BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – Em reunião em Belém nesta quarta-feira (13), o Fórum Nacional de Governadores fez uma declaração de apoio à realização da COP30 na capital paraense, em meio a críticas aos preços abusivos de hospedagem e à infraestrutura da cidade.

Os governadores, em documento, expressam “apoio irrestrito” a Belém como sede da conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas) e também da cúpula dos líderes, que reunirá chefes de Estado e de governo poucos dias antes do evento principal.

Na carta, dizem apoiar a cidade “considerando não apenas o significado de seu propósito de realização na região amazônica, mas também as providências estruturais que estão sendo efetivamente adotadas pelos poderes públicos e pela iniciativa privada para a garantia de seu sucesso”.

O segundo e último parágrafo da curta declaração afirma que a realização da COP30 “reforça, ainda, a soberania da Amazônia e o reconhecimento do valor e dos direitos de nossos povos originários, projetando ao mundo a relevância da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentável na região”.

O encontro dos governadores, que também contou com a participação do presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, teve como objetivo discutir os preparativos para a conferência. A reunião aconteceu no prédio do futuro Centro de Economia Criativa, no Parque da Cidade, que fará parte da chamada zona verde (“green zone”) do evento -área usada para atividades da sociedade civil nas cúpulas climáticas.

Além do anfitrião, Helder Barbalho, participaram 17 representantes estaduais, entre governadores e vices: Gladson Camelí (Acre), Ronaldo Lessa (Alagoas), Clécio Luís (Amapá), Wilson Lima (Amazonas), Jade Romero (vice, Ceará), Renato Casagrande (Espírito Santo), Daniel Vilela (vice, Goiás), Mauro Mendes (Mato Grosso), Barbosinha (em exercício, Mato Grosso do Sul), Lucas Ribeiro (vice, Paraíba), Raquel Lyra (Pernambuco), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte), Gabriel Souza (vice, Rio Grande do Sul), Sérgio Gonçalves (vice, Rondônia), Felicio Ramuth (vice, São Paulo), Fábio Mitidieri (Sergipe) e Wanderlei Barbosa (Tocantins).

Para Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo, a “expectativa é que seja um evento grandioso, seja um evento em que Belém, o Pará, a Amazônia e o Brasil possam receber bem pessoas do mundo todo”. “Acho que aquilo que está fora do lugar hoje, como no caso das acomodações, vai chegar ao seu devido lugar”, afirmou à Folha.

O governador quer levar as experiências capixabas para a COP30, como é o caso do fundo de descarbonização. “Temos um fundo soberano que foi capitalizado com recursos de royalties de petróleo. Nenhum outro estado tem. Eu vou financiar a transição energética com a receita do petróleo. A gente usa a força de um inimigo, que é o combustível fóssil.”

Para ele, essa ação pode ser aplicada no caso de uma possível exploração de petróleo na margem equatorial. “Pode-se usar parte dessa receita para poder fazer a proteção da floresta e a transição energética”, opina.

Para o vice-governador do Rio Grande do Sul, Gabriel Souza (MDB), “a declaração reforça a importância desse encontro histórico [a COP30], que colocará a Amazônia no centro das discussões globais”.

“O RS viveu de perto, no ano passado, os impactos dramáticos de um evento climático extremo. A enchente histórica no nosso estado mostra que não estamos falando de um problema distante, mas de algo que já afeta milhões de pessoas”, afirma.

“Por isso, defendemos a necessidade de agir para mitigar esses efeitos e, ao mesmo tempo, cobrar que os países mais ricos cumpram seus compromissos. A conta não pode ficar apenas para as nações em desenvolvimento. O Brasil, que tem uma matriz energética majoritariamente limpa e renovável, tem condições de liderar essa cobrança na COP30”, completa.

Governadores na COP30

O presidente da COP, André Corrêa do Lago, destacou a importância dos governadores para o evento da ONU.

“Os entes subnacionais são absolutamente essenciais, porque, quando os países tomam grandes decisões e assinam grandes acordos sobre o clima, quem vai ter que implementar, depois, são os governos subnacionais e das cidades, o setor privado, o trabalho da academia, dos cientistas e das empresas de tecnologia”, afirmou após o encontro.

O embaixador ressaltou ainda o que chamou de palavra-chave da reunião: união. “Vi todos os governadores unidos, entusiasmados com o que viram das obras da COP.”

Em resposta às críticas aos valores da hospedagem e à infraestrutura da capital paraense, ele brincou que o único plano B que existe é o “B de Belém”.

“Vai ser uma COP absolutamente extraordinária. A cidade está fantasticamente adiantada e pronta para receber o evento. E, com o carinho e o entusiasmo da população local, eu acho que vai ser sensacional.”

O governador Helder Barbalho (MDB) afirmou que combaterá os valores abusivos da hospedagem. “Nós continuaremos trabalhando, seja com os olhares de fiscalização da Defensoria Pública do Ministério Público, dos órgãos de proteção ao consumidor”, disse.

“Temos a notificação aos operadores de plataformas que estejam dando publicidade a propostas abusivas e às atividades econômicas que estejam dando prosseguimento a esse tipo de postura”, citou.

Hospedagem para todos os países

Barbalho frisou que “2.320 quartos estão disponíveis exclusivamente para os 196 países signatários [da Convenção do Clima da ONU] com seus respectivos delegados”. A reserva foi anunciada no final de julho.

“São dois pacotes. Um de 1.080 quartos para os países de baixo poder aquisitivo, para delegações de até 15 membros, com diárias entre US$ 100 a US$ 200, e outro com 1.240 quartos, para países que têm maior capacidade financeira, para até 10 membros, com diárias até US$ 600”, detalhou.

Barbalho afirmou ainda que agora usa o termo “quartos”, não mais “leitos”. “Porque, diferentemente da concepção do leito, que é a cama, em que uma delegação com um conjunto de pessoas divide o mesmo quarto, neste caso específico, não há divisão de quarto. Cada delegado tem seus próprios quarto e banheiro, para que tenha a sua privacidade, e essa é uma exigência que a ONU está fazendo.”

Para o governador, esses pacotes vão garantir a participação de todos os países.

“Quem quiser trazer mais gente [além da cota reservada], se responsabiliza em buscar hospedagem. A China, por exemplo, me comunicou ontem, por meio do seu embaixador, que está em Belém, que virá com 1.000 pessoas, entre iniciativa privada e membros do governo. A China terá 10 quartos disponíveis no pacote de preço diferenciado, mas o resto será por sua conta.”