SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A onda de ataques com pedras a ônibus em São Paulo completa dois meses nesta terça-feira (12), com quase mil registros na capital e na região metropolitana. A polícia segue atrás dos responsáveis pelos atos, que já deixaram feridos.
Dados da SPTrans, da prefeitura, indicam 626 ataques de 12 de junho até o último domingo (10). Já a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) conta 341 casos na Grande São Paulo desde 1º de junho.
As investigações seguem sob responsabilidade do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), da Polícia Civil, com apoio de unidades regionais e da Divisão de Crimes Cibernéticos, diz a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo.
Em paralelo, diz a pasta, a Polícia Militar tem reforçado a presença de agentes em coletivos. Na capital, a prefeitura anunciou, no fim de julho, que 200 guardas-civis passariam a circular em ônibus, escolhidos de acordo com os registros de ataques. Rondas também passaram a ser feitas nas garagens e nos percursos das linhas.
Com mais de cem ataques em nove dias em junho, surgiram dúvidas sobre as motivações, que seguem desconhecidas dois meses depois. As principais linhas de investigação são disputas entre empresas, desafios de internet e a já descartada participação do crime organizado. Os ataques chegaram também à Baixada Santista. Em Santos, 11 ônibus foram vandalizados na madrugada de 29 de junho.
A pressão por respostas chegou aos gabinetes do Executivo na capital e no estado. Em 10 de julho, em meio à onda, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que a população não precisava ter medo. “Nós temos uma megaoperação em andamento, a inteligência está trabalhando muito.”
“Nós já prendemos três criminosos, estamos agora conduzindo a investigação para ver se acha o fio condutor disso, inclusive com quebra de sigilo telefônico para entender o que está acontecendo.” As declarações foram dadas após o pior dia de ataques à época, com 59 veículos depredados.
Dias depois, já com um mês de onda de ataques, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), reclamou da demora na conclusão do caso. “Está demorando, reconheço. Até faço aqui uma crítica à Polícia Civil. Porque quando temos que elogiar, temos que elogiar. Mas quando temos que criticar, temos que criticar, está demorando.” O prefeito também disse ter certeza de que a Polícia Civil chegaria aos responsáveis.
Ao longo das semanas, começaram as prisões. Em 22 de julho, a polícia disse que havia detido 22 suspeitos de vandalismo na capital e na região metropolitana. Em 22 de julho, foi anunciada a prisão de Edson Aparecido Campolongo, 68, indiciado sob suspeita de 17 ataques na região metropolitana. No dia seguinte, seu irmão, Sérgio Campolongo, também se entregou à polícia.
Motorista concursado da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), Edson alegou motivação política para os ataques. Em seu perfil no Facebook, rede em que possui 5.800 seguidores, fez diversas postagens com críticas ao governo do presidente Lula, ao PT e às decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Se em pouco mais de um mês a prefeitura havia registrado 506 ataques a ônibus na cidade de São Paulo, o ritmo parece ter diminuído, com 626 casos até o último domingo. A SSP não diz em que estágio estão as investigações, nem se houve mudança nas linhas de investigação.
Na época da prisão dos Campolongo, uma autoridade que participa das investigações afirmou que os 22 detidos até então não apresentavam motivações claras para os ataques, o que reforçava a tese de efeito manada a imitação de ações vistas no noticiário.