SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,13% nesta segunda-feira (11), cotado a R$ 5,443, com o mercado à espera do plano de contingência do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para empresas afetadas pelas sobretaxas de 50% impostas pelos Estados Unidos.
Declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, também repercutiram nesta tarde.
O avanço da moeda norte-americana no Brasil seguiu o exterior, com investidores adotando cautela antes de mais novidades sobre o tarifaço. O índice DXY, que compara o dólar a uma cesta de outras seis divisas fortes, avançou 0,4%, a 98.57 pontos.
A Bolsa também acompanhou a tendência de Wall Street e fechou em queda de 0,21%, a 135.623 pontos.
Em dia de agenda esvaziada, o impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos seguiu ditando os negócios no mercado doméstico. A expectativa é que o governo Lula anuncie o plano de ajuda para empresas afetadas pelo tarifaço até terça-feira, como antecipado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
Segundo apuração da Folha de S.Paulo, o Executivo avalia cobrar das empresas que tomarem crédito a manutenção do emprego dos colaboradores. Ou seja, o empresário que tiver acesso a empréstimos a juros mais baratos não poderá demitir.
O pacote também deve conter o chamado diferimento de impostos federais, como é chamada a postergação do pagamento de tributos, para dar alívio de caixa nesse momento inicial de maior dificuldade após a entrada em vigor do tarifaço. A proposta é que o adiamento seja de no máximo de 90 dias para que o seu impacto seja concentrado neste ano. As tarifas entraram em vigor na quarta-feira (6).
As medidas da primeira fase do plano serão levadas a Lula em reunião nesta segunda com Alckmin e Haddad, responsáveis pela coordenação dessas medidas. A proposta que será entregue prevê as mesmas taxas de juros para todas as empresas. As notas técnicas que embasam as ações já estão prontas.
Já as linhas de crédito estarão ligadas ao FGO (Fundo de Garantia de Operações), operado pelo Banco do Brasil, e o FGE (Fundo de Garantia à Exportação), administrado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Essas linhas serão disponibilizadas para bancos públicos e privados.
Além do plano de contingência, o governo também aposta na via diplomática para tentar chegar a um acordo com os Estados Unidos, embora as iniciativas brasileiras não tenham tido sucesso até agora.
O Brasil não pretende anunciar tarifas recíprocas, afirmou Lula em entrevista na semana passada, e não vai desistir das negociações comerciais, mesmo que não haja, no momento, interlocução.
Haddad teria uma conversa com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, na quarta-feira, mas o encontro foi cancelado, segundo disse o ministro em entrevista à GloboNews nesta tarde.
Ele afirmou que o cancelamento foi informado por email e que não há nova data para a reunião. Segundo ele, o revés é resultado da articulação do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos.
“De novo, a militância antidiplomática dessas forças de extrema-direita, que atuam junto à Casa Branca, tomaram conhecimento da minha fala, porque eu dei a público que eu ia me reunir com o Bessent na quarta-feira, e agiram junto a alguns assessores do presidente Trump, e a reunião com ele, que seria virtual na quarta-feira, foi desmarcada”, disse Haddad.
“Recebemos essa informação um ou dois dias depois do anúncio que eu fiz. Em que o Eduardo, publicamente, deu uma entrevista [dizendo] que ia procurar inibir esse tipo de contato entre os dois governos, porque o que estava em causa não era questão comercial. [Ele] Deixou claro isso em uma entrevista pública”, acrescentou.
Já o deputado minimizou as falas do ministro em nota divulgada logo após a entrevista, dizendo que não tem controle sobre a agenda de Bessent e que o secretário apenas cumpre as diretrizes determinadas pelo presidente Donald Trump.
“Haddad prefere culpar terceiros pela própria incompetência, enquanto Lula só fala besteira por aí e inflama a crise diplomática. Há quase duas semanas, o presidente Donald Trump declarou emergência econômica nos EUA, apresentando de forma clara as razões. Até que o Brasil enfrente esses pontos, qualquer reunião será mera encenação -e, portanto, inútil”, afirmou.
Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Eduardo tem liderado uma campanha de lobby em Washington por mais medidas contra o STF (Supremo Tribunal Federal), que tem julgado seu pai no âmbito da trama golpista de 2022.
Eduardo se reuniu com autoridades do governo Trump e previu corretamente no início deste ano que Washington imporia amplas sanções ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
À luz da prisão domiciliar do ex-presidente, aliado político de Donald Trump, é possível que os Estados Unidos imponham novas sanções ao Brasil. “Sei que [Trump] tem uma série de possibilidades em sua mesa, desde sancionar mais autoridades brasileiras, até uma nova onda de retiradas de vistos, até questões tarifárias”, disse Eduardo ao Financial Times em uma entrevista por vídeo.
Por outro lado, há um alento no tarifaço para Gabriel Galípolo: antes vista como desvantagem, a baixa dependência comercial do Brasil em relação aos EUA passou a ser considerada uma proteção após as sobretaxas.
Segundo o presidente do BC, economistas têm entendido de que pode haver um aumento de oferta no mercado brasileiro com a tarifa dos EUA, o que tenderia a reduzir preços temporariamente.
Da outra ponta, Trump assinou um decreto que prorroga por mais 90 dias a pausa nas altas tarifas impostas pelos EUA às importações chinesas, informou uma autoridade da Casa Branca.
Uma trégua tarifária entre Pequim e Washington estava programada para expirar em 12 de agosto, mas o governo Trump deu a entender que o prazo poderia ser prorrogado.