WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que vai mobilizar tropas da Guarda Nacional para Washington e que o governo federal tomará o controle da polícia local com o objetivo de combater o que ele considera ser uma criminalidade excessiva na capital americana. Trump disse que o crime na cidade “está fora de controle”, apesar de dados mostrarem queda nos indicadores de violência nos últimos 30 anos.
Ele fez o anúncio em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (11). Trump declarou emergência em segurança pública para justificar as iniciativas federais na cidade, que vão durar, inicialmente, 30 dias. No total, 800 homens da força federal serão deslocados.
A medida é mais uma no sentido de “tomar controle” de Washington, como o republicano vem ameaçando fazer desde o início do mandato. A capital dos EUA integra o Distrito de Columbia, e não fica em um estado americano. A cidade é autônoma, com algumas partes da administração compartilhadas com o governo federal, e de tradição democrata, partido da atual prefeita, Muriel Bowser.
“Hoje é o dia da libertação de Washington (mesmo termo usado por Trump ao anunciar o tarifaço em abril)”, disse. “Nós vamos limpar a cidade”, continuou.
O presidente americano disse que limpará os parques da capital, referindo-se à retirada de pessoas em situação de rua, e que as ajudará “na medida que puder”, sem detalhar o que fará para auxiliar essa população. Neste domingo (10), ele publicou em sua rede, a Truth Social, post no qual falava que “os sem-teto têm que sair, IMEDIATAMENTE”. “Vamos oferecer lugares para ficar, mas LONGE da capital”, escreveu, com suas habituais maiúsculas.
Durante o anúncio, Trump pintou um cenário de elevada criminalidade e emergência em Washington. Tentou traçar paralelos com outras capitais pelo mundo, citando, inclusive, Brasília. “Nossa capital foi tomada por gangues violentas e criminosos sedentos por sangue. Grupos errantes de jovens selvagens, maníacos drogados e pessoas sem-teto. E não vamos mais permitir que isso aconteça”, afirmou Trump.
Ao contrário da ideia que o presidente americano tenta passar, de aumento na insegurança, a taxa de crimes violentos em Washington recuou no último ano.
Em 2023, ano pós-pandemia, a cidade atingiu atingiu um pico no número de homicídios, que diminuiu no último ano. Segundo dados da polícia metropolitana de Washington a quantidade de assassinatos e tiroteios na capital caiu cerca de 30% de 2023 até o fim de 2024. No ano passado, foram registrados 187 homicídios, ante 274 em 2023.
Segundo informações da polícia metropolitana, em 2024, a cidade também teve o menor índice de crimes violentos -que compreendem homicídios, abuso sexual, agressão com armas perigosas e roubos- em 30 anos.
O presidente dos EUA tem a prerrogativa de tomar iniciativas ligadas a prédios federais, mas não para agir em relação à segurança da cidade, exceto em caso de “emergência”, que foi a saída de Trump para tomar conta da polícia local. A decisão de convocar a Guarda Nacional compete à Presidência.
“O Departamento de Polícia Metropolitana e as autoridades federais receberão apoio nesse esforço, um esforço realmente grande, dos 800 integrantes da Guarda Nacional que iremos mobilizar. E muito mais, se necessário, muito mais.”
Trump disse que caberá à secretária de Justiça, Pam Bondi, gerir a polícia metropolitana. “Deixe-me ser clara: o crime em DC vai acabar e vai acabar hoje”, afirmou Bondi.
Desde o início do ano, Trump critica a segurança em Washington. A decisão de agir e interferir na cidade, porém, foi acelerada depois de um integrante da equipe do Doge, que era liderado por Elon Musk, ter sido ferido em uma tentativa de sequestro de carro na madrugada no início deste mês.
A Guarda Nacional é formada por militares da reserva, e seu uso é acionado geralmente em situações de emergência, como catástrofes naturais.
Durante seu primeiro mandato, Trump acionou as tropas para conter os protestos pacíficos do Black Lives Matter que se espalharam por Washington após o assassinato de George Floyd pela polícia, em maio de 2020.
Neste ano, Trump enviou agentes da Guarda Nacional para Los Angeles, para conter protestos contra a política de imigração do governo federal que eclodiram na cidade, em junho. À época, o governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, considerou a decisão uma intervenção federal no estado e protagonizou embates com o presidente, pedindo a retirada das tropas.
Segundo a organização Community Partnership, que atua para reduzir a falta de moradia em Washington, 3.782 pessoas estão em situação de rua na cidade, que tem aproximadamente 700 mil habitantes. A maioria está em abrigos emergenciais ou moradias de transição, mas cerca de 800 são consideradas “sem abrigo”.
A prefeita Bowser disse neste domingo que a capital “não está passando por um aumento da criminalidade”. “É verdade que tivemos um aumento terrível do crime em 2023, mas não estamos mais em 2023”, disse à emissora americana MSNBC.
“Passamos os últimos dois anos reduzindo o crime violento nesta cidade, levando-o ao menor nível em 30 anos”. De acordo com a polícia local, o número de delitos violentos nos primeiros sete meses de 2025 caiu 26% em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto a criminalidade geral recuou cerca de 7%.
Em fevereiro deste ano, Trump disse que o governo local não estava fazendo um bom trabalho para diminuir a criminalidade e melhorar a situação da moradia. “Devemos administrá-la com força, administrá-la com lei e ordem, torná-la absolutamente impecavelmente linda. E acho que devemos tomar conta de Washington D.C. Torná-la segura”, afirmou o presidente na ocasião.
Um mês depois, em março, Bowser cedeu à pressão e removeu o mural onde se lia a frase “Black Lives Matter” (vidas negras importam), marco antirracista traçado ao longo de uma rua próxima à Casa Branca.