SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As forças de Vladimir Putin romperam as defesas ucranianas em um setor vital da região de Donetsk, no leste do país invadido em 2022, ameaçando provocar o colapso da posição de Kiev às vésperas do encontro entre o presidente russo e Donald Trump no Alasca.
A ação está sendo monitorada em tempo real por observadores militares dos dois países e ocorre a leste da cidade de Dobropillia. O sentimento na Ucrânia varia de pânico a extrema apreensão, embora as Forças Armadas digam que a situação é crítica, mas controlável.
O avanço ocorreu na forma de duas colunas, que cobriram de domingo (10) para segunda (11) 10 km de terreno, segundo o referencial mapa da guerra do site ucraniano DeepState. Nesta terça (12), um analista militar em Moscou estimou à Folha que houve de 5 km a 8 km de avanço adicional.
O movimento parece visar criar um novo flanco cortando as já afetadas linhas de suprimento da região de Kramatorsk, a capital regional provisória da região desde que Donetsk, que compartilha o nome com a província, foi ocupada por separatistas pró-Rússia na guerra civil iniciada em 2014.
Na semana retrasada, os russos haviam tomado um cidade estratégica do outro lado do caldeirão que está sendo montado naquele setor da frente de batalha, Tchasiv Iar, após 16 meses de batalha. O avanço de pelo menos 10 km é muito expressivo: ao longo do último ano, Moscou entrou em menos de 5 km em grande parte da região.
Segundo Bohdan Krotevitch, um ex-comandante da infame unidade militar Azov, o colapso é iminente. “Pokrovsk está cercada”, disse ele no Telegram acerca de um importante centro logístico na região atacada. Já o influente canal militar Tatarigami_UA diz que a crise é séria, mas ainda reversível.
A situação se desenrola enquanto os preparativos e as pressões em torno da primeira cúpula entre Putin e Trump no segundo mandato do americano é preparada. Ela ocorrerá na sexta (15) e está sendo objeto de críticas do governo de Volodimir Zelenski e aliados europeus.
“Nós vemos que o Exército russo não está se preparando para acabar a guerra. Ao contrário, eles estão fazendo movimentos que indicam preparações para novas operações ofensivas. Sob essas circunstâncias, é importante que a unidade do mundo não esteja ameaçada”, escreveu o presidente ucraniano no X nesta terça.
Na véspera, ele havia sido admoestado por Trump novamente acerca da necessidade de ceder territórios para chegar a um acordo de paz, como quer Putin. O americano até falou que os russo também terão de abrir mão de conquistas, mas o fato é de que não há solo controlado por Moscou ocupado por Kiev, enquanto o Kremlin está em quase 20% da Ucrânia.
A joia da coroa da campanha russa, após o fracasso estratégico de dominar Kiev e derrubar Zeleneski de forma rápida em 2022, é Donetsk. Cerca de 30% da região ainda é ucraniana, e a vizinha Lugansk, que forma com ela a histórica área do Donbass, já está toda dominada por Moscou.
Elas são 2 das 4 áreas anexadas ilegalmente por Putin no primeiro ano da guerra. Em outras duas, Kherson e Zaporíjia, no sul, a Rússia controla de 70% a 75% da área, dependendo da estimativa. Em memorando já entregue aos ucranianos, o russo pede todas elas para aceitar um cessar-fogo, além de vários outros itens, como a neutralidade militar do vizinho.
Zelenski diz não aceitar perder nada, mas é senso comum mesmo entre seus aliados europeus que isso ocorrerá. Uma saída honrosa possível é ceder o terreno a Putin sem reconhecer oficialmente o controle russo, exigindo negociações futuras.
Mas o problema maior para o ucraniano foi o denunciado por ele desde que Trump, que havia pressionado o líder russo com a ameaça de sanções mais duras que atingiriam países aliados que compram petróleo de Moscou, mudou de ideia novamente e voltou a abrir a porta a Putin.
A cúpula foi uma vitória do americano por ter sido imposta sob coação, mas na prática que sai ganhando até aqui é o russo, que conseguiu um tratamento especial de igual para igual com os EUA. Isso é vital para sua propaganda doméstica, pois tira o foco das perdas brutais do país no conflito, e do ponto de vista externo isola Kiev e a Europa.
Reunidos no gelado Alasca, longe de todos, Trump e Putin darão a inescapável impressão de que a política de força bruta esposada por ambos dará as cartas ao fim. Como disse o americano na segunda, é possível que a cúpula “acabe mal” e não haja nenhum acordo, mas o fato de a discussão excluir Zelenski fala por si.
Trump ainda quer uma cúpula posterior incluindo o ucraniano, ou ap enas entre Zelenski e Putin, mas observadores no Kremlin consideram a possibilidade remota, até porque neste momento a mão militar mais alta da rodada está com o russo.