PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Antes excepcionais, as ondas de calor na França, ou “canicules”, como são chamadas, parecem ter se tornado a norma. A segunda onda deste ano, pouco mais de um mês depois da primeira, com temperaturas de até 43°C, começou na sexta-feira (8) e pode durar até duas semanas, segundo o órgão local de previsão do tempo, Météo-France.
Os 43°C foram registrados na segunda-feira (11) em Mussidan, pequena cidade próxima a Bordeaux, maior cidade do sudoeste francês, onde também foi quebrado o recorde histórico: 41,6°C, 14 graus acima da máxima média para os meses de agosto. Nas próximas décadas, o aquecimento pode afetar a produção de vinhos, uma das principais atividades econômicas da região.
No pico do Mont-Blanc, ponto culminante dos Alpes (4.806 metros), o termômetro registrou temperatura acima de zero, algo que só ocorreu três vezes desde o início das medições, em 1954. Por falta de neve, a cada ano, a França perde duas ou três de suas 250 estações de esqui.
No fim de semana, a temperatura da água nas praias do Mediterrâneo pode chegar a 30°C, 7 graus acima da média nesta época do ano. O calor provocou a proliferação de águas-vivas nas praias.
Desde 1947, quando uma “canicule” histórica bateu vários recordes de temperatura, o governo francês mantém registro das ondas de calor, definidas como “episódios de temperatura anormalmente elevadas durante vários dias”. Nos últimos 78 anos, foram 51 ondas. Porém, destas, 27 ocorreram desde 2010. O ano recorde foi 2017, com quatro.
A mais catastrófica onda de calor francesa ocorreu na primeira quinzena de agosto de 2003. Com base na média normal de óbitos no mesmo período em outros anos, calcula-se um excedente de 20 mil mortes na França (e cerca de 70 mil em toda a Europa). Muitos eram idosos morando sozinhos ou em casas de repouso.
À época, enfermeiros denunciaram a falta de pessoal nos hospitais, agravada pelo fato de agosto ser o mês tradicional de férias dos franceses.
“Em 2100, um verão quente como o de 2003 será considerado fresco”, prevê o pesquisador Pascal Yiou, do Laboratório de Ciências do Clima e do Meio Ambiente.
As residências francesas são notoriamente mal preparadas para o calor. A líder da ultradireita francesa, Marine Le Pen, líder nas pesquisas para a eleição presidencial de 2027, causou polêmica ao prometer um plano de subsídio de aparelhos de ar-condicionado. Ambientalistas alertaram para o impacto ambiental do consumo de energia desses aparelhos.
Atribui-se ao calor constante e excepcional o aumento da frequência e da intensidade dos incêndios florestais na França e em todo o sul da Europa. Na semana passada, um incêndio que durou três dias devastou 170 km² no departamento do Aude, perto da cidade de Narbonne, no sul francês, matando uma pessoa.
Para prevenir incêndios, o governo do departamento dos Pirineus-Atlânticos, perto da fronteira espanhola, proibiu churrascos nos parques da região e a soltura de fogos de artifício.
Algumas cidades francesas elaboraram planos de adaptação às mudanças climáticas. Paris despoluiu o Sena, rio que corta a capital francesa, e este ano autorizou pela primeira vez que banhistas se refresquem em pontos específicos do rio durante o verão.