SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O Corinthians enfrentou uma turbulência para a implementação da biometria facial na Neo Química Arena, que gerou prejuízos, atraso e desgaste com uma empresa parceira de longa data.

A reportagem teve acesso a um relatório técnico, produzido pelo departamento de TI, que explica como a gestão Augusto Melo atrasou e encareceu a implementação da biometria na Arena. A Lei Geral do Esporte obriga, desde junho de 2025, o reconhecimento facial em estádios com mais de 20 mil lugares para aumentar a segurança e agilizar o acesso dos torcedores.

Em janeiro de 2025, o departamento de TI emitiu um alerta à diretoria sobre o risco de descumprimento da legislação. A recomendação interna era manter a parceria com a Ligatech, que já atua no clube há anos, e possui integração com a plataforma de ingressos Onefan.

A Ligatech se comprometeu a investir em novos equipamentos de reconhecimento facial no estádio, no clube social e CT. O contrato estava pronto para ser assinado, com aval técnico e aprovação prévia do compliance e do Conselho de Orientação (Cori).

Em 27 de janeiro, Augusto Melo, presidente afastado, demitiu o diretor de TI, Marcelo Munhoes, por insistir nessa recomendação, segundo o relatório.

No dia seguinte, a diretoria jurídica cancelou as tratativas e determinou que, caso o contrato com a Ligatech fosse assinado, o serviço de reconhecimento facial fosse retirado do escopo. O pedido de cancelamento consta em trocas de e-mails aos quais a reportagem teve acesso.

A antiga presidência determinou que parte dos equipamentos adquiridos pela Ligatech fosse devolvida – à época, a parceira investiu cerca de R$ 589,5 mil na compra e adaptação das catracas para Arena e Parque São Jorge.

Pouco tempo depois, em abril, Melo firmou contrato para o reconhecimento facial com outra empresa, a Bepass. A decisão contrariou as recomendações técnicas e gerou duplicação contratual. A operação, que poderia estar centralizada na Ligatech, foi dividida sem justificativa técnica ou administrativa formalizada.

Com o afastamento de Augusto, o presidente interino Osmar Stabile recolocou Munhoes no comando do TI e retomou com a Ligatech. Em junho, a nova gestão rescindiu o contrato com a Bepass -que aceitou o distrato sem multa e de forma amigável – e unificou os serviços com a antiga parceira.

O sistema de biometria foi implantado em tempo recorde, evitando que a Arena tivesse sua capacidade reduzida para 19.999 torcedores. Quatro partidas já foram realizadas com a nova tecnologia, que apresentou índice de falhas inferior a 0,2%.

Em nota, Augusto Melo disse que a Ligatech não mandou orçamento para o Corinthians e que Munhoes negociou com a empresa sem conhecimento do presidente.

“A BePass foi a empresa escolhida por oferecer o melhor contrato e as menores taxas para o Corinthians. A LigaTech cobra 21%, já a BePass cobrava apenas 6% […] O contrato com a BePass foi assinado e a gestão interina fez questão de ignorar a empresa por uma semana antes de encerrar o contrato, para fechar com uma empresa já ligada à gestões anteriores e com sérios problemas”, disse Augusto Melo, em nota.

UNIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS GERA ECONOMIA

Com a unificação dos serviços, o Corinthians derrubou a duplicidade contratual e economizou R$ 365 mil. A centralização do projeto na Ligatech evitou pagamentos paralelos e reduziu custos. O valor economizado até agora corresponde ao que seria gasto com a Bepass para processar as 281.333 faces cadastradas.

Segundo o relatório, a projeção de redução anual é de até R$ 4,5 milhões, pois considera a eliminação de equipes e sistemas duplicados, a diminuição de despesas operacionais e a vantagem de negociar com um único fornecedor que já havia arcado com o investimento inicial.

O QUE DIZ O CORINTHIANS

“A gestão do presidente Osmar Stabile abraçou o projeto do reconhecimento facial entendendo a importância de adequar-se à Lei Geral do Esporte e não sofrer punições como a redução da capacidade de público na Neo Química Arena.

Em um primeiro momento, negociou a rescisão de contrato com a empresa escolhida pela gestão anterior sem custos ao Corinthians.

Paralelamente, iniciou o projeto de implementação do reconhecimento facial com a empresa atual entendendo ser a única forma de atender os prazos requisitados pelas autoridades.

O Corinthians superou a marca de 290 mil cadastros de face na sua base, tendo diminuído a ação de cambistas e registrado aumento de mais de 20 mil adimplentes ao programa Fiel Torcedor, sanando uma reclamação do torcedor que não conseguia comprar ingressos.”

O QUE DIZ AUGUSTO MELO

“Desde o início do mandato do presidente Augusto Melo, o reconhecimento facial foi pauta e prioridade. Todas as tratativas e licitações para esse serviço ficaram por conta de Fred Luz, que recebeu orçamentos de sete empresas.

A LigaTech não esteve na lista e o ex-funcionário Marcelo Munhoes realizou todas as negociações com a empresa sem a anuência do presidente Augusto Melo e de Fred Luz.

A BePass foi a empresa escolhida por oferecer o melhor contrato e as menores taxas para o Corinthians. A LigaTech cobra 21%, já a BePass cobrava apenas 6%. A negociação, como em todas realizadas pela gestão, foi feita pelo presidente, depois entregue ao financeiro, jurídico e compliance.

O contrato com a BePass foi assinado e a gestão interina fez questão de ignorar a empresa por uma semana antes de encerrar o contrato, para fechar com uma empresa já ligada à gestões anteriores e com sérios problemas.”