Em um movimento histórico para o bem-estar animal, o Senado mexicano votou unanimemente pela proibição de espetáculos com golfinhos e outros mamíferos marinhos em todo o país. A decisão, aprovada por 99 votos a 0 em 23 de junho, marca o ápice de uma campanha de anos liderada por ativistas, pesquisadores e cidadãos preocupados para acabar com a exploração de mamíferos marinhos no entretenimento.
A legislação atualizada altera a Lei Geral de Vida Selvagem do México para proibir toda “exploração extrativa” de mamíferos marinhos, com exceção de pesquisas científicas que tenham sido revisadas e aprovadas pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Semarnat).
A votação segue a modificação de 2022 da mesma lei, que inicialmente visava delfinários e espetáculos marinhos, mas encontrou forte resistência por parte de operadores do setor. Agora, após novo escrutínio e crescente demanda pública por reforma, a proibição total finalmente entrou em vigor.

O que inspirou a lei?
A indignação pública atingiu novos patamares no início deste ano após a divulgação de um vídeo de 2020 que mostrava Mincho, um golfinho se apresentando no Barceló Maya Grand Resort em Quintana Roo, sofrendo uma lesão traumática após pousar no concreto durante um salto. A filmagem, combinada com relatos subsequentes de outras duas mortes de golfinhos na mesma instalação, galvanizou apelos nacionais por mudanças.
Apelidada de “Lei Mincho”, a nova emenda também proíbe a reprodução em cativeiro de mamíferos marinhos, exceto em casos que envolvam reintrodução na natureza. Mincho, que sobreviveu ao incidente, agora vive com problemas de visão — 60% em um olho, zero no outro —, mas foi transferido para uma instituição diferente, onde continua recebendo cuidados.
Lei mais rigorosa ganha força
A Procuradoria Federal de Proteção Ambiental do México (Profepa) intensificou sua fiscalização, comprometendo-se a inspecionar todos os delfinários para garantir condições humanitárias. A repressão começou no início deste ano, com a Profepa suspendendo as operações no complexo Barceló Maya e, por fim, aplicando uma multa de mais de 7,5 milhões de pesos (aproximadamente US$ 395.000).
Essa mudança em direção à responsabilização reflete uma mudança mais ampla nas atitudes públicas. Como afirmou a presidente Claudia Sheinbaum: “O abuso de animais, em particular, é um reflexo do que pode, mais tarde, se agravar em termos de violência”. Ao abordar essa questão de frente, o governo pretende estabelecer um precedente para o atendimento compassivo em todos os setores.

O que acontece com os golfinhos?
A lei não só proíbe novos espetáculos, como também exige cuidados humanos de longo prazo para os cerca de 350 golfinhosatualmente mantidos em cativeiro em cerca de 30 instalações no México. A maioria está localizada em destinos turísticos populares como Quintana Roo, com outros em Guerrero, Veracruz, Baja California Sur, Nayarit e Cidade do México.
Autoridades ambientais reafirmaram seu compromisso de monitorar todas as licenças para a vida marinha e manter a pressão sobre os delfinários para que cumpram os padrões éticos de tratamento. Grupos como o Empty the Tanks, que defende o fim do cativeiro de mamíferos marinhos, aplaudiram a legislação como uma grande vitória.
Embora o caminho a seguir envolva fiscalização contínua e cuidados constantes com os animais já em cativeiro, a decisão do México envia uma mensagem clara: a vida marinha pertence ao oceano, não a um palco.

Fonte: Ciclo Vivo