SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Trump quer substituir o Brasil como o maior exportador de soja para a China, Haddad toma bolo do secretário do Tesouro americano e outros destaques do mercado nesta terça-feira (12).

**TRUMP AFUGENTE A CLIENTELA DO BRASIL**

Quem está com a bola apita o jogo. Neste momento, quem dá as cartas é Donald Trump, que pode deixar o Brasil ainda mais desfalcado usando o tarifaço.

O presidente americano pediu que a China quadruplique suas compras de soja nas negociações para estender a trégua comercial entre as duas potências econômicas.

Se a demanda do republicano for atendida, o Brasil, sendo o maior exportador de soja para a China, pode sentir os efeitos colaterais.

ANIMOU

Trump fez o apelo em uma publicação na Truth Social, rede social da qual é dono, na noite de domingo. Na manhã desta segunda-feira (11), o contrato de soja mais ativo na Bolsa de Chicago ganhava 2,2% às 7h (horário de Brasília).

Não é para menos: a China é o maior comprador de soja do mundo e a perspectiva de vender mais para o país deu gás aos produtores do grão em solo americano.

Hoje, um pouco menos de um quarto das importações de soja chinesas vem dos EUA. A maioria do restante vem do Brasil.

Quadruplicar os embarques dos grãos plantados nos EUA inverteria as posições e colocaria os americanos como principais fornecedores da China.

PARCIMÔNIA

“É improvável que a China compre quatro vezes o volume habitual de soja dos Estados Unidos”, disse Johnny Xiang, fundador da AgRadar Consulting, sediada em Pequim.

Em um acordo comercial assinado durante o primeiro mandato de Trump, a China concordou em aumentar as compras de produtos agrícolas dos EUA, incluindo a soja. No entanto, Pequim ficou muito aquém do cumprimento dessas metas.

SAIU PELA CULATRA(?)

Há quem diga que o presidente americano é quem deve temer a perda das importações chinesas de soja.

Neste ano, depois das brigas tarifárias entre China e Estados Unidos (que você pode rever aqui), a China ainda não comprou nenhum grão norte-americano para o quarto trimestre, alimentando preocupações no agronegócio do país rival.

“Houve vários sinais de que a China está preparada para renunciar totalmente à soja dos EUA este ano”, disse Even Rogers Pay, analista agrícola da Trivium China.

[+] Aí vão alguns acontecimentos importantes do tarifaço para que você não perca o bonde andando.

EUA e China estenderam a trégua comercial por mais 90 dias. O prazo do cessar-taxa acabaria nesta terça-feira.

O ouro está fora do perigo de tarifas, afirmou Trump, após especulações sobre uma possível taxação do metal precioso.

Especialistas se preocupam com o acordo entre a presidência americana, a Nvidia e a AMD —pode criar um “mundo perigoso” para a concorrência no setor.

**DO LADO DE CÁ DO EQUADOR**

Enquanto EUA e China tentam resolver suas questões, por aqui, o governo brasileiro está tentando arrumar a casa depois que a sobretaxa de 50% a exportações para os americanos entrou em vigor.

Atrapalhadas… têm sido as tentativas de negociar com o governo Donald Trump. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinha uma reunião marcada com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, nesta quarta-feira (13).

O encontro foi cancelado nesta segunda-feira e o chefe da pasta econômica atribuiu a culpa do bolo que tomou à atuação de figuras da extrema direita brasileira junto à Casa Branca, como o deputado Eduardo Bolsonaro.

“Recebemos essa informação um ou dois dias depois do anúncio [da reunião]. O Eduardo, publicamente, deu uma entrevista [dizendo] que ia procurar inibir esse tipo de contato entre os dois governos, porque o que estava em pauta não era questão comercial”, afirmou Haddad.

O ministro reforçou que o cancelamento da agenda com o Tesouro americano ocorreu após a declaração de Eduardo. “Não há coincidência nesse tipo de coisa”, declarou em entrevista à GloboNews na segunda-feira.

Para a coluna Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, o deputado disse não ter culpa do cancelamento.

ALÔ, ITAMARATY?

Um integrante do Itamaraty também minimizou uma eventual ação de Eduardo no cancelamento da reunião entre Haddad e Bessent.

Para esse diplomata, o encontro foi desmarcado porque os canais de negociação com Washington seguem fechados.

Enquanto Trump não definir um interlocutor apto a conversar com o Brasil nos termos que o presidente americano indica querer —passando pela salvação de Jair Bolsonaro e punição a Moraes—, a negociação continuará travada. Por isso, não haveria razão para uma conversa entre Bessent e Haddad.

Alguém atendeu. Lula conversou por cerca de uma hora com o líder da China, Xi Jinping, na noite desta segunda (11, manhã de terça, 12, em Pequim). A conversa foi um pedido do brasileiro.

“A China está pronta para trabalhar com o Brasil para estabelecer um exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do Sul Global”, disse Xi por telefone.

O líder chinês afirmou ainda que Pequim “apoia o povo brasileiro na defesa de sua soberania nacional” contra o unilateralismo.

**PROBLEMAS NO PARAÍSO**

Os astros estão desalinhados e o órgão regulador do mercado de capitais brasileiro está em crise institucional. Vamos entender o que está acontecendo nos bastidores da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

GOTA D’ÁGUA

Em 18 de julho, o então presidente da comissão, João Pedro Nascimento, renunciou ao cargo. A atitude escancarou pressões políticas que cercam casos polêmicos no órgão, colocando o colegiado numa crise inédita.

Apadrinhado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), JP, como é conhecido, deixou o cargo a dois anos de terminar o mandato, aumentando o desfalque na diretoria da autarquia.

A CVM é responsável por fiscalizar cerca de R$ 16,7 trilhões em ativos negociados no mercado, como ações, fundos de investimento e debêntures.

S.A.C.

A Folha de S.Paulo conversou com 22 pessoas próximas ao assunto. Todas concordam que a CVM passa por um dos piores momentos da sua história de quase 50 anos a serem completados em 2026.

A reportagem também ouviu críticas sobre a falta de prioridade do governo Lula para resolver os problemas do órgão, cuja estrutura de funcionários e recursos não acompanham o crescimento do mercado de capitais.

Em 2024, a autarquia arrecadou R$ 1,24 bilhão, mas recebeu um orçamento de apenas R$ 36,3 milhões para investimentos e custeio da máquina em 2025 –mesmo valor dado como pré-limite para 2026.

Não é bem assim… segundo o Ministério da Fazenda, que rebate as críticas. A pasta afirma que o governo aumentou o orçamento da CVM e aprovou a realização de um concurso público com 60 vagas, o que não ocorria desde 2010. O órgão tem 440 funcionários na ativa.

SEM PAZ

Otto Lobo assumiu o cargo de presidente interino da autarquia por ser o diretor mais antigo do colegiado —que agora tem duas vagas desocupadas.

Na primeira semana da interinidade, Lobo causou polêmica numa decisão contra parecer técnico que acusava o investidor Nelson Tanure, o empresário Tércio Borlenghi Junior e o banco Master, de Daniel Vorcaro, de “ação orquestrada” para elevar o preço das ações da empresa de gestão de resíduos Ambipar. Procurados, os três não responderam.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Recalculando a rota. No Boletim Focus, do Banco Central, economistas reduziram a projeção para o PIB pela primeira vez desde junho.

Tudo deles. O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, assinou decreto e deu o sinal verde para a privatização da TAP, companhia aérea nacional.

Tchau! Falando em aéreas, a Azul encerrou a operação em 14 cidades de estados como RJ, CE e SC. Você confere a lista completa aqui.

Porquinho gordo. O brasileiro está colocando mais dinheiro no Tesouro Direto e o estoque de títulos cresce para R$ 180 bilhões. Aqui você vê onde os brasileiros investiram.

Os jabutis da energia continuam dando o que falar. Reportagem da Folha aponta que sobrinho de Gilberto Kassab é sócio de Carlos Suarez em usina que pode ser beneficiada pelo Congresso.