SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Motocicletas da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar começaram a rodar com câmeras equipadas que podem identificar placas de outros veículos em segundos.
Ao todo, 50 motos da GGC e outras 50 da da PM, com os dispositivos acoplados junto ao farol, foram apresentadas durante evento na manhã desta segunda-feira (11) pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) e pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) no vale do Anhangabaú, centro de São Paulo.
Durante a cerimônia e sem citar data, os dois políticos afirmaram que o modelo vai ser replicado para outros municípios da região metropolitana de São Paulo.
“Vamos expandir esse sistema para não iniciar uma perseguição [na cidade de São Paulo] que acabe em Taboão da Serra”, afirmou Tarcísio.
O dispositivo de monitoramento de também deverá ser instalado em carros tanto da GCM e da PM no futuro.
“Queríamos ter lançado [o monitoramento por meio de motocicletas] há quase um mês, mas precisamos fazer ajustes da tecnologia e da comunicação com quem está na moto. Chegamos num patamar ideal”, afirmou Nunes.
Integradas à central de monitoramento do Smart Sampa (programa de vigilância da prefeitura por meio de câmeras), uma das funções dos equipamentos é identificar placas adulteradas que circulam em motos na cidade de São Paulo. Ou flagrar motocicletas roubadas.
Quando uma irregularidade é identificada, o sistema gera um alerta imediato, e a central de monitoramento do Smart Sampa envia as informações para a mesma equipe que captou a imagem, possibilitando abordagens rápidas.
Por meio de OCR (Reconhecimento Óptico de Caracteres), é possível converter imagens de texto em conteúdo legível, permitindo que documentos digitalizados ou fotos sejam editáveis, pesquisáveis e analisáveis por computadores.
Um levantamento apresentado prefeitura a partir do Smart Sampa mostra que uma mesma identificação de placa, que pode ser adquirida pela internet, foi flagrada mais de 9.000 vezes nos dois últimos meses pelas cerca de 4.000 câmeras fixas instaladas na cidade com capacidade para fazer esse tipo de leitura (no total há mais de 31 mil equipamentos espalhados, todos com reconhecimento facial).
Foi mostrado o caso de duas motos diferentes, uma na região do Morumbi, na zona oeste, e outra em Santana, na zona oeste, com a mesma placa “campeã” BRA-49CC.
A reportagem encontrou mais de uma dezena dessa mesma placa, padrão Mercosul, em anúncios de sites de venda na internet, com preços R$ 19,99 a R$ 71,25. Ela era identificada por alguns vendedores como “decorativa”.
“A utilização de placas falsas para crimes, infelizmente tem sido comum, como identificou o Smart Sampa”, disse o prefeito.
Conforme Nunes, a incorporação de câmeras nas motocicletas acontece porque os equipamentos fixos não conseguem acompanhar o veículo depois que passam pelo ponto.
“Teríamos que fazer muitas blitze numa cidade que tem 7 milhões de carros que circulam por dia e 1,3 milhão de motos por dia. Não daria resultado”, afirmou Nunes, que chamou ao menos cinco vezes a Guarda Civil Metropolitana de Polícia Municipal -a mudança de nome foi considerada inconstitucional pelo próprio STF.
Tanto o prefeito quanto Tarcísio voltaram a cobrar o governo federal pela volta dos lacres em placas de veículo. “Do jeito que é hoje, é só soltar os parafusos e trocar a placa original por uma falsa”, afirmou Nunes. Ele diz ter enviado em junho um ofício ao Ministério dos Transportes com a solicitação, mas que não teria recebido resposta.
Questionado sobre a reclamação, o ministério do governo Lula não respondeu até a publicação desta reportagem.
Os dois visitaram o prédio histórico da antiga sede dos Correios no Vale do Anhangabaú, para onde será transferida a estrutura do Smart Sampa (atualmente na rua 15 de Novembro, também no centro). O local também deverá contar com estrutura do governo estadual, que tem o sistema Muralha Paulista de monitoramento com câmeras. A previsão é que comece a funcionar em 2026,
“Esse prédio vai ser o grande quartel-general da segurança pública, vai estar à disposição de toda a região metropolitana”, disse Tarcísio.
Nunes também espera que a tecnologia reduza o número de mortes de motociclistas na cidade, A justificativa é que, por usarem placas falsas, os condutores desses veículos não respeitariam leis de trânsito, pois não são atuados, correndo maior risco.
“A pessoa sabe que não vai receber multa acaba não respeitando a velocidade e gera uma série de situações de acidentes de trânsito”, afirmou.
Segundo dados do Infosiga, sistema do governo estadual que mede a letalidade no trânsito, 219 pessoas morreram em acidentes com motos no primeiro semestre na cidade de São Paulo. O número é menor que os 237 óbitos registrados no mesmo período de 2024, mas a mortalidade de motociclistas é a maior de todo o trânsito no país.