SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Irã pretende bloquear um corredor planejado no Cáucaso pelo acordo que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, promoveu na sexta-feira (8) para pôr fim ao conflito entre Armênia e Azerbaijão. O anúncio foi feito neste sábado (9) por Ali Akbar Velayati, o principal conselheiro do líder supremo iraniano, Ali Khamenei.

“Este corredor não se tornará uma passagem de propriedade de Trump, mas sim um cemitério para seus mercenários”, disse Velayati, segundo a mídia iraniana.

O acordo de paz mediado por Trump prevê o estabelecimento de um corredor ligando o território principal do Azerbaijão ao encrave azeri de Nakhchivan, localizado entre Armênia, Turquia e Irã. O corredor será chamado de Tripp (sigla em inglês para Rota Trump para Paz e Prosperidade Internacionais) e será operado por empresas americanas sob supervisão armênia, com o objetivo de facilitar o trânsito comercial na região.

“Por mais de 35 anos, a Armênia e o Azerbaijão travaram um conflito amargo que resultou em imenso sofrimento. Muitos tentaram encontrar uma resolução e não tiveram sucesso. Com este acordo, finalmente conseguimos estabelecer a paz”, escreveu Trump em seu perfil na rede Truth Social.

O corredor era a principal pendência entre os rivais vizinhos, que desde o fim da União Soviética da qual faziam parte travavam uma disputa sangrenta pelo controle da região. Guerras ocorreram de 1992 a 1994 e, mais tarde, em 2020 e em 2023 -ao todo, contando uma fase prévia de insurgência guerrilheira antes do declínio soviético, quase 50 mil pessoas morreram nos conflitos.

O acordo é apoiado pelos líderes do Azerbaijão e da Armênia. Na sexta, Trump recebeu na Casa Branca o presidente azeri, Ilham Aliyev, e o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, que considera o envolvimento americano como chance de reforçar a retórica de independência da Rússia. A maior base estrangeira de Moscou fica na Armênia, e o Kremlin é principal apoiador político, militar e econômico do país -ao mesmo tempo, vende armas para o Azerbaijão, apesar de tensão diplomática entre Moscou e Baku.

Também neste sábado, a Rússia elogiou o acordo de paz, mas alertou que a intervenção externa pode complicar a situação no Cáucaso. O Ministério das Relações Exteriores russo declarou que Moscou apoia esforços para promover estabilidade e prosperidade na região, mas que soluções duradouras devem ser desenvolvidas pelos países da região com apoio de vizinhos, como Irã e Turquia.

“O envolvimento de atores não regionais deve fortalecer a agenda de paz, não criar novas divisões”, disse o ministério, acrescentando que espera evitar a “experiência infeliz” da resolução de conflitos liderada pelo Ocidente no Oriente Médio. De acordo com Velayati, conselheiro iraniano, o bloqueio será feito “com ou sem a Rússia”.