SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um funcionário da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) viajará nesta segunda-feira (11) a Teerã para iniciar negociações com o país, informou o ministro das Relações Exteriores iraniano Abbas Araghchi. Ainda não há previsão, segundo o regime persa, de visitas a instalações nucleares.

O encontro marca a primeira tentativa de retomada de diálogo desde que Israel lançou ataques contra o regime há dois meses. A ofensiva culminou com envolvimento direto dos Estados Unidos, que bombardearam as três principais instalações do programa nuclear iraniano.

A guerra de 12 dias foi a pá de cal na relação com a agência, e o Irã decidiu suspender a cooperação com o órgão da ONU que fiscaliza os programas nucleares dos países signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), do qual o Irã, mas não Israel, faz parte.

Desde então, inspetores da AIEA não conseguiram acessar as instalações iranianas. O diretor-geral da agência, o argentino Rafael Grossi, tem reiterado que a restauração das inspeções é prioridade, mas Teerã acusa a organização de ter contribuído para a ofensiva ao divulgar um relatório criticando o programa nuclear do país.

Horas antes dos primeiros bombardeios, a AIEA emitiu um parecer duro contra o Irã, afirmando que o país não cumpre suas obrigações de não proliferação.

O Irã nega buscar armas atômicas e afirma continuar comprometido com o TNP. A lei que suspendeu a cooperação com a AIEA submete qualquer inspeção futura à aprovação do Conselho Supremo de Segurança Nacional, que envolve instâncias militares e a liderança da teocracia.

“As negociações com a AIEA serão realizadas amanhã para definir um quadro de cooperação”, afirmou Araghchi neste domingo (10) em sua conta no Telegram. “Um vice-diretor-geral de Grossi virá a Teerã amanhã [segunda], enquanto não há planos para visitar quaisquer locais nucleares até que cheguemos a um entendimento sobre o quadro.”

Na última segunda-feira (4), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Esmail Baqai, reforçou que Teerã quer que os Estados Unidos assumam responsabilidade pelos ataques como condição para futuras negociações.

“Em qualquer possível negociação, a questão de responsabilizar os Estados Unidos e exigir uma compensação por terem cometido uma agressão militar contra as instalações nucleares pacíficas do Irã será um dos pontos na agenda”, afirmou. Baqai também descartou conversas diretas com Washington.

Os ataques interromperam as negociações iniciadas em abril entre Teerã e Washington -o diálogo mais importante desde 2018, durante o primeiro mandato de Donald Trump, quando os EUA abandonaram o acordo de 2015 que suspendia sanções contra o Irã em troca de restrições ao seu programa nuclear.

Teerã nega que esteja buscando uma arma nuclear e afirma que seu programa tem apenas fins civis, mas a AIEA confirma que o Irã enriquece urânio a 60% -nível próximo dos 90% necessários para produzir uma bomba atômica e muito acima dos 3,67% exigidos para geração de energia em usinas comerciais.