SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Faculdade de Direito da USP organizou nesta segunda-feira (11) uma homenagem a seus alunos que foram assassinados pela ditadura militar.
O ato, que ocorreu na Sala dos Estudantes, no Largo do São Francisco, centro de São Paulo, foi marcado pela diplomação póstuma de Arno Preis e João Leonardo da Silva Rocha e pela inauguração de placas, no Pátio das Arcadas, em homenagem aos estudantes. Trata-se de um gesto simbólico da instituição para reconhecer e reparar violências cometidas no regime.
Ministro da Casa Civil no primeiro governo Lula, José Dirceu (PT) compareceu ao evento.
Ele conheceu os dois alunos homenageados na época em que integrava a ALN (Ação Libertadora Nacional) e recebeu treinamento militar junto com eles, quando estava exilado em Cuba.
“É preciso relembrar o Brasil o que foi a ditadura militar. A tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, inclusive com a aberração do Plano Punhal Verde Amarelo, só reforça a necessidade de resgatar a memória daquele período e homenagear quem lutou contra a ditadura”, disse Dirceu, pouco antes do início da solenidade.
O ex-ministro foi condenado no escândalo do mensalão por corrupção ativa e teve o mandato cassado na Câmara por quebra de decoro, tendo recebido indulto em 2016. Também foi condenado na Operação Lava Jato, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas obteve a anulação das sentenças em 2024.
Também estiveram entre os presentes José Carlos Dias, ministro da Justiça do governo FHC, Luiz Eduardo Greenhalgh, um dos fundadores do PT e ex-deputado federal, além de Flavio Bierrenbach, ex-ministro do Superior Tribunal Militar e a advogada Taís Gasparian.
Durante o ato, o Coral XI de Agosto entoou, sob regência de Eduardo Fernandes, canções emblemáticas do período, como “Roda Viva”, de Chico Buarque, e “O Bêbado e o Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc.
Arno Preis, natural de Forquilha, no interior de Santa Catarina, foi integrante do movimento estudantil e militante da ALN. Identificado pela ditadura, teve de sair do país, indo para Cuba, onde recebeu treinamento de guerrilha. Em 1971, retornou ao Brasil, quando integrou o Molipo (Movimento de Libertação Popular).
Foi assassinado um ano depois, com tiros e perfurações, em uma ação conjunta dos policiais do Batalhão de Goiás com o Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Preis acabou enterrado como indigente, na região norte de Goiás, e teve as mãos amputadas pelos agentes.
João Leonardo da Silva Rocha era baiano e se mudou para São Paulo, em 1962, trabalhando no Banco do Brasil. Na faculdade de direito, foi colega de Preis e também militou na ALN.
Chegou a ser preso em 1969, sob acusação de participar do Grupo Tático Armado, mas foi um dos 15 prisioneiros políticos libertados, durante a negociação do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Depois de morar no México e em Cuba, voltou ao Brasil e foi morto, em 1975 por um grupo da Polícia Militar em Palmas de Monte Alto, no interior da Bahia.
A solenidade na USP faz parte do projeto Diplomação da Resistência, resultado de uma parceria entre a reitoria da universidade e o coletivo estudantil Vermelhecer. Lançado há dois anos, a iniciativa homenageou, em um primeiro momento, os alunos do Instituto de Geociências (IGC). A diplomação marcou também as comemorações dos 198 anos de Criação dos Cursos Jurídicos no Brasil.
“São pessoas que pagaram caro pela liberdade. Se hoje desfrutamos desse momento de estarmos aqui reunidos, isso acontece porque esses estudantes deram a vida por isso”, afirmou Gasparian em seu discurso, representando a Comissão de Direitos Humanos da USP.