SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A concessionária Farah Services, que administra a ciclovia da marginal Pinheiros, voltou a fechar a via no horário noturno desde abril, em razão da falta de funcionamento de energia elétrica nos postes lá instalados. A decisão, segundo Michel Farah, presidente da empresa, se deu por motivo de segurança.

O problema gerou reclamações de ciclistas, tanto os que usam a ciclovia para atividades físicas como os que utilizam a bicicleta como meio de transporte ou para fazer entregas. Farah afirma que tem a expectativa de resolver o problema em até três meses, mas os outros envolvidos evitam falar em prazos.

A falta de iluminação vinha gerando colisões entre ciclistas e atropelamentos de capivaras, animal nativo e de hábito noturno que vive nas margens do rio. “Não foram muitos acidentes, mas foram suficientes para decidirmos pelo fechamento até que a situação seja resolvida”, afirma.

Segundo ele, a iluminação foi doada pela Enel durante o governo João Doria (então no PSDB e hoje sem partido). Com a mudança no governo estadual, no entanto, o processo de doação ao poder público não foi concluído.

Assim, não ficou resolvido quem banca o gasto com a energia elétrica dos postes nem quem é responsável pela manutenção de postes e lâmpadas. Em vias públicas urbanas, esse custo é das prefeituras. A marginal é uma via estadual, e a ciclovia está sob a concessão da Farah desde 2000.

O empresário afirma que sua concessionária não pode receber a doação. “Como empresa privada, ficaríamos sujeitos a pagar uma conta de consumo de cliente comum, cujos custos são mais elevados do que dos clientes públicos”, explica. Por isso, aguarda a solução entre a Enel e o governo paulista.

As partes admitem o problema, mas não dão detalhes sobre a situação nem prazos para sua solução. Em nota, a Semil (Secretaria Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo), da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirma que “está em contato com a Enel e a gestão do parque para solucionar o problema”.

Em nota, a Enel diz que busca uma solução para o problema e que já realizou “uma vistoria detalhada do local em parceria com a Farah Service” para identificar os equipamentos que necessitam de reparo ou substituição para garantir a funcionalidade do trecho. “Ambas as empresas estão, neste momento, alinhando um cronograma de atuação conjunto, que definirá as próximas etapas para a execução dos trabalhos”, diz.

A abertura da ciclovia no período da noite começou durante a pandemia. “A gente começou a perceber um grande número de trabalhadores de ciclologística que pedalavam durante a noite pela marginal e, para resguardar a segurança deles, passamos a abrir a ciclovia durante a noite”, conta Farah.

A partir de então, os acessos à ciclovia passaram a permanecer abertos no trecho de Pinheiros até a Vila Olímpia até as 23h para entrada, e a ciclovia passou a fechar à meia-noite. O horário de abertura é às 5h. A iluminação também pode facilitar a abertura em um horário mais cedo, o que atenderia grupos de treinamento.

O dono da concessionária afirma ter a expectativa de atender outra demanda dos ciclistas nos próximos meses: a reabertura do trecho interditado para a construção da linha 17-ouro, o monotrilho que deve ligar o aeroporto de Congonhas à zona sudoeste. A previsão é que a linha comece a operar em caráter experimental no final do primeiro trimestre do ano que vem.

O fim da obra deve permitir que a ciclovia volte a ser ininterrupta ao longo de toda a marginal. Para isso, além da conclusão das obras, que estão com mais de 11 anos de atraso, a concessionária depende da reconstrução do trecho embaixo da obra, que ficou praticamente destruído.

Ainda não há nenhum acordo sobre quem vai bancar a reconstrução do trecho. A Farah afirma esperar que o trabalho seja feito pelos responsáveis pela construção. Questionado, o governo do estado não se manifestou sobre a reparação do trecho destruído. A ViaMobilidade declara que será a operadora do trecho, mas não tem qualquer relação com a sua construção.

A vereadora Renata Falzoni (PSB) cogita destinar uma emenda parlamentar para a reconstrução da via. Segundo assessores da legisladora, não seria a primeira vez que a prefeitura colocaria recursos na ciclovia, mesmo a obra sendo estadual.

A recuperação é necessária também no trecho posterior à obra, uma vez que os caminhões pesados entram na ciclovia pelo trecho sul e percorrem alguns quilômetros por dentro dela. Nesta semana, repórteres da Folha percorreram o trecho e viram alguns problemas no piso, como partes craqueladas e trechos com desmoronamentos nas laterais.

Responsável pela obra da estação Santo Amaro, a Viamobilidade entregou uma rampa que permite acesso direto dos ciclistas à ciclovia. “No dia 10 de junho, foi realizada uma reunião com representantes da Farah Service, empresa responsável pela gestão da ciclovia, ocasião em que foi feita a vistoria técnica do trecho que compreende a estação. Na data, foi atestado que a área estava adequada para uso, sendo liberada para os ciclistas”, afirma, em nota.