SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ninguém sabe quem é a cantora Ado, que vive sob as sombras, mas mesmo assim centenas de pessoas pulavam e berravam ao ritmo do seu pop frenético, que fez tremer o chão do Espaço Unimed nesta quarta-feira (13).

Foi na casa de shows paulistana que a japonesa fez seu primeiro show no país. Surgiu dentro de uma gaiola colocada em cima do palco. Só dava para ver sua silhueta —Ado requebra, pula, se joga no chão e faz todo tipo de pose.

É proibido fotografar, filmar e até usar binóculos no show, o que reforça o clima de mistério que ronda a cantora. Ela virou sensação no Japão, e agora no mundo todo, depois de sua música “Usseewa” viralizar, há cinco anos.

Ado nunca mostrou o rosto. Dá poucas entrevistas, e raramente aparece em público —quando faz isso, está de máscara. Nos bastidores dos shows, poucos têm acesso a ela. A segurança é pesada para garantir o anonimato, e aumentar seu sucesso —despertar curiosidade virou uma estratégia de marketing.

Não há pistas de quem Ado era antes de virar artista. Fãs até teorizam, mas nunca chegaram a uma conclusão. É diferente de outros artistas que escolhem não mostrar o rosto, como Sia e o duo Daft Punk, que já saíram descobertos a público antes de ficarem muito famosos.

Uma funcionária brasileira da produção do show subiu ao palco antes de Ado, que atrasou 43 minutos, para lembrar os fãs que era proibido fotografar. Quem desobedecesse, ela disse, seria retirado da casa de shows e não teria os ingressos reembolsados.

Os convites esgotaram, aliás. Ado é uma das poucas artistas do j-pop, o pop feito no Japão, a conseguir exportar sua música de forma efetiva. Muito mais autocentrado que o k-pop, o pop sul-coreano, o mercado japonês protege seus artistas e pouco se preocupa em fazê-los darem certo fora dali.

É diferente das bandas sul-coreanas Blackpink e BTS, por exemplo, que cantam em inglês em várias músicas, fazem sucesso no mundo todo e têm até parcerias com artistas como Lady Gaga, Selena Gomez e Coldplay.

Para Ado, menos é mais, mas nem sempre. Apesar de ter optado pela discrição pública, no palco ela faz um espetáculo um tanto megalomaníaco. As músicas são barulhentas, com muita bateria e guitarra, e repletas de gritos rasgados. Ado tem uma voz potente, difícil de imitar, o que reforça a sensação de que só pode ser ela mesma quem está ali, não uma farsante qualquer. Está mais para uma rockstar que uma cantora pop.

Ela nunca sai da gaiola, o que pode criar uma sensação de monotonia. Mas não para os fãs, que entupiam a pista do Espaço Unimed até o fundo. Eles balançaram seus bastões coloridos ao ritmo das músicas sem parar, ao longo da uma hora e meia de show.

Ado demora a interagir com o público. Fez isso só na reta final, quando parou a apresentação por cerca de dez minutos para discursar à plateia. Ela arriscou um português, mas pouco, só ao cumprimentar e agradecer. Depois seguiu falando em japonês. Recebia aplausos a cada frase que concluía, ainda que boa parte do público não fizesse ideia do que ela estava falando.

Ado é um sucesso recente, mas intenso. Fãs dizem que ela é como Billie Eilish em começo de carreira —uma até a chamou de Beyoncé japonesa. Seu primeiro sucesso, “Usseewa”, impressionou por falar de forma crítica sobre a sociedade japonesa, pouco comum na música pop de lá. Depois Ado lançou um álbum e dublou uma personagem no filme “One Piece: Red”, inspirado na famosa saga de mangás. De lá para cá, ela só cresceu.