SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está oscilando entre os sinais nesta segunda-feira (11), com o mercado à espera do plano de contingência do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para empresas afetadas pelas sobretaxas de 50% impostas pelos Estados Unidos.

Declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, também são esperadas para esta tarde.

Às 13h10, a moeda norte-americana tinha leve variação positiva de 0,06%, cotada a R$ 5,439, desacelerando os ganhos em relação a mais cedo. Já a Bolsa avançava 0,27%, a 136.291 pontos.

O impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos segue ditando os negócios no mercado doméstico. A expectativa é que o governo Lula anuncie o plano de ajuda para empresas afetadas pelo tarifaço até terça-feira, como antecipado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.

Segundo apuração da Folha de S.Paulo, o Executivo avalia cobrar das empresas que tomarem crédito a manutenção do emprego dos colaboradores. Ou seja, o empresário que tiver acesso a empréstimos a juros mais baratos não poderá demitir.

O pacote também deve conter o chamado diferimento de impostos federais, como é chamada a postergação do pagamento de tributos, para dar alívio de caixa nesse momento inicial de maior dificuldade após a entrada em vigor do tarifaço. A proposta é que o adiamento seja de no máximo de 90 dias para que o seu impacto seja concentrado neste ano. As tarifas entraram em vigor na quarta-feira (6).

As medidas da primeira fase do plano serão levadas a Lula em reunião nesta segunda com Alckmin e Haddad, responsáveis pela coordenação dessas medidas. A proposta que será entregue prevê as mesmas taxas de juros para todas as empresas. As notas técnicas que embasam as ações já estão prontas.

Já as linhas de crédito estarão ligadas ao FGO (Fundo de Garantia de Operações), operado pelo Banco do Brasil, e o FGE (Fundo de Garantia à Exportação), administrado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Essas linhas serão disponibilizadas para bancos públicos e privados.

Além do plano de contingência, o governo também aposta na via diplomática para tentar chegar a um acordo com os Estados Unidos, embora as iniciativas brasileiras não tenham tido sucesso até agora.

Em entrevista à Reuters, o presidente Lula afirmou que não vê espaço para discussões com Trump e rejeitou a “humilhação” de ligar para o republicano.

“Pode ter certeza de uma coisa: o dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”, disse.

O Brasil não pretende anunciar tarifas recíprocas, afirmou, e não vai desistir das negociações comerciais, mesmo admitindo que não há, no momento, interlocução. Haddad tem uma conversa prevista com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, na quarta-feira, e o encontro pode abrir caminho para um entendimento mais amplo entre os dois países. Uma das possibilidades à mesa é o aumento da lista de isenção das sobretaxas, já composta por quase 700 produtos.

Por outro lado, é possível que os Estados Unidos imponham novas sanções ao Brasil à luz da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado político de Donald Trump.

Deputado federal licenciado e filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro tem liderado uma campanha de lobby em Washington por mais medidas contra o STF (Supremo Tribunal Federal), que tem julgado seu pai no âmbito da trama golpista de 2022.

Eduardo se reuniu com autoridades do governo Trump e previu corretamente no início deste ano que Washington imporia amplas sanções ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.

“Sei que [Trump] tem uma série de possibilidades em sua mesa, desde sancionar mais autoridades brasileiras, até uma nova onda de retiradas de vistos, até questões tarifárias”, disse Eduardo ao Financial Times em uma entrevista por vídeo.

O mercado também espera que haja uma prorrogação da trégua comercial entre EUA e China, que expira nesta semana. As duas maiores economias do mundo provavelmente deverão buscar mais tempo para tentar alcançar um acordo, antes que as tarifas mútuas sejam reestabelecidas.

Há um consenso entre analistas de que o tarifaço terá um efeito estagflacionário sobre a economia dos EUA—isto é, diminuirão o crescimento a um nível de estagnação e aumentarão a inflação.

A preocupação tem fomentado apostas de que um corte de juros poderá ocorrer na próxima reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), em setembro. Segundo a ferramenta CME FedWatch, operadores agora precificam 86% de chance de uma redução de 0,25 ponto percentual no mês que vem.

A taxa de juros está na banda de 4,25% e 4,5% desde o final de 2024 e vem sendo mantida neste patamar por conta da incerteza que ronda a economia norte-americana. Neste sentido, um dos destaques da semana será a divulgação de dados de inflação ao consumidor dos EUA na terça, com os agentes em busca de pistas sobre as próximas decisões de política monetária do Fed.

Os investidores também monitoram a agenda de autoridades ao longo do dia. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, fará palestra na ACSP (Associação Comercial de São Paulo) pela manhã, enquanto Haddad é esperado em entrevista à GloboNews à tarde.

“A semana começa com uma agenda econômica leve, porém com indicadores e eventos que prometem influenciar o apetite por risco global. Ao longo da semana, o mercado deve reagir tanto aos dados quanto às negociações comerciais e ao cenário político doméstico, mantendo a volatilidade elevada”, disse Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T XP.