SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em alta nesta segunda-feira (11), com o mercado à espera do plano de contingência do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para empresas afetadas pelas sobretaxas de 50% impostas pelos Estados Unidos.

Declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, também repercutem nesta tarde.

Às 14h22, a moeda norte-americana avançava 0,18%, cotada a R$ 5,446, em linha com a valorização no exterior. Já a Bolsa recuava 0,2%, a 135.632 pontos.

O impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos segue ditando os negócios no mercado doméstico. A expectativa é que o governo Lula anuncie o plano de ajuda para empresas afetadas pelo tarifaço até terça-feira, como antecipado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.

Segundo apuração da Folha de S.Paulo, o Executivo avalia cobrar das empresas que tomarem crédito a manutenção do emprego dos colaboradores. Ou seja, o empresário que tiver acesso a empréstimos a juros mais baratos não poderá demitir.

O pacote também deve conter o chamado diferimento de impostos federais, como é chamada a postergação do pagamento de tributos, para dar alívio de caixa nesse momento inicial de maior dificuldade após a entrada em vigor do tarifaço. A proposta é que o adiamento seja de no máximo de 90 dias para que o seu impacto seja concentrado neste ano. As tarifas entraram em vigor na quarta-feira (6).

As medidas da primeira fase do plano serão levadas a Lula em reunião nesta segunda com Alckmin e Haddad, responsáveis pela coordenação dessas medidas. A proposta que será entregue prevê as mesmas taxas de juros para todas as empresas. As notas técnicas que embasam as ações já estão prontas.

Já as linhas de crédito estarão ligadas ao FGO (Fundo de Garantia de Operações), operado pelo Banco do Brasil, e o FGE (Fundo de Garantia à Exportação), administrado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Essas linhas serão disponibilizadas para bancos públicos e privados.

Além do plano de contingência, o governo também aposta na via diplomática para tentar chegar a um acordo com os Estados Unidos, embora as iniciativas brasileiras não tenham tido sucesso até agora.

O Brasil não pretende anunciar tarifas recíprocas, afirmou Lula em entrevista na semana passada, e não vai desistir das negociações comerciais, mesmo que não haja, no momento, interlocução.

Haddad teria uma conversa com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, na quarta-feira, mas o encontro foi cancelado, segundo disse o ministro em entrevista à GloboNews nesta tarde.

Ele afirmou que o cancelamento foi informado por email e que não há nova data para a reunião. Segundo ele, o revés é resultado da articulação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

“De novo, a militância antidiplomática dessas forças de extrema-direita, que atuam junto à Casa Branca, tomaram conhecimento da minha fala, porque eu dei a público que eu ia me reunir com o Bessent na quarta-feira, e agiram junto a alguns assessores do presidente Trump, e a reunião com ele, que seria virtual na quarta-feira, foi desmarcada”, disse Haddad.

“Recebemos essa informação um ou dois dias depois do anúncio que eu fiz. Em que o Eduardo, publicamente, deu uma entrevista [dizendo] que ia procurar inibir esse tipo de contato entre os dois governos, porque o que estava em causa não era questão comercial. [Ele] Deixou claro isso em uma entrevista pública”, acrescentou.

Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Eduardo tem liderado uma campanha de lobby em Washington por mais medidas contra o STF (Supremo Tribunal Federal), que tem julgado seu pai no âmbito da trama golpista de 2022.

É possível que os Estados Unidos imponham novas sanções ao Brasil à luz da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado político de Donald Trump.

Eduardo se reuniu com autoridades do governo Trump e previu corretamente no início deste ano que Washington imporia amplas sanções ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.

“Sei que [Trump] tem uma série de possibilidades em sua mesa, desde sancionar mais autoridades brasileiras, até uma nova onda de retiradas de vistos, até questões tarifárias”, disse Eduardo ao Financial Times em uma entrevista por vídeo.

Para Gabriel Galípolo, em falas durante evento promovido pela Associação Comercial de São Paulo, a baixa dependência comercial do Brasil em relação aos EUA, antes vista como uma desvantagem, agora passou a ser considerada uma proteção após o tarifaço.

O presidente do BC afirmou, ainda, que os membros da autarquia têm percebido no Questionário Pré-Copom, encaminhado pelo BC a economistas, o entendimento de que pode haver um aumento de oferta no mercado brasileiro com a tarifa dos EUA, o que tenderia a reduzir preços temporariamente.

Segundo ele, o questionário também trouxe visões sobre riscos de perda de valor do real no caso de acirramento da disputa comercial, além de impacto na atividade econômica, que poderia ser perene.

De acordo com Galípolo, os economistas ouvidos pelo BC ainda não incorporaram esses efeitos em seus cenários e projeções.