FOLHAPRESS – Com a onda de sucessos que começou com o segundo “Gato de Botas” influenciado pela aclamada saga “Aranhaverso” a Dreamworks superou um momento de crise e tem se distanciado do fotorrealismo de produtoras como a Pixar e a Illumination.
Se os concorrentes insistem em visuais que refletem a realidade, “Os Caras Malvados 2” reforça a segurança de um estúdio cada vez mais certeiro em desenhar a fantasia. Não se trata de ignorar que “Madagascar”, “Kung Fu Panda” e outras pérolas do passado já traziam animais falantes e situações absurdas. Mas sim de reconhecer um esforço hoje raro nas animações.
Meses depois do perdão público, Lobo e sua trupe de ex-criminosos penam em ser aceitos pela sociedade. Entrevistas de emprego fracassam aos montes e o retorno à vilania soa tentador. Quando novos delinquentes passam a espalhar o caos, eles tentam controlar seus instintos e ajudar a comissária local.
Nesse universo, que lembra uma versão juvenil das histórias de Quentin Tarantino e Steven Soderbergh, nada é exatamente original. Mas para o francês Pierre Perifel, que volta à direção após estrear com o antecessor, o importante é eletrizar a trama de golpes mirabolantes.
A “câmera” passeia por cenários coloridos e nunca reduzidos a uma única textura. Ela segue a rapidez dos membros da gangue, e a movimentação pouco se assemelha à de um aparelho real. A montagem também adota uma aceleração típica dos desenhos, variando as imagens em questão de segundos sem que se perca a clareza de tudo que acontece para dar ainda mais impacto às fugas atrapalhadas.
Mesmo que se apropriem de inspirações internacionais a divertida sequência inicial, por exemplo, lembra a glória do grupo com um roubo no Oriente Médio o filme transforma o mundo que conhecemos e tudo está sempre em agitação.
Elementos de uma mesma cena são animados com diferentes frame rates quantidade de quadros exibidos por segundo, percebida de formas variadas e detalhes saltam aos olhos durante perseguições intensas.
Sejam partículas de escapamentos turbinados, sejam linhas que realçam a velocidade dos personagens, são grafismos que misturam animação 2D e 3D e sugerem estarmos diante de pinturas vivas. A disputa ambientada em um ringue de luta reflete esse recurso.
Na tentativa de proteger um cinturão valioso, os comparsas se revezam com habilidades específicas. Dos golpes esguios de Cobra aos truques tecnológicos de Tarântula hacker pequenina que engrandece o projeto pela escala que objetos assumem ao seu redor, os ataques surgem em traços diversos, nunca dissociados das transformações dos personagens.
O frenesi de estilos que vão de contornos grosseiros, em momentos de maior ansiedade, à delicadeza de animes põe em xeque a duplicidade da equipe e acompanha seus balanços entre o bem e o mal. É um conceito extraído do anterior, mas que volta renovado e mais ambicioso.
Entre as multidões de policiais que varrem as ruas e a adição de inimigos que forçam Os Caras Malvados a questionar sua natureza, o grande prazer é esperar pelas próximas cenas de ação. Ainda que a rigidez visual dos salões de luxo e laboratórios do governo situe os acontecimentos, a liberdade domina os assaltos que acontecem.
A previsibilidade como manter o disfarce diante da aparição de um velho conhecido? Como contornar um sistema impossível de hackear? se renova, já que as sequências alternam entre a esperteza do roteiro, hábil em diálogos charmosos e resoluções pela lábia, e o encantamento típico das peripécias de Tom Cruise.
Nem por isso, e talvez por depender do público alvo, é difícil antecipar a conclusão moral de “Os Caras Malvados 2”. Mas há muito para se admirar numa sequência que, por toda a duração, consegue reinventar jogadas bastante conhecidas.
Nesse sentido, a cereja do bolo é a ida ao espaço sideral, onde o roubo de reluzentes barras de ouro ilumina um cinzento vácuo intergaláctico. De certa forma, espelha a própria existência do filme. Numa indústria tomada pela timidez e pela diluição do que separa animações e live-actions, o desenho reafirma a Dreamworks como um dos poucos estúdios que ainda acreditam na imaginação.
OS CARAS MALVADOS 2
– Avaliação Muito bom
– Quando Estreia nesta qui. (14) nos cinemas
– Classificação 10 anos
– Elenco Sam Rockwell, Marc Maron e Craig Robinson
– Produção Estados Unidos, 2025
– Direção Pierre Perifel