SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O senador da Colômbia Miguel Uribe Turbay, 39, morreu nesta segunda-feira (11), após ter sido vítima de um atentado em um comício em Bogotá no dia 7 de junho. A informação foi confirmada por sua mulher em publicação nas redes sociais.
Pré-candidato à Presidência no pleito do próximo ano, o político de direita foi baleado e estava internado em estado grave em um hospital após passar por cirurgias na cabeça e na perna. Desde então, seu estado de saúde oscilou, com uma piora no quadro nos últimos dias.
No dia 11 de junho, os médicos chegaram a detectar sinais de melhora, mas, dias depois, o político teve de ser submetido a um procedimento de emergência devido a uma “hemorragia intracerebral aguda”. Neste sábado (9), ele havia voltado ao estado grave por causa de uma nova hemorragia no sistema nervoso central, segundo a Fundação Santa Fé de Bogotá, onde estava internado.
A morte de Uribe trouxe à tona um fantasma antigo da Colômbia: os violentos assassinatos de políticos e presidenciáveis que levaram pânico à população nas décadas de 1980 e 1990.
O senador era, inclusive, filho da jornalista Diana Turbay, que foi mantida refém por um grupo ligado ao cartel de Medellín e morta na tentativa de resgate, em 1991 a história é relatada no livro “Notícia de um Sequestro”, de Gabriel García Márquez (1927-2014). Uribe era neto do ex-presidente Julio César Turbay Ayala, que governou a Colômbia de 1978 a 1982, e fazia parte do Centro Democrático, principal partido de direita e liderado pelo influente ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) apesar do mesmo sobrenome, eles não eram parentes.
O atentado também carrega um peso político e simbólico que coloca sob pressão o atual presidente, Gustavo Petro, o primeiro político de esquerda a governar os colombianos. Uribe era crítico ferrenho de Petro. Opositores acusam o líder esquerdista de radicalizar o país.
Até as 10h (horário de Brasília), Petro não havia se pronunciado a respeito da morte de Uribe.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, lamentou a morte do senador e pediu justiça. “Os Estados Unidos se solidarizam com sua família e o povo colombiano tanto no luto como na demanda por justiça aos responsáveis [pela morte de Uribe]”, escreveu no X.
O ex-presidente Alvaro Uribe, líder do partido do senador e condenado a 12 anos de prisão domiciliar no início deste mês, também se manifestou. “O mal destrói tudo, mataram a esperança. Que a luta de Miguel seja a luz que ilumine o caminho certo para a Colômbia”, escreveu no X.
Miguel Uribe entrou para a política em 2012, ao ser eleito vereador com o apoio de líderes liberais. Sua passagem pela Câmara coincidiu com o mandato de Petro à frente de Bogotá, e ele se posicionou como um dos principais críticos do então prefeito, questionando a implementação de um programa de coleta de lixo e a política social do município.
Dois dias antes do ataque, os dois bateram boca pelas redes sociais, com o presidente questionando suas críticas. “O neto de um ex-presidente que ordenou a tortura de 10 mil colombianos falando de ruptura institucional?”, escreveu o chefe do Executivo. O senador rebateu que Petro “empunhou armas e participou de um grupo criminoso”, ao se referir à guerrilha M19.
Antes do ataque, Uribe não aparecia como um dos favoritos na corrida presidencial, embora fosse visto como um candidato ascendente. No início de julho, um mês após o atentado, uma pesquisa de intenções de voto realizada em conjunto por Guarumo e EcoAnalítica mostrou um salto de Uribe, de sétimo colocado para a liderança do pleito, com 13,7%, ante 11,7% da segunda colocada, a jornalista conservadora Vicky Dávila.
A menos de um ano do pleito, marcado para maio de 2026, a Colômbia vive uma crescente polarização. O governo de Petro passou por sucessivas crises e perdas políticas, fazendo com que adotasse um tom mais agressivo contra seus adversários.
A derrota mais recente foi o veto do Senado a uma consulta popular para a realização de uma reforma trabalhista, uma de suas principais bandeiras de campanha. O presidente reagiu falando em fraude e convocando protestos pelo país.
O primeiro pronunciamento de Petro após o atentado gerou controvérsia e foi criticado pela oposição na noite do próprio sábado em que ocorreu o crime, ele fez uma postagem em que nem mencionava o nome de Uribe, referindo-se a ele como “o filho de uma mulher árabe”, em alusão à sua mãe.
“Ah, a Colômbia e sua eterna violência. Eles querem matar o filho de uma mulher árabe em Bogotá, que já havia sido assassinada, e não se deve matar no coração do mundo. Eles matam o filho e a mãe”, escreveu o presidente.
O ex-presidente Andrés Pastrana (1998 a 2002) acusou Petro de “semear o ódio” e “incitar a violência” contra a oposição.
O discurso foi reproduzido pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, que condenou “nos termos mais veementes” o ataque e o atribuiu à “retórica violenta da esquerda”.
Até mesmo a ex-chanceler Laura Sarabia, que foi chefe de gabinete de Petro e considerada uma espécie de braço direito dele, abordou a relação entre a retórica e a violência.
“Esse atentado é um chamado às nossas responsabilidades, nos compromete a trabalhar incansavelmente para corrigir nossos erros, para desescalar o discurso que incita o ódio e e ira, em público e em privado”, disse em vídeo.
Petro depois condenou o ataque de forma mais objetiva e prometeu “caçar os responsáveis”. Ele também apoiou os atos pelo fim da violência que se espalharam pelo país. Mas não deixou de rechaçar o que classificou de “tentativas de uso político” do episódio. “Os padrões do crime repetem os padrões da morte da maioria dos líderes políticos da Colômbia”, declarou.
Desde então, autoridades colombianas prenderam seis suspeitos de terem participado da tentativa de assassinato, incluindo o próprio atirador, um adolescente de 14 anos, e Elder José Arteaga Hernández, conhecido como El Costeño e suspeito de planejar o atentado.
O mais recente detido, no dia 18 de julho, foi Cristian Camilo González Ardila, acusado de tentativa de homicídio qualificado e fabricação, tráfico, porte ou posse de armas de fogo. De acordo com a imprensa local, ele supostamente seria o responsável por matar o atirador que disparou contra Uribe, mas fugiu de moto antes de abrir fogo devido à comoção no local. O autor intelectual do crime ainda não foi identificado.
No início deste mês, as autoridades da Colômbia disseram que um grupo chamado Segunda Marquetalia, dissidência guerrilheira fundada pelo histórico líder das Farc, Iván Márquez, é o possível mandante do atentado.
O ministro da Defesa, Pedro Sánchez disse que há várias hipóteses: uma delas é que se tratava de uma mensagem contra o partido Centro Democrático. Outra versão é que se trataria de uma tentativa de desestabilizar o governo de Petro. O ministro também pediu que o episódio não seja usado para fins políticos.
Dias após o atentado contra Uribe, a violência escalou ainda mais no país com uma série de ataques com fuzis e explosivos, incluindo carros, motos e ônibus-bomba, que mataram sete pessoas na cidade de Cali e em municípios vizinhos.
O Estado-Maior Central (EMC) principal dissidência das extintas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e liderada por Iván Mordisco, o criminoso mais procurado do país atua na região e mantém uma guerra contra Petro.