sellers, notável) da série “Pantera Cor-de-Rosa”, de Blake Edwards.
Uma das muitas diferenças entre eles é que Clouseau tinha casos a resolver, mas não um inimigo apocalíptico a combater. Seu principal inimigo era o pobre chefe de polícia, inconformado com os êxitos de seu subordinado. Aqui, ao contrário, a chefe é uma personagem sem brilho, sempre com medo do prefeito ou do governador (de resto, isso é uma tradição que vem do filme policial “sério” dos EUA).
A personagem feminina, Beth Davenport (Pamela Anderson), tem bastante presença na trama (entre outras, Drebin Jr se apaixona por ela), mas não se destaca num filme em que o essencial da atenção vai mesmo para o tenente. Parece que está lá porque assinou o contrato. Nos originais, Priscilla Presley era mais viva e dava a impressão de se divertir mais.
O filme se sustenta essencialmente da sucessão de gags, ora mais felizes, ora menos, num gênero que, como já notou um crítico, anda desaparecido e, sim, faz falta. Para crianças sobretudo, mas não só.
O novo “Corra que a Polícia Vem Aí” não tem a dimensão dos burlescos dos irmãos Farrelly em especial “Debi & Loide” e não iguala o melhor dos filmes da própria série, mas serve honestamente como diversão e é um desses trabalhos que as crianças são capazes e ver e capazes de aprender a gostar de cinema daí em diante. Não é um mérito menor.
Nota final: é um filme que, mesmo na sessão para imprensa, foi apresentado em versão dublada. Isso significa que deve ter havido várias adaptações, adaptando gags verbais para melhor compreensão do espectador brasileiro. Dublagens podem até ter vários inconvenientes, mas liberam o olhar para a imagem.
CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ!
– Avaliação Bom
– Quando Estreia nesta quinta (14), nos cinemas
– Elenco Liam Neeson, Pamela Anderson, Paul Walter Hauser
– Produção EUA, 2025
– Direção Akiva Schaffer