VINHEDO, SP (FOLHAPRESS) – “Amado esposo, como dói sua ausência. Me sinto vazia, fria, solitária. Cheia de dores, dissabores e rancores. Meu coração está dilacerado”, disse Rosana Maria Ferreira. O marido dela, Humberto de Campos Alencar e Silva, era o copiloto do voo 2283 da Voepass, que caiu há um ano em Vinhedo (SP).

A fala de Rosana ilustra a comoção que marcou, na manhã deste sábado (9), a homenagem às vítimas da tragédia, que aconteceu no dia 9 de agosto do ano passado.

Durante a cerimônia, familiares vaiaram o diretor-presidente interino da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Adriano Miranda, que compareceu ao evento representando o órgão.

Por todos os lados do espaço escolhido para sediar o evento, que fica a nove quilômetros do lugar onde aconteceu a tragédia, familiares se emocionavam com as homenagens.

Amigos, pais, mães, irmãos e cônjuges subiram em um palanque e leram cartas, discursos ou dedicaram músicas a seus entes queridos. A tragédia, a maior na aviação civil desde 2007, vitimou 62 pessoas, incluindo Humberto.

Um dos relatos mais fortes foi justamente o de Rosana. Em discurso acompanhado pelo filho do casal, ela destacou que o companheiro tinha sólida experiência na aviação, com permissão para voar desde a década de 1980. “Aviadores não morrem, voltam para casa com as próprias asas”, finalizou ela, sob aplausos em coro.

Foram mais de dez homenagens individuais de familiares das vítimas. Antes, houve um ato religioso, que começou por volta das 9h.

Entre as mais marcantes declarações esteve a leitura de uma carta da família de Lucas Felipe Costa Camargo, que tinha 22 anos quando morreu. O jovem estava no último ano de direito e recém-havia conquistado a licença pela OAB.

“Voar era sua paixão. Seu segundo sonho, seu jeito de tocar o infinito. Hoje, a casa está mais vazia”, dizia o texto.

No fim das falas, a associação de vítimas destacou que “alertas foram emitidos sobre a aviação da Voepass antes da tragédia”.

“Nossa luta é pelos nossos, mas é também pelo futuro de uma aviação mais segura no Brasil”, declarou a associação.

“Mamãe queria te contar que seu desenho favorito ganhou uma integrante nova. A Peppa e o George agora têm uma irmãzinha. Suas amiguinhas do prédio sentem sua falta. Meninas de vários estados formaram um fã clube e um memorial a você”, homenageou a jornalista Adriana Ibba, que perdeu a filha, Liz, de três anos.

O pai da comissária Débora Soper, Luiz Francisco Soper, 75, disse que ela era sua grande parceira. “Realizou o sonho que eu sempre quis realizar, de trabalhar na aviação civil. Eu não consegui, mas a formei para isso. Ela havia acabado de mobiliar o apartamento, ia me apresentar no Dia dos Pais, mas não deu tempo. É difícil expressar o que sinto”.

Autoridades presentes também foram homenageadas pelos familiares. Elas receberam placas de homenagem das mãos dos familiares. Entre eles estavam membros da Polícia Federal, do Cenipa, da Defesa Civil de Vinhedo e do Corpo de Bombeiros.

Ao término da homenagem, os familiares plantaram uma árvore em memória às vítimas.