RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A sociedade brasileira é extremamente desigual, mas sabe pouco sobre a origem das suas disparidades, segundo o pesquisador Michael França, coordenador do Neri (Núcleo de Estudos Raciais do Insper) e colunista do jornal Folha de S.Paulo.

“A população precisa absorver mais esse debate, seja o pobre, seja o rico”, diz o economista.

Em uma tentativa de chamar a atenção para o tema, França e o sociólogo Fillipi Nascimento, que também atua como pesquisador do Neri, lançam neste mês o livro “A Loteria do Nascimento: filha do porteiro termina universidade, mas não alcança filho do rico”.

O título é uma referência às desigualdades que surgem já a partir do berço e que se perpetuam de geração para geração no país.

A obra discute como privilégios muitas vezes são confundidos com conquistas pessoais e como esse contexto dificulta a abertura de oportunidades para grande parte da população.

Segundo França, o objetivo é fazer com que o debate saia do terreno superficial, do “papo de boteco”, e não fique restrito ao meio acadêmico.

“A gente tenta explicar ao máximo como o ponto de partida é desigual no Brasil”, afirma.

“As desigualdades e os processos discriminatórios, ao final do dia, geram mecanismos de vantagens ou desvantagens, dependendo do grupo em que você está, de onde você nasce, do gênero, da raça, da sexualidade.”

Para explicar as diferenças, os autores recorrem a histórias de personagens fictícios que ilustram situações já conhecidas por quem estuda o assunto.

“Existe uma dificuldade muito grande na academia e nas pesquisas da área econômica de traduzir certos debates, de tornar as discussões acessíveis”, afirma Nascimento.

“A contribuição do livro é traduzir um debate denso, que é a mobilidade social, para um público não acadêmico”, completa.

Os autores também colocam no livro experiências pessoais. “Foi curioso que boa parte das experiências que tinha, enquanto pesquisador negro, periférico e nordestino, também foi vivida pelo Michael. A gente encontrou muitas similaridades nas trajetórias, e isso facilitou o processo de escrita”, diz Nascimento.

De acordo com França, um ponto de partida para o projeto veio de uma coluna que ele publicou na Folha de S.Paulo em julho de 2022. O texto em questão leva o título “Filho do porteiro termina universidade, mas não alcança o filho do rico” –um enunciado quase idêntico ao do livro.

Assim como a obra, a coluna analisa disparidades que as classes mais pobres enfrentam no mercado de trabalho mesmo após a conclusão do ensino superior.

Conforme os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados em maio, a desigualdade de renda medida pelo índice de Gini voltou a cair no país em 2024, renovando o menor patamar de uma série histórica iniciada em 2012.

O órgão, porém, ressaltou que o Brasil “inegavelmente” segue “bastante desigual”. A avaliação foi endossada por especialistas de fora do instituto.

Em 2024, segundo o IBGE, os 10% mais ricos recebiam o equivalente a 13,4 vezes a renda dos 40% mais pobres no país –R$ 8.034 e R$ 601 per capita (por pessoa), respectivamente.

O lançamento do livro dos pesquisadores do Insper está agendado para quarta-feira (20), a partir das 18h, no auditório da instituição, em São Paulo (rua Uberabinha, s/n, Vila Olímpia). O evento é aberto ao público.

Mais informações sobre o lançamento e as inscrições podem ser consultadas no site do Insper.

A LOTERIA DO NASCIMENTO: FILHA DO PORTEIRO TERMINA UNIVERSIDADE, MAS NÃO ALCANÇA FILHO DO RICO

– Preço R$ 49 (pré-venda)

– Autoria Michael França e Fillipi Nascimento

– Editora Jandaíra